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‘Porto-Ilha’ do RN vira base para estudos de energia eólica e mira expansão no setor de offshore

A intenção é pelo menos dobrar a área da 'Ilha', atualmente com 38 mil metros quadrados
Redação
21/11/2023 | 15:58

O Porto-Ilha de Areia Branca, responsável pela exportação do sal à granel do Brasil e único terminal offshore do mundo criado para esse tipo de produto, virou base para estudos do SENAI do Rio Grande do Norte (RN) voltados às energias renováveis e já traçou planos de expansão para agregar uma área de apoio logístico à implantação de futuros parques eólicos no mar.

“Hoje, enxergamos uma grande possibilidade de o Porto ser apoio marítimo para o desenvolvimento da indústria eólica offshore na costa do Rio Grande do Norte”, diz o diretor executivo da Intersal, consórcio que assumiu a operação do terminal salineiro há um ano, Valmir Araújo.

Visita Porto Ilha de Areia Branca (11) Crédito Renata Moura
Visita Porto Ilha de Areia Branca - Foto: Renata Moura

A intenção, segundo ele, é pelo menos dobrar a área da ‘Ilha’, atualmente com 38 mil metros quadrados, para incorporar a movimentação também da atividade.

A perspectiva, já apresentada ao governo do estado, foi compartilhada desta vez com representantes de indústrias do estado e integrantes da primeira Missão do Reino Unido ao Rio Grande do Norte com foco em discussões sobre energia eólica offshore.

A programação foi promovida no Porto-Ilha de Areia Branca pela Intersal, em parceria com o SENAI-RN. Projetos previstos e em curso na área foram detalhados aos participantes junto com um balanço das operações relacionadas à atividade salineira.

A ideia, segundo Araujo, não é reduzir o espaço disponível ao armazenamento e escoamento do sal do estado – detentor de 95% da produção nacional do produto – mas implantar uma espécie de anexo à infraestrutura para atender, também, à demanda da nova indústria.

Projeto

O projeto é estimado na casa dos R$ 500 milhões e seria assinado pelo consórcio Intersal com o grupo americano Edison Chouest Offshore.

A estrutura, diz o diretor, seria complementar e não concorrente para o Porto-Indústria Verde que o governo do estado projeta entre os municípios de Caiçara do Norte e Galinhos.

“O projeto que o governo desenvolve é de um porto onde vão ser construídas as estruturas, fabricados materiais. Nós, por outro lado, serviríamos como plataforma de instalação avançada onde o material chega e é armazenado, aguardando o momento certo de ir para o local de instalação”, observa.

“O grande potencial eólico está ao nosso redor, a algumas horas de navegação, e dependendo das embarcações, é possível chegar bem mais rápido até ele. Também estamos próximos a Mossoró, que tem aeroporto, conexão com o resto do Brasil, e enxergamos que tudo isso facilita uma instalação portuária para desenvolver projetos e negócios no seu entorno”, argumenta Araujo.

Expansão

Os planos apresentados pela empresa envolvem a duplicação do Porto-Ilha e a aquisição de guindastes de 500 a 700 toneladas para movimentação de peças e de todo o material necessário à montagem das torres e fundações de futuros parques eólicos. Além do apoio logístico para cargas, a intenção seria oferecer instalações para hospedagem das equipes que atuarão nos projetos.

“Enxergamos nessa plataforma um grande potencial para que sejam estreitadas distâncias para o setor, visto as dificuldades que existem para a chegada dos materiais até alto mar e que nós estaríamos mais próximos das áreas de instalação dos empreendimentos”, explica ainda Araujo.

A 20km da costa de Areia Branca, o Porto, uma “ilha artificial” implantada há aproximadamente 50 anos no mar e, até hoje, único polo de exportação de sal a granel do Brasil, movimenta 2 milhões de toneladas do produto por ano.

No contexto da indústria de energia, a área tem sido utilizada como apoio para estudos do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) com foco no potencial eólico e em pesquisas ligadas a variáveis oceanográficas.

O mar “azul turquesa” que envolve o terminal abriga, com esse objetivo, a BRAVO – Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore – tecnologia desenvolvida de forma inédita no Brasil pela Petrobras em parceria com o ISI-ER e o Instituto SENAI de Sistemas Embarcados. A área também foi escolhida como sede do parque eólico experimental que o SENAI quer implantar como sítio de testes para a indústria offshore.

Potencial

O Rio Grande do Norte é o maior gerador de energia eólica em terra e tem cadastrados para o mar, além do projeto da instituição, nove complexos de geração de energia eólica. Todos os empreendimentos estão à espera de licenciamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A expectativa do mercado é que os primeiros sejam implantados e entrem em operação até o ano 2030.

A potência somada nesses empreendimentos é de 17,84 Gigawatts (GW). O número corresponde a quase 10% do total previsto para o Brasil no offshore e a mais que o dobro da capacidade atualmente instalada nos parques terrestres do estado.

