Na segunda-feira passada, Natal viveu o seu dia de Sucupira, a cidade d’O Bem Amado, primeira telenovela a cores da televisão brasileira, exibida no ano de 1973 pela Rede Globo. Em toda a trama novelesca, o prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, usa de seus artifícios para ludibriar o povo e aumentar sua popularidade. Na Sucupira da novela, o prefeito tem como meta a inauguração de um cemitério. O único problema é que ninguém morre na pequena cidade, o que o leva a criar situações para que isso aconteça.
A história central da novela é baseada na peça teatral “Odorico, o Bem-Amado”, escrita na década de 1960 por Dias Gomes, também autor da trama exibida na Rede Globo. A novela reuniu nos seus principais papéis atores e atrizes do mais alto nível da dramaturgia brasileira, como Paulo Gracindo, Lima Duarte, Emiliano Queiroz, Jardel Filho, Sandra Bréa, Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio.
Pois bem, 51 anos depois da exibição de O Bem Amado, Natal se transforma em uma caricatura de Sucupira, com a inusitada e intempestiva ação do prefeito Álvaro Dias (Republicanos), na última segunda-feira. Liderando um movimento de invasão ao Idema/RN (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte), ao lado de ocupantes de cargos comissionados da prefeitura, de vereadores que apoiam a atual administração e do candidato oficial do prefeito à sua sucessão, o deputado Paulinho Freire (União Brasil), o prefeito de Natal quis “botar de lado os entretantos e partir logo pros finalmentes”.
Numa atitude puramente eleitoreira, prefeito, vereadores e candidato Paulinho Freire demonstraram destempero e despreparo político, ao irem para a frente do Idema, vociferar contra a instituição, faltando apenas usarem o bordão sucupiriano “Isto deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta”. Depois adentraram o Instituto, cobrando a licença definitiva necessária por lei para o início da obra da engorda na praia de Ponta Negra, o principal cartão postal turístico da cidade.
O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo em que o Poder Público realiza análises técnicas para autorizar atividades potencialmente nocivas ao meio ambiente, mas o prefeito e seus aliados querem transformar este processo num palanque eleitoral. Por outro lado lado, o Idema, órgão do governo do estado liderado pelo Partido dos Trabalhadores, que tem também uma candidata à prefeitura de Natal, a deputada federal Natália Bonavides (PT), vem empurrando com a barriga e sem transparência, a liberação da licença definitiva da obra que, pelo jeito, como dizia Odorico Paraguaçu, “entrará para os anais e menstruais de Sucupira e do país”.
Um jogo político de empurra empurra, para lá e pra cá, que só prejudica a cidade e os natalenses. É só politicagem. Lamentável que a prefeitura tenha esperado o ano eleitoral para se posicionar em relação aos trâmites a serem cumpridos para a autorização final de uma obra de tal envergadura. Mas “deixemos os pratrasmente e vamos aos prafrentemente”. Se o foco da obra é favorecer o turismo, é preciso sim considerar o impacto nas correntes marítimas, da retirada da areia para a engorda de Ponta Negra. Não se trata de não fazer, mas de fazer a obra de modo a não criar outro problema, que impeça o objetivo principal, de viabilizar o turismo em Ponta Negra e no litoral potiguar.
Se o Idema não pode e nem tem o direito de protelar decisões técnicas sob qualquer motivação política, “talqualmente”, a prefeitura não pode querer que pressão política em época eleitoral passe por cima de decisão técnica. O lamentável episódio da prefeitura de Natal x Idema é a fotografia do amadorismo, do despreparo e do improviso das gestões públicas. E viva Sucupira!