Um dos aprendizados naturais que o tempo oferece a qualquer estudante de jornalismo que alcança a redação ou mesmo as salas de assessoria de comunicação é de que a imparcialidade jornalística é uma quimera a ser perseguida e que, invariavelmente, nunca será alcançada. É o movimento de busca por ela que torna as publicações mais justas e mais próximas da realidade dos fatos em si. O grande ativo da empresa jornalística e do profissional é a confiança que consegue estabelecer com o cidadão a partir daquilo que publica – ou que deixa de publicar. Jornalismo, ao rigor do exercício, não esconde ou escolhe fato, em benefício do que ou de quem quer que seja.
Em período de campanhas eleitorais, a impressão é de que a prática do jornalismo ganha licença poética para fugir ao seu intento de mediador entre a vida que acontece todos os dias e as pessoas que desejam estar informadas. São pesquisas eleitorais favoráveis que conquistam as manchetes em detrimento de outras não interessantes ao candidato ungido e que acabam esquecidas na caixa de email. Um consórcio informal construído para desconstruir. Interesses que ultrapassam a missão de informar com o objetivo de eleger.
Seja no jornalismo de campanha, seja no jornalismo baseado em fatos e evidências, não há imparcialidade. Em ambos, a escolha de palavras, a construção entre as frases, as preposições aqui ou ali e mesmo a declaração escolhida para compor o texto jornalístico retém um pouco de quem escreve, o que exorciza a impessoalidade desejada.
Contudo, no primeiro caso, é o jornalismo culposo que chama atenção , aquele em que não há intenção de informar. E sim, conturbar e direcionar a opinião pública. Informações sem o contexto que possibilite sua interpretação. Não oferecer ou mesmo negar voz a partes envolvidas nos fatos. E mesmo a escolha de não publicar algo porque fere direta ou indiretamente o preferido contrariando o interesse público da informação também é jornalismo de campanha.
Até que cheguem ao fim as eleições em Natal, ainda assistiremos muita tortura à prática jornalística. Mas isso não significa que o jornalismo morreu. Significa apenas que a concentração dos meios de comunicação tradicionais nas mãos de poucos continua a ser um dos principais venenos à democracia.
Ah, mas as redes sociais democratizaram o acesso à informação. De fato, se não houvesse um algoritmo, uma inteligência programada por trás da máquina que foi alimentada para agir de acordo com os interesses de seu controlador. É neste contexto que entra o debate sobre a regulação das mídias, por exemplo.
O jornalismo, o ato de informar, tem um quê de nobreza e, por isso, deveria ser exercido e motivado como missão. Ainda que política, ainda que com lado, uma missão que deve ser conduzida sem enganar, ocultar, tergiversar. Do contrário, não se pratica jornalismo, se faz campanha.
Bruno Araújo é jornalista, escritor e especialista em Comunicação Pública
