BUSCAR
BUSCAR
Artigo

Espírito de pavão

Confira o artigo de Bruno Araújo nesta sexta-feira 28
Bruno Araújo
28/02/2025 | 06:00

O pavão é um animal emblemático que chama atenção, antes de tudo, pela sua aparência. As “centenas” de olhos que carrega em sua falsa vigilância eterna são apenas um dos diversos apetrechos naturais que o fazem ostentar o simbolismo de orgulho e vaidade. Dos mitos ao mundo real, sua figura é sempre lembrada quando se vê necessário resumir uma conduta narcisista ou mesmo associar a um personagem que se autointitula superior a tudo e a todos. O mundo existe para abraçar aquela existência e não o naturalmente oposto.

Chineses, indianos, tailandeses, egípcios, persas, gregos, entre Ocidente e Oriente, associaram o misticismo presente em um animal incrivelmente belo ao divino. Símbolo do infinito, do eterno, do solar. A representação mais popular no Ocidente, talvez seja a da carruagem da deusa mitológica grega Hera puxada por pavões. Ou mesmo o céu noturno estrelado assemelhado aos padrões da plumagem do animal que ganhou os olhos do titã Argos.

pavao f 1141x
Pavão. Foto: Reprodução

A magia, beleza e misticismo que cercam o animal são mais do que conhecidos. Mas o próprio comportamento dele, autoconsciente da curiosidade que desperta no seu entorno, é caso para o divã moderno com Freud e os que vieram a seguir na psicanálise e outros estudos sobre a mente humana. A exuberância é uma característica natural. Tamanho, porte, cacarejar, plumagem e padrão das penas são componentes que servem ao ego do pavão.

Ouriçar-se é a necessidade patológica de impor, fazer-se soberano sobre os demais. O som do próprio piado é inebriante para si. Saracotear asas, penas e calda é enaltecer as características que julga serem as que o faz senhor do poleiro imaginário da existência. E não importa se a ocupação é metafísica, passada ou presente. O entendimento é de que os córregos pelos quais correm as águas do destino devem ser comandados sob sua ciência, seu bater de asas e ritmo que deseja.

Sua característica territorialista o impede de dividir espaço com outro da mesma espécie. Rejeita, inclusive, animais diversos. O espaço é seu. Arredios, não querem dividir. Não permitem compor – exceto, nos casos raros, em que a composição favoreça a exposição das suas penas ilusórias. Esse espírito é algo absolutamente comum em uma das atividades humanas mais antigas da história. E se eventualmente pensou na política, acertou.

Certamente, após a breve leitura do texto acima, você deve ter pensado em ao menos um nome que se enquadre na descrição e represente este espírito, esteja ele no Olimpo de um Senado ou em negação pelo seu voo ter se encerrado à beira do precipício do ostracismo da vida pública. Então, sempre que olhar para um político, observe qual a prioridade dele. Falar por si ou pelo outro? Agir para parecer ou para ser? É mais fácil do que parece. Uma entrevista ou uma publicação em rede social é mais do que suficiente para revelar.