Conta a lenda urbana moderna da tradicional praia da Redinha, no litoral do Norte do RN, que uma das nossas iguarias culinárias mais famosas ganhou seu nome em função da ginga apresentada enquanto era retirada do mar na rede de arrasto. Ganhou a companhia da tapioca e virou ambrosia. Alimento dos deuses entregue aos homens pela generosa Iemanjá. A mesma benção, entretanto, não parece ter sido oferecida quando o assunto é a conclusão, efetiva, dos projetos erguidos pelos prefeitos em Natal. O exemplo mais recente? O novo mercado da Redinha.
Uma obra com o custo de R$ 25 milhões fechada apenas um mês após inauguração e início do funcionamento. A justificativa é que o edital de licitação para a concessão do espaço não contou com interessados. E até que o novo edital seja lançado e a concessão seja efetivada, o espaço permanecerá fechado. A primeira pergunta que fica é sobre o planejamento antes de se realizar uma obra milionária, se não há um estudo básico de viabilidade econômica para construção do edital de concessão. Quanto à licitação “deserta”, são questões pontuais do edital ou da viabilidade do negócio no modelo proposto pela gestão do prefeito Álvaro Dias?
O Mercado da Redinha, entretanto, não é um problema pontual. É mais um episódio de um histórico da corrida pelos “louros políticos” das inaugurações “precoces”. A própria engorda – extensão da faixa de areia – na praia de Ponta Negra serve de exemplo. Aos trancos e barrancos, a obra foi executada e inaugurada apoiada em um decreto de emergência para então ignorar questionamentos feitos por órgãos de fiscalização. A resposta veio dos céus. Pouca chuva o cenário se mostra impraticável para turistas, banhistas e comerciantes em alguns trechos.
Poderíamos citar outras tantas obras com perfil semelhante. O Mercado das Rocas, inaugurado algumas vezes, e ainda com funcionamento muito aquém da sua capacidade. As obras da Av. Jerônimo Câmara, por exemplo, ultrapassaram a marca de 10 anos e ainda seguem sem prazo de conclusão. A previsão original era que estivessem prontas para a Copa de 2014 na capital potiguar. Não há novidade alguma na lista acima. E esse é o grande problema. Ano após ano, a capital potiguar continuar a empilhar obras sem concluí-las ou conclui e deixa uma “caixa de pandora” para o gestor seguinte.
O prefeito Paulinho Freire é mais um que assume com a oportunidade de ouro de quebrar o ciclo. Interromper essa sequência de ações que alimentam não apenas a descrença do cidadão na política e nos políticos, mas que esvazia cofres públicos e, consequentemente, serviços públicos que poderiam ser irrigados com os recursos desperdiçados em novas obras sem que as anteriores tenham sido concluídas. Estamos esperando a ginga do novo prefeito.
Bruno Araújo é jornalista, escritor e especialista em Comunicação Pública