“Nós estamos, neste terminal, no centro da melhor área de produção de energia medida pelo Instituto SENAI de Inovação e entendemos que a perspectiva de transformação do Porto-Ilha em infraestrutura também de operação e manutenção da indústria eólica vem em muito incrementar o ambiente de atração de negócios para o Rio Grande do Norte”, diz o diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello.

A visita ao Porto-Ilha contou com a participação da Cônsul do Reino Unido no Recife (PE), Larissa Bruscky, da gerente de Desenvolvimento de Negócios do Consulado Britânico no Rio de Janeiro, Carolina Silva, e do consultor britânico Leonard Taylor. Também integraram o grupo, além do diretor do SENAI-RN, o responsável técnico do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), Luiz Henrique Guedes, e representantes de indústrias do estado.

Especialista britânico aponta desafios para a implantação dos futuros parques no mar

O consultor Leonard Taylor, que integrou a visita ao Porto-Ilha na primeira Missão do Reino Unido ao Rio Grande do Norte com foco em discussões sobre energia eólica offshore, destacou que “o estado tem grande potencial para a atividade e que infraestruturas como a proposta para Areia Branca são importantes para atender as demandas de instalação e acesso rápido dos futuros parques de energia”.

Ele também pontuou desafios para a implantação do setor no Brasil, incluindo comunicação e engajamento dos stakeholders. “É preciso garantir que a comunicação e a cadeia de suprimentos estejam constantemente em desenvolvimento, com cada um dos elos entendendo a responsabilidade que tem dentro desse projeto inovador”, disse.

Em palestra no “Encontro Brasil-Reino Unido – Oportunidades para a cadeia de energia eólica offshore”, realizado pelo Consulado britânico, em parceria com o SENAI-RN, em Natal, na Casa da Indústria, Taylor já havia chamado a atenção na semana passada para desafios logísticos relacionados à atividade. “É preciso estabelecer a logística, o transporte e a infraestrutura para apoiar a cadeia de suprimentos”, apresentou ele.

O consultor citou ainda questões como a necessidade de preparação de mão de obra, observando que “a transição da força de trabalho leva tempo, assim como a capacidade de entrega”.

No Reino Unido, ele integrou o Departamento de Negócios e Comércio do governo britânico como especialista do setor e atualmente atua como consultor. “O grande desafio do Brasil vai ser fazer tudo o que se tem estudado para fazer. Transformar isso em prática”, ressaltou Taylor. “O país já tem a teoria montada, já tem elementos de infraestrutura, mas só ao fazer o primeiro demonstrativo vai conseguir enxergar problemas que nem sabia que poderiam existir. E daí vem o aprendizado de como realmente fazer. Há muito mais elementos envolvidos em um parque eólico offshore do que somente turbinas”.

Cooperação

O Reino Unido é líder do setor de energia eólica offshore na Europa e sede do desenvolvimento do maior complexo eólico offshore do mundo. A geração da ‘energia dos ventos’ com turbinas instaladas no mar e a cadeia produtiva em torno dessa indústria existem há aproximadamente 10 anos na região – enquanto no Brasil estão em fase de estruturação.

Os primeiros empreendimentos previstos para a costa do país esperam licenciamento. Parte deles é prevista para o Rio Grande do Norte, estado que já lidera nacionalmente a geração eólica em terra.

“Existem muitas coisas em que o Rio Grande do Norte já está avançado, principalmente na parte da inovação, que é liderada pelo SENAI, mas ainda existem desafios, como a questão da regulação e de criar um ecossistema para isso”, disse, em Natal, a gerente de Desenvolvimento de Negócios do Consulado Britânico no Rio de Janeiro, Carolina Silva.

A cônsul do Reino Unido no Recife (PE), Larissa Bruscky, avalia, por sua vez, que “para qualquer avanço no setor, é preciso haver muita cooperação”. “Eu acho que é o principal ponto, essa troca de experiência”, observa ela.

“O Reino Unido é muito forte em tecnologia e inovação e já está à frente em eólica offshore há alguns anos, então tem muito o que contribuir no que diz respeito a quais foram os desafios enfrentados, os caminhos seguidos, em que momento é preciso começar, por exemplo, a capacitação da mão de obra. Esperamos que essa parceria continue se fortalecendo”.

O Encontro Brasil-Reino Unido foi um dos desdobramentos da Missão internacional que a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN) e o SENAI-RN lideraram em maio deste ano, com o apoio da Embaixada do Reino Unido e do Consulado no Recife.

Iniciada em Manchester e encerrada em Londres, a Missão teve como objetivo conhecer, in loco, a operação da indústria da energia eólica no Reino Unido, prospectar oportunidades de negócios para o estado e mostrar o potencial brasileiro e o potiguar, na área, de olho em possíveis parcerias com empresas e instituições britânicas.

“Esse encontro foi mais um passo importante dessa parceria. O setor de energias renováveis é extremamente relevante e prioritário para o governo britânico, muito no que diz respeito a como a gente consegue colaborar para que o Brasil também avance nesse setor, para que a gente consiga colher frutos no mundo todo na questão das mudanças climáticas e de como mitigar esses efeitos. A gente só vai conseguir isso cooperando”, frisou Bruscky.

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