Fim de campanha, tem início uma dolorosa ou festiva fase em que se atribui culpa ou vitória a alguns profissionais. Publicitários, pelas óbvias razões dos ossos do ofício, quase sempre colhem as culpas da derrota ou o triunfo do sucesso da sua clientela. O que, convenhamos, é uma injustiça ou uma hipervalorização dos dotes desse profissional.
A maestria com que se faz a comunicação de uma campanha apenas explica parcialmente o triunfo nas urnas, pois há outras variáveis que servem de referência para as estratégias dos candidatos, especialmente a carreira política e as condições sociais e econômicas do contexto.
Partidos importam – detêm o monopólio da representação política e os recursos públicos de financiamento das candidaturas -, assim como as pesquisas, o “sistema nervoso das campanhas” cuja importância se faz sentir ainda no primeiro turno das majoritárias, quando estimulam o voto estratégico baseado nas chances dos oponentes e na preferência e rejeição dos candidatos competitivos.
Ademais, candidatos, assim como os produtos, têm que despertar emoções e ter relevância direta para o cotidiano das pessoas, de outra forma não são convincentes para mudar a disposição dos eleitores.
Vê-se, portanto, que a tarefa de persuadir é árdua, considerando-se que a propaganda política não é totalmente livre, mas regulada por regras e orientações que buscam manter as manifestações dos candidatos dentro de parâmetros de igualdade, integridade e equilíbrio.
Tal missão se torna mais desafiadora quando levamos em conta que a propaganda política também abriga regras mais intuitivas, a exemplo do manejo de recursos retóricos inseridos em estratégias provocativas que buscam fixar um diferencial nas atitudes e opiniões defendidas por um dos polos e combatidas pelo outro.
Na dependência do contexto, o exercício do juízo crítico de lado a lado quase sempre resvala, em menor ou maior grau, no radicalismo, na polarização acirrada e hostil, aspectos que nem sempre conseguem satisfazer ou unanimar os eleitores de cada polo.
Dito isso, assunto para outro texto despretensioso, há que se relevar o mérito dos estrategistas do marketing político que, no uso de técnicas de persuasão e mobilização, promovem uma competição racional, planejada e criativa, cujo foco é ampliar as vantagens competitivas dos seus candidatos. Esses profissionais sempre levam em conta as flutuações nas intenções de voto, pois, até em contextos fortemente bipolares, promover um pequeno deslocamento das intenções para um candidato pode decidir uma eleição. Para tanto, jamais subestimam o papel das emoções no processo decisório do voto.
Entre nós, podemos contar nos dedos estrategistas políticos memoráveis que deixaram um legado de lições para as gerações que os sucederam.
Destaco Aluízio Alves, líder nato e carismático, como o prodigioso e intuitivo precursor. Talento precoce do jornalismo e da política, pautava suas campanhas pelo entusiasmo e apelo emocional da esperança e dos sentimentos positivos, estimulando a participação dos adeptos – sua “gentinha” – e influenciando a opinião pública.
Seus comícios e vigílias arrebatavam multidões, ao passo que os jingles e músicas de campanha tinham o extraordinário condão de transmitir, de forma compreensível, da síntese programática à trajetória política do candidato AA. Tais pérolas de comunicação se celebrizaram e até hoje persistem na memória de quem vivenciou a efervescência política da época.
Cassiano de Arruda Câmara, o nosso mais ilustre jornalista vivo, foi decisivo para o sucesso de majoritárias inesquecíveis dos anos 80 e 90, sobretudo as do ex-governador e ex-senador José Agripino Maia. Amante do próprio ofício e dotado de atributos como criatividade, inteligência e capacidade estratégica, imprimiu marcas indeléveis no jornalismo potiguar, em especial com sua longeva coluna Roda Viva, no Diário de Natal, e introduziu padrões de comunicação através de suas agências, os quais foram tomados como exemplos pelos jovens profissionais.
Hoje, ainda contamos com bons jornalistas, publicitários e estrategistas eleitorais, mas até eles hão de convir que passou o (bom) tempo em que o eleitorado costumava ser tratado com mais dignidade por uma comunicação criativa e inspiradora, sem a manipulação dos mecanismos ocultos dos algoritmos e os modos de pensar homogêneos e medíocres dos repetidores de conteúdo.