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Saúde

Proibido no Brasil, cigarro eletrônico é febre entre jovens de Natal e expõe risco: “Cheguei a vomitar sangue”

Dados do Covitel apontam que o uso de cigarro eletrônico no país é motivado, principalmente, pela curiosidade
Nathallya Macedo
30/09/2023 | 00:30

Cenário que se repete em festas de Natal, o uso do cigarro eletrônico, ou vape, já é frequente entre jovens na capital potiguar – apesar de proibido no Brasil desde 2009. Usuários e ex-usuários do produto relataram ao AGORA RN a motivação e as consequências do uso indiscriminado. Uma delas contou que teve broncopneumonia e chegou a vomitar sangue após dois anos de uso recorrente.

Dados do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) apontam que o uso de cigarro eletrônico no país é motivado, principalmente, pela curiosidade (20,5%). Depois da curiosidade, aparecem motivos como moda (11,6%), porque gosta (11,4%), para acompanhar amigos ou familiares (7,5%) e sabores (6,8%).

Vape/cigarro eletrônico. Foto: José Aldenir/Agora RN
Vape/cigarro eletrônico. Foto: José Aldenir/Agora RN

A pesquisa foi feita pela Vital Strategies Brasil, organização global de saúde, e pela Universidade Federal de Pelotas. Foram entrevistados 9.000 brasileiros de janeiro a abril de 2023 acerca de questões de saúde e de hábitos saudáveis. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais.

A designer Ana Paula* (nome fictício), de 20 anos, contou que começou a usar cigarro eletrônico aos 18 em uma balada conhecida em Ponta Negra, na Zona Sul de Natal. “O pessoal passava vendendo, e eu achava cheiroso e descolado. Foi por curiosidade”, relatou ela. “Comprava o descartável, eram 500 ‘pufs’, ou ‘puxadas’, por cerca de R$ 80. É um gasto grande, e eu saía todo fim de semana”.

No início deste ano, a jovem foi praticamente obrigada a parar de usar o cigarro eletrônico pois foi diagnosticada com broncopneumonia. “Comecei a tossir bastante, fui ao médico e fizemos um raio-x. Ele foi logo perguntando se eu fumava, e disse que meus pulmões estavam afetados. Tive broncopneumonia e cheguei a vomitar sangue”, disse. Ela ainda relatou que, mesmo avisando aos amigos sobre o período de enfermidade, “nenhum deles parou de usar o cigarro eletrônico”.

A designer nunca fumou cigarro convencional. Assim como outro natalense entrevistado para a reportagem. Ele, que preferiu não ser identificado, também não usa cigarro de tabaco: “Via os amigos usando e, por influência, comecei a fumar vape também quando vou para festas. Mas não uso muito, pois a pressão baixa se fumar muito”, relatou o jovem de 20 anos.

Já a estudante universitária Maria Eduarda* (nome fictício), de 21 anos, disse que começou a ter experiências com fumo em 2020. “Eu estava em uma fase de querer viver a vida. Ficou mais intenso a partir das minhas saídas para festinhas e, em setembro de 2020, eu deixei de comprar os descartáveis e comprei o eletrônico mesmo. Acho que passei a usar mais com base na frequência que eu ia saindo, porque a sensação de beber e usar vape é relaxante então virou um vício”, pontuou.

Ela contou ainda que passou a usar o cigarro eletrônico durante a semana, quando se estressava com algo. “Tive Covid-19 e parei. Depois, voltei. Com o tempo, fui percebendo que quando ia fazer atividade física depois de no dia anterior ter usado muito, meu rendimento no treino era horrível. Então fui parando aos poucos”, observou ela.

“Uso porque é mais prático”

Um dos argumentos mais usados por quem defende a liberação do produto é que ele funcionaria como um substituto menos nocivo dos cigarros tradicionais. Mas o natalense Pedro Henrique* (nome fictício), de 32 anos, disse à reportagem que isso não funciona na prática. “Eu fumo vape e fumo cigarro. O mercado diz que é para reduzir danos, mas os efeitos são diferentes. Cigarro ‘normal’ você traga; o vape não. Só uso vape porque é mais prático, você pode fumar em qualquer lugar sem incomodar as pessoas”.

Os dados do Covitel também apontam que justificativas associadas à ideia de redução de danos aparecem com menos frequência entre os brasileiros: razões como parar com cigarro tradicional aparece com porcentagem de 3%, não voltar a fumar cigarro tradicional (1,8%) e que faz menos mal que o cigarro tradicional (1%).

Questionada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) disse que não tinha dados ou mais informações sobre o uso de cigarros eletrônicos no Rio Grande do Norte.

Especialista aponta perigo do uso recorrente 

Coordenadora da disciplina de Doenças do Sistema Respiratório da UFRN, coordenadora do Grupo de Tratamento de Tabagismo do Hospital Universitário Onofre Lopes da UFRN (HUOL), membro da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e presidente da Associação de Pneumologia e Cirurgia de Tórax do RN, a médica pneumologista Suzianne Lima relembrou o surgimento do cigarro eletrônico no país.

