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Coluna

Espelho, espelho meu

Confira a coluna de Bruno Araújo deste fim de semana 25 e 26
Bruno Araújo
25/05/2024 | 07:51

Quando se olha no espelho, o que você vê? Já lhe ocorreu transformar o espelho num interlocutor despretensioso e questioná-lo sobre a intensidade de uma característica que é peculiar a você? Imagine o pré-candidato a prefeito de Natal, o deputado federal Paulinho Freire (União Brasil). Diante do espelho, ele dispara o questionamento formulado nas tradicionais palavras: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais de Centro do que eu?”

O reflexo do espelho, um escravo da verdade que reflete apenas aquilo que vê, responde sem muita cerimônia e algum chiste na voz: “Meu senhor, existe e cada vez mais pela sua vontade de parecer um servo bolsonarista.” Há uma tentativa permanente de, em meio ao risco de uma campanha polarizada entre esquerda e direita pelo lado do eleitor, de buscar um suposto caminho do meio, ou seja, o centro.

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Homem se olhando em espelho - Foto: Reprodução

O ex-pessebista, agora PSD, Rafael Motta, tentou transformar uma antiga aliada de palanque, a também pré-candidata Natalia Bonavides, em extremista para surfar um espectro maior do eleitorado. Agora, o ex-senador José Agripino, em entrevista ao jornal Agora RN, defende Freire no espectro de Centro, apesar do amplo esforço do deputado federal em colocar o outro pé na canoa da extrema-direita representada pelo Bolsonarismo. É verdade que Paulinho era visto como um político moderado, mas o comportamento recente é de “centrão não-praticante.”

Após meses com votos em favor do Governo Federal, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal decidiu mudar o chip e atuar em acenos ao bolsonarismo com gestos que vão desde a assinatura ao pedido de impeachment de Lula até a votar contra a manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brasão (sem partido), apontado como um dos mandantes dos assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes.

Ao longo da história, tem se provado importante na política e para os eleitores a firmeza naquilo que se representa, de fato. O sucesso eleitoral, especialmente nas disputas mais acirradas, estará em como os eleitores se conectaram com a autenticidade do candidato e da mensagem que ele carrega consigo. Sinais confusos vindos do palanque e de seu entorno pode criar naquele que depositará o voto na urna a percepção de ausência de identidade do candidato ou pior.

A máxima de que a “a política ama a traição e odeia o traidor”, cunhada pelo líder trabalhista e ex-governador pelo PDT, Leonel Brizola, pode se materializar no coração de correligionários e eleitores que venham a acreditar em uma das facetas apresentadas até aqui e, ver num momento mais agudo do processo eleitoral ou mesmo depois, que não era apenas uma crise de identidade. Era puro oportunismo para ganhar a eleição às custas da confiança de terceiros. Dito isso, pode até ser que Agripino venha a estar certo. Mas não é o que o espelho mostra hoje.