A estratégia montada pela equipe de marketing do candidato ao Senado Rogério Marinho (PL), após o adversário Carlos Eduardo Alves (PDT) ter entrado com ação na Justiça Eleitoral o acusando de abuso de poder – o que acabou gerando uma violenta resposta de prefeitos – pode prejudicar, ironicamente, o próprio Rogério.
Ao estimular os prefeitos a criarem um conceito inverídico sobre a ação, espalhando a mentira de que o processo visa impedir a chegada de recursos aos municípios, a campanha de Rogério Marinho acabou insuflando o debate sobre a origem das verbas encaminhadas aos prefeitos – o que desnuda o escândalo do orçamento secreto.
Graças ao orçamento secreto, os orçamentos do Ministério do Desenvolvimento Regional e da Codevasf foram turbinados. O passo seguinte, como aponta ação de Carlos Eduardo, foi distribuir dinheiro para municípios. Como falta transparência ao orçamento secreto, muitas dúvidas e questões acabaram sendo levantadas a respeito dos critérios estabelecidos para os envios.
A exposição feita pelos prefeitos, aliás, confirma os argumentos de parte da ação. De alguma forma, os gestores apontam que só passaram a apoiar a candidatura de Rogério após terem recebido verbas. E, como o orçamento é secreto, não dá para saber quem destinou originalmente o recurso nem se as políticas públicas foram atendidas.
Com o orçamento secreto, bases eleitorais do bolsonarismo passaram a ser irrigadas com recursos sem a devida transparência, atropelando a burocracia e deixando um rastro de processos mal feitos. Não há planejamento adequado nem projeto que aponte realmente se determinado investimento encontra amparo no interesse público. Isso sem falar nos indícios de corrupção que começam a aparecer, através da inspeção nas verbas da Codevasf.
As perguntas que ficam são: afinal de contas, quais os critérios foram levados em consideração para que os recursos tenham sido destinados por Rogério Marinho? Por que municípios com menor população receberam mais recursos do que cidades mais populosas? Quais estudos embasaram a destinação da verba? Como responder aos indícios de que prefeitos aliados do bolsonarismo são mais beneficiados do que os da oposição? Por que alguns prefeitos só anunciaram apoio após receberem recursos? Qual a origem da verba? Qual deputado destinou?
São questões que surgem e remetem a uma discussão oportuna no debate eleitoral, que podem se voltar contra Rogério – que, até agora, conseguiu manipular a narrativa ao seu favor, amparado na ignorância de alguns que acreditam que a ação de Carlos Eduardo realmente visa a impedir o envio de verbas. Pelo contrário. Quanto mais, melhor. Desde que seja com critérios, razoabilidade, proporcionalidade e em atenção ao interesse público.
A reação dos prefeitos bota mais lenha na fogueira e atiça ainda a curiosidade sobre as questões postas. O tiro de Rogério pode sair pela culatra.