“Nos anos 2000, houve uma diminuição no número de tabagistas no Brasil e no mundo, principalmente por causa das ações da Convenção-Quadro, como o combate ao tabagismo passivo, regulação de preços, colocar na mídia as ações maléficas do cigarro, nas caixas vendidas. Só que a indústria do tabaco é muito perspicaz, não quer perder seus adeptos. Então de 2003 para cá foi criado o cigarro eletrônico, justamente para pegar uma população que pode ficar viciada mais tempo: os adolescentes e jovens. O nome, eletrônico, chama a atenção desse público, e usaram designs diferentes, como parecidos com pen-drives, inclusive até com roupinhas de super-heróis, com o objetivo de atingir uma faixa etária menor, o que é bastante preocupante” explicou, em entrevista ao AGORA RN.

Além disso, são feitos com sabores e cheiros diferentes, sendo mais de 7 mil tipos de aromatizantes comercializados no Brasil, entre eles mentol, chocolate, canela, banana, sabores de frutas e flores, e outros. “Fala-se muito que o cigarro eletrônico é só um ‘vaporzinho de água’, mas sabemos que isso não é verdade. Hoje já foram identificadas mais de duas mil substâncias nos cigarros eletrônicos, algumas que a gente nem conhece direito. Essas duas mil substâncias entram a uma temperatura média de 350 graus celsius no corpo, essa temperatura por si só já causa danos químicos e inflamatórios que podem gerar transformações cancerígenas em todo o corpo, não só no sistema respiratório”, revelou.

Segundo a especialista, pode ocorrer dermatite, rinite, laringite, alteração das cordas vocais, problemas cardiológicos, neurológicos, e principalmente no sistema respiratório, causando asma, doença que causa o enfisema e a bronquite crônica, assim como a EVALI, que é uma lesão pulmonar causada pelo aerossol gerado pelo vapor do líquido aquecido. Isso sem descartar os riscos de explosão do aparelho.

Ela também apontou que o cigarro eletrônico não é “remédio” para parar de fumar. “Pelo contrário, ele faz com que a pessoa fume outro tipo de cigarro, seja maconha, seja o convencional, seja narguilé”, observou.

A base do cigarro eletrônico é nicotina. “E o pior, temos já quatro gerações do cigarro eletrônico. A terceira e a quarta possuem partículas muito pequenas de nicotina que chegam mais rápido ao cérebro, tornando o cigarro eletrônico uma das drogas mais poderosas do mundo, causando o efeito de liberar substâncias que geram prazer, como dopamina e serotonina. Mas, quando acaba o efeito, entra a ação de adrenalina, gerando a sensação de ansiedade. Por isso que vira um ciclo vicioso e a pessoa volta a fumar”, afirmou.

A médica ainda ressaltou que a maioria das substâncias usadas nos cigarros eletrônicos é feita para outros fins, não para ser inalado. “O formol, por exemplo, é para conservar cadáver. Os metais pesados, como níquel e chumbo, também não são feitos para estarem ali. Estão inseridos na bateria do cigarro, mas estudos já encontraram vestígios desses metais nos líquidos. A alta temperatura pode ocasionar isso. Além de tóxicos, eles causam câncer”.

Para a especialista, o tabagismo passivo em relação ao cigarro eletrônico deve ser combatido. “As crianças tem sido muito atingidas, porque os pais acham que o cigarro eletrônico não faz mal e fumam dentro de casa. Também há crianças fumando nas escolas, dentro dos banheiros. Combater esse uso nas escolas é necessário para salvá-los. Os estudos sobre os cigarros eletrônicos ainda estão acontecendo, então descobriremos consequências que ainda não temos conhecimento”, declarou.

Desde dezembro de 2022, a lei nº 11.326 combate o tabagismo passivo de cigarros eletrônicos em locais fechados e semiabertos no RN, assim como a comercialização e a propaganda. No Brasil, a regulamentação dos produtos fumígenos está sob responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que desde 2009, por meio da Resolução 46, proíbe a comercialização, a importação e a propaganda dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs).

Senado não chega a consenso sobre regulamentação

Na última quinta-feira 28, os senadores da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) participaram de uma audiência pública sobre a regulamentação do uso e comércio do cigarro eletrônico. Para a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que presidiu a reunião, “muito mais perigoso do que regulamentar, é não regulamentar, por não sabermos quais as substâncias nossa população está consumindo. Se faz urgente uma proposta regulatória de acordo com a nossa realidade”.

Já o senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) destacou que o foco da discussão era a saúde e que a preocupação era com uma população jovem que está entrando numa situação de vício. “Os jovens não têm acesso [à informação] do que estão inalando. […] Para regulamentar, para isso ir para o mercado, temos de ter toda a certeza de que isso não vai fazer mal para a saúde humana, principalmente para os jovens”. O debate entre os senadores e especialistas, porém, terminou sem consenso. Uma segunda reunião, que estava agendada, foi adiada.

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