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Crispiniano Neto

Uma camarilha ‘pra lamentar’

Confira a coluna de Crispiniano Neto desta sexta-feira 7
Crispiniano Neto
07/06/2024 | 07:37

Política é a essência do processo civilizatório, e o parlamento é seu charme maior. Antes da política, era a guerra, maldição que sempre volta à baila quando a política sucumbe em seus efeitos.

O verbo parlamentar define o ato de realizar acordos através de negociações, de conversas.

Prédio da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN). Foto: José Aldenir/Agora RN.
Uma camarilha ‘pra lamentar’ - Foto: José Aldenir/Agora RN

Pelo parlamento brasileiro passaram ilustres intelectuais, oradores brilhantes, formuladores e fabricantes de leis que deram norte à vida democrática brasileira. Gênios como Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, só para ficar em dois luminares. Também tivemos momentos e figuras estranhas, antiparlamentares, sem estofo ético, praticantes da ação antiparlamentar.

Há poucos anos vimos Pedro Simon, grande parlamentar gaúcho apavorado com ameaças de Collor de Mello no plenário do Senado, quando, como diria minha mãe no mais puro idioma “Saltooncês”, “só não o chamou de carne assada”. Dedo em riste, olhos vermelhos, esbugalhados, o mínimo que fez foi chamá-lo de parlapatão, impingindo a Simon tudo o que ele próprio é: “Aquele que se vale de embustes, de contar mentiras e vantagens; fanfarrão”. Simon, beirando os oitenta anos, depois confessou a amigos ter tido muito medo. Lembrava o pai de Collor que, naquele mesmo plenário em 4 de dezembro de 1963, assassinou a tiros de revólver o senador acreano José Kairala, quando tentava matar seu desafeto alagoano, o também senador Silvestre Péricles. E o que é pior: foi preso, mas saía para continuar assistindo às sessões, pois não foi cassado.

A Câmara Federal na década de 1950 conheceu o esdrúxulo Tenório Cavalcanti, “homem da Capa Preta”, também alagoano, mas deputado pelo Rio, que frequentava o plenário armado e mandava matar inimigos. Numa sessão, ao fazer acusações ao presidente do Banco do Brasil, foi chamado de ladrão por Antonio Carlos Magalhães, que sofreu uma vergonhosa crise de incontinência urinária, ao ver Tenório apontar-lhe um revólver, ficando tão ridicularizado que Cavalcanti guardou a arma dizendo que “só matava homens”.

Na Assembleia Legislativa potiguar, meu conterrâneo Coronel José Lúcio respondeu críticas de colegas arregaçando a manga do paletó e dizendo: “Aos que estão galhofando da minha pessoa, aviso que nunca desci esse tronco de baraúna no pé-de-ouvido dum fíe duma égua pra não ver a queda”…

É esse parlamento da truculência, da estupidez, da lacração que o bolsonarismo trouxe de volta ao Brasil, com deputados desqualificados como o histriônico Zé Trovão, o histérico delegado Eder Mauro, o atropelador Gustavo Gayer, o molecote Nikolas Ferreira, parlapatões que transformaram sessão da Comissão de Ética da Câmara Federal, onde se julgava um processo contra André Janones, num ringue de ponta de esquina, fazendo da Casa das Leis, um antro sem leis, uma “Casa de Mãe Joana”…

Enfim, uma camarilha que assalta a Câmara e transforma o Lar da Democracia num covil “pra lamentar”.