Com o encerramento das eleições de 6 de outubro nos municípios onde não haverá segundo turno, inicia-se um período crítico para os prefeitos e prefeitas eleito(a)s. O processo de transição administrativa, que ocorre entre a gestão que encerra e a que assume, é fundamental para garantir que o novo governo comece com o pé direito. Em um cenário ideal, esse processo é marcado por planejamento, levantamento de dados e organização, mas, na prática, pode enfrentar inúmeros desafios, especialmente quando envolve adversários políticos.
A transição administrativa é o momento em que os eleitos têm a oportunidade de analisar a estrutura financeira, jurídica e organizacional do município que irão comandar a partir de janeiro. A importância desse processo é incontestável, uma vez que as primeiras medidas de uma gestão muitas vezes dependem de um planejamento anterior. Isso significa que o novo prefeito precisa estar munido de informações precisas sobre contratos, convênios, estado das finanças, saúde, educação, obras em andamento e outros setores vitais. Sem esse diagnóstico detalhado, as decisões podem ser tomadas de forma tardia ou equivocada, gerando impactos negativos para a administração.
Medidas essenciais, muitas delas de caráter impopular, costumam ter um “timing” ideal para sua implementação. A chamada “lua de mel” entre o novo gestor e o eleitorado nos primeiros dias de mandato permite ao prefeito tomar decisões difíceis, como ajustes fiscais ou mudanças estruturais, sem grande resistência. No entanto, se a transição não for bem conduzida, essas ações podem ser postergadas, aumentando a dificuldade de sua execução e o desgaste político.
No entanto, a transição entre gestões nem sempre é tranquila. Quando realizada entre adversários políticos, há casos em que a administração anterior resiste em fornecer informações ou as disponibiliza de maneira incompleta. Em situações assim, é comum que a equipe do prefeito eleito recorra a órgãos de controle, como tribunais de contas e o Ministério Público, para garantir o acesso aos dados necessários.
Outro ponto relevante é que a transição envolve múltiplas áreas: saúde, educação, finanças, infraestrutura, entre outras. Cada setor demanda uma atenção específica e estratégias direcionadas, transformando o processo em um verdadeiro desafio logístico. Nesse sentido, a recomendação para os prefeitos eleitos é clara: formem equipes de transição arrojadas e bem preparadas, capazes de montar um plano de ação eficaz antes mesmo da posse, garantindo que o novo mandato tenha um início ordenado e estratégico. Afinal, o sucesso de uma gestão depende, em grande parte, de como se inicia.
Vagner Araujo (@fvagner) é ex-secretário de Planejamento e Finanças do RN
