Vivemos em uma sociedade onde “vale o escrito”, mas, paradoxalmente, cada vez menos lemos aquilo que está à nossa frente. O hábito de ignorar documentos importantes, sejam eles relatórios, manuais, contratos ou até bulas de remédio, tem gerado consequências preocupantes. Exemplo emblemático disso ocorreu na Justiça, quando um advogado inseriu propositadamente uma receita de pamonha em uma petição e o juiz não percebeu antes de proferir sua sentença. O magistrado simplesmente não leu o documento.
Casos semelhantes ocorrem diariamente em diferentes contextos. É comum enviar um e-mail detalhado e receber de volta a pergunta: “o que é isso que você me enviou?”. Ou, ao solicitar um serviço via WhatsApp, como “gostaria de agendar a troca dos pneus”, receber como resposta: “você quer trocar os pneus do seu veículo?”. O problema não se restringe ao Brasil ou à América Latina, mas parece ser mais grave em nossa cultura, que muitas vezes despreza a leitura cuidadosa.

O bombardeio de informações superficiais nas redes sociais tem potencializado esse fenômeno. A comunicação rápida, espasmódica e fragmentada treina nosso cérebro para interações instantâneas e rasas, prejudicando a capacidade de interpretação de textos mais densos. O hábito da leitura profunda está sendo substituído pelo consumo acelerado de pequenos trechos de informação, muitas vezes fora de contexto.
As consequências dessa negligência vão além do mero incômodo gerado pelo retrabalho. Em contratos, a falta de leitura pode resultar em prejuízos irreparáveis. No uso de medicamentos, ignorar a bula ou o rótulo pode comprometer a saúde. Ao adquirir produtos sem ler o manual, corremos o risco de usá-los incorretamente ou até danificá-los. Em um mundo cada vez mais dependente de registros formais, não ler o que está escrito é uma falha grave que pode gerar transtornos e consequências.
É fundamental reavaliarmos nossos hábitos. Antes de questionar algo, devemos verificar se a resposta já está no documento. Se o conteúdo for extenso, reservar um momento para leitura antes de decidir perguntar. A leitura atenta não só evita retrabalho e mal-entendidos, como também fortalece nossa capacidade de compreensão e tomada de decisões informadas.
Ler é um ato de respeito, tanto para quem escreveu quanto para quem precisa da informação. Ignorar o que está diante dos nossos olhos é um problema que precisa ser corrigido. Caso contrário, seguiremos guiando nossas ações na escuridão da ignorância, quando a luz da informação sempre esteve ali, acessível porém negligenciada.