Fui eleito prefeito da minha cidade, Lucrécia, por duas vezes. O primeiro mandato começou em 1997. Antes disso, já tinha sido secretário estadual de Trabalho e Assistência Social, em 1994, no governo de Vivaldo Costa, que sucedeu José Agripino, e delegado do Ministério de Minas e Energia no RN entre 1995 e 1996. Essas experiências me fizeram entender duas coisas essenciais ao assumir a gestão municipal: 1) não podia fazer uma administração “meia boca” diante da expectativa gerada pela minha atuação na gestão estadual; 2) para não falhar, era imprescindível planejar bem. Precisava de um plano.
Com o apoio do SEBRAE, promovemos dois dias intensos de debates com um grande grupo representativo dos segmentos e comunidades de Lucrécia. O objetivo era claro: entender as necessidades, eleger prioridades e estabelecer metas. O resultado foi uma parede cheia de post-its com nossos objetivos – ou melhor, nossos sonhos, pois algumas metas pareciam ousadas demais. Entre elas, saneamento básico para 100% da zona urbana, algo ambicioso mesmo hoje; uma nova rodovia ligando Lucrécia a Umarizal; água encanada em todas as casas das comunidades rurais; zerar o déficit habitacional e substituir as casas de taipa por alvenaria, garantindo que todas tivessem banheiros.
Aquilo virou nosso guia. Fotografamos, anotamos e assumimos como compromisso fixo. Foi o ponto de partida para um esforço coletivo. Cada conquista exigiu trabalho árduo e enfrentamos inúmeros obstáculos. Contudo, o planejamento fez com que as metas fossem abraçadas por todos: vereadores, moradores e lideranças locais. O apoio, por vezes moral, como um simples “vamos conseguir”, mantinha o ânimo.
Ao fim do mandato, para surpresa de muitos, conseguimos realizar todos os objetivos. O que antes parecia devaneio, tornou-se realidade. Como coroamento desse esforço, Lucrécia foi notícia no Jornal Nacional, da Rede Globo, o programa de maior audiência do país na época. Fomos destaque pelo Programa “Três Professores”, uma iniciativa inovadora na educação: além do professor habitual em sala de aula, colocamos mais um para atividades lúdicas, tornando a escola mais atrativa para as crianças, e um terceiro, o Agente Escolar, que ia até as casas dos alunos dar reforço e ajudar os pais a superar problemas que dificultavam a frequência e o aprendizado de crianças com rendimento mais baixo.
Tudo isso só foi possível porque houve planejamento. Dedicar dois dias para mapear necessidades e traçar prioridades fez toda a diferença. Planejar é antever, identificar caminhos e superar obstáculos. Não é complexo, mas exige atitude. Por isso, meu apelo aos novos prefeitos: planejem! Com organização e compromisso, as realizações virão.
Vagner Araujo (@fvagner) é ex-secretário de Planejamento e Finanças do RN