Nos anos 90, minha amiga Balila Santana, especialista em comunicação, me alertou logo após uma fala pública: “O segredo da comunicação está na simplicidade”. Essa frase mudou minha forma de enxergar e praticar a comunicação. Percebi que passei metade da minha vida aprendendo a falar difícil para ter relevância, mas que agora precisava me dedicar a falar simples para ser compreendido.
Essa lição me fez ‘cair a ficha’ do que rolava quando eu fazia programa de rádio. Pessoas simples me diziam que ouviram o programa e que “falei bonito”. Mas, ao perguntar do que mais gostaram, a resposta era: “Rapaz… eu não entendi direito”. Ou seja, falei bonito, mas não me comuniquei.

Hoje, esse problema de comunicação vai além do uso de vocabulário rebuscado, já combatido em áreas como o Direito. O fenômeno agora é mais grave: a falta de sentido sobre o que é dito. Esse é o verbalismo — o jogo de palavras vazias, clichês sem conteúdo, falas que impressionam mas não comunicam.
O verbalismo está presente em treinamentos empresariais, coachs digitais, entrevistas, legendas no Instagram e discursos sobre empreendedorismo e liderança. Vemos um festival de termos da moda jogados de um lado para o outro, criando a ilusão de profundidade. O truque está na decoração de palavras marcantes combinadas com cenários sofisticados e efeitos audiovisuais. O resultado? Pessoas sem conhecimento dos temas conseguem parecer ‘incríveis’ apenas com seu palavreado.
Para ilustrar, vejamos algumas palavras da moda frequentemente usadas sem que a maioria saiba seu real significado:
- Transformação digital: Pode significar desde digitalização de documentos até revoluções tecnológicas.
- Smart Cities: Conceito vago que mistura tecnologia, gestão pública e sustentabilidade sem especificação.
- Resiliência: Da física e psicologia para a gestão, usada para qualquer coisa que signifique lidar com problemas.
- Governança: Falado em vários setores sem uma definição concreta na maioria das vezes.
- Inovação: Palavra amplamente usada para descrever qualquer mudança, sem um critério claro.
- Narrativa: Empregada para justificar falas, mas muitas vezes sem ligação com fatos concretos.
- Sustentabilidade: Pode se referir a diversos aspectos, mas frequentemente usada como termo genérico sem ações reais.
A lista em que ‘globalização’ já teve seu auge, segue com palavras como compliance, algoritmo, geopolítica, IA e tantas outras. O problema não é a existência desses termos, mas sim seu uso vago ou distorcido, transformando a linguagem em um amontoado de expressões bonitas sem significado real.
Se queremos comunicar de verdade, precisamos resgatar a clareza e a objetividade. A simplicidade é a verdadeira chave da comunicação.