Na noite de quinta-feira passada, a TV Band Natal deu a largada na campanha para prefeito de Natal, com o primeiro debate entre os candidatos. O interessante é que o vencedor do debate terminou sendo o ausente, o ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD), pois foi o nome mais citado pelos candidatos Paulinho Freire (União Brasil), Natália Bonavides (PT) e Rafael Motta (Avante).
Em vez de focar o debate nos reais problemas da cidade, os candidatos Paulinho Freire, Natália Bonavides e Rafael Motta se preocuparam em desconstruir a imagem de Carlos Eduardo, citando-o a todo momento. A ausência do ex-prefeito foi o foco dos três candidatos que preferiram fulanizar o debate. Perderam a oportunidade de criar empatia com os telespectadores, mostrando suas propostas. Fizeram propaganda de graça com o nome de Carlos Eduardo, quando desconsideraram aquela história “falem de mal, mas falem de mim”.
O candidato Paulinho Freire foi para o debate como se estivesse engessado num paletó de madeira. Parecia aqueles bonecos artesanais trapezistas, que se compra nas feiras livres. Treinado para o debate, Paulinho passava a imagem daquele aluno que decorou o texto e foi para uma prova oral e, diante do professor, queria repetir “ipsis litteris” o texto que decorou para a avaliação.
O candidato Rafael Motta, quarto colocado nas pesquisas, jogou fora a oportunidade de se destacar diante de Paulinho e Natália, ao querer ser a palmatória do mundo. Ansioso, passava nervosismo cada vez que perguntava e respondia. Em vez de chamar Paulinho e Natália para debater no campo das ideias, se perdeu atirando para todos os lados, como metralhadora giratória sem alvo.
Já a candidata Natália Bonavides, mostrou que é boa no debate: procurou gerar empatia com o telespectador, tratou de fatos concretos e problemas. Mas também se perdeu, procurando desconstruir Carlos Eduardo, ao colocar os problemas de Natal como se fossem responsabilidade compartilhada entre ele e Álvaro Dias. Ora, Carlos Eduardo está fora da prefeitura há seis anos. O responsável pela cidade e seus problemas e soluções é Álvaro Dias. O eleitor sabe disso, e não é à toa que Carlos Eduardo lidera, com larga vantagem, mais de 50 pesquisas.
Por fim, quem é do ramo da política, da comunicação e do marketing sabe que candidato que lidera pesquisa com folga não vai a debate. E chamar candidato de fujão não altera em nada o comportamento do eleitor. Não foi Carlos Eduardo quem inventou a ausência em debate político. Ausente, sem dizer uma única palavra, Carlos Eduardo venceu o debate. Qualquer candidato que não citasse Carlos Eduardo uma única vez e tratasse apenas dos problemas de Natal teria se destacado no debate da Band.
Fora da arena da Band Natal, na arena das redes sociais, os bolsonaristas criticavam a ausência de Carlos Eduardo, esquecendo que o líder deles em 2018 foi eleito presidente sem ir a debates. Em 2022 foi aos debates e perdeu para Lula. Um fato curioso é que os jornalistas da Band falaram mais do que os candidatos, ao oferecerem de 30 segundos a um minuto e meio para perguntas e respostas. Precisa-se rever e mudar as regras dos debates, para garantir mais tempo para os candidatos, colocando-os no centro do palco.
Sávio Hackradt é jornalista e consultor político