Na semana passada, quatro dos principais executivos da Moura Dubeux, a maior construtora do Nordeste com sede em Recife, desembarcaram em Natal para o lançamento do quarto empreendimento em execução na cidade – o alto padrão Trairi 517, em Petrópolis – todos resultados de um investimento de R$ 350 milhões.
Estavam na comitiva da MD, além do CEO Diego Villar, o engenheiro que comanda a empresa desde 2019, Eduarda Dubeux, a diretora comercial e de marketing; Homero Moutinho, diretor regional e a mais nova gerente no RN, Fabiana Moreira.

Para uma empresa que já empreendeu 14 projetos simultâneos na cidade em parte dos 18 anos em que está no RN, o quarto projeto pode ser uma fração modesta, mas é bem-vinda, especialmente depois dos últimos anos de seca no mercado imobiliário local, encerrada com uma pandemia que travou a economia.
Com o slogan pra lá de pragmático – “Saber vem de Viver”, ou seja, “eu não sei, eu vivi” – a Moura Dubeux recomeça aos poucos, bem comedidamente, a apostar no mercado imobiliário de Natal onde o dinheiro acampou, dispensando financiamentos bancários: o segmento do altíssimo padrão.
Pragmático como o slogan da empresa que já tem 40 anos de vida, o CEO Diego Villar explica que são nas crises que o padrão da economia se repete: ricos ficam mais ricos, enquanto os pobres, mais pobres. É a boa velha concentração de renda, que move empresas com marcas fortes, como a MD, a se desvencilhar da incômoda exposição ao risco causada pela inflação.
O próprio Diego lembra o que aconteceu a partir de 2008, quando a Moura Dubeux se instalou por aqui. “Eu estava exatamente no olho do furacão naquele momento: forte incentivo ao crescimento para barrar os efeitos deletérios da explosão da bolha imobiliária americana; liberação de juro com taxa de credito subsidiado fora da realidade produtiva do país e o efeito inflacionário que esse ritmo expansionista na execução de grandes projetos trouxe à economia”.
Ele se refere à explosão inflacionária nos anos de 2010, 2011 e 2012. Ou, como ele mesmo diz, “as empresas que estavam lançando muito, fazendo muito crédito, se viram numa situação complicada sem comprador, enfrentando distrato de clientes que estavam perdendo renda e, com muito crédito tomado, enfrentando a alta dos juros e o encarecimento de suas dívidas. Era a tempestade perfeita”, arremata.
Ele lembra que coube à Moura Dubeux a estratégia de gerar o máximo de caixa possível e tentar, ao máximo, diminuir a exposição ao risco financeiro. “Não foi fácil e passamos anos e anos pagando o preço para sobreviver nesse mercado, reduzindo de tamanho, mas sempre acreditando no produto e na força de 40 anos da marca”.
Até que em 2017, o mercado imobiliário começou a ressuscitar com a política econômica do então presidente Michel Temer, resultando na baixa de juros e, portanto, na consequente diminuição do tal nível de exposição ao risco.
E o resto ficou por conta do IPO, a oferta de ações na Bolsa responsável por R$ 1,140 bilhão de captação líquida, que unida à participação de mercado já existente e à marca forte possibilitou – como lembra Villar – trocar a dívida por uma nova capitalização, desonerando os ativos da empresa para financiar o seu crescimento.
“Projetos como o Trairi, por exemplo, não dependem de financiamento bancário porque capta seus recursos da faixa de renda mais alta”, lembra o CEO da MD.
Para a Moura Dubeux, que não tem a menor pretensão se disputar espaços em mercados como o de São Paulo, onde o próprio Diego Villar admite existir uma dezena de empresas do tamanho ou maiores que a MD, o foco é ser grande no mercado brasileiro mais promissor que é o Nordeste.
“As três maiores economias da região hoje são Bahia, Ceará e Pernambuco e os demais estados têm uma fração do que têm esses três estados. Maceió passa por um momento excelente; já no mercado do RN é menor desde a crise e performa uma fração do que era há dez anos, em parte, pela perda de investimento estrangeiro no imobiliário”, radiografa.
Com um movimento acima de R$ 15 bilhões por ano, de acordo com um levantamento recente da Brain Inteligência Estratégica, as vendas de imóveis no Nordeste como um todo têm superado os lançamentos desde 2020.
A Moura Dubeux alcançou um novo recorde em vendas líquidas, que somaram R$ 397 milhões no quarto trimestre do ano passado, uma alta de 44,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano, registrou R$ 1,5 bilhão em vendas, um crescimento de 10,2% em comparação a 2022.
Os lançamentos, por sua vez, caíram 20% no quarto trimestre, para um valor geral de vendas (VGV) de R$ 448,5 milhões. Em 2023, o VGV foi de R$ 1,6 bilhão – queda de 13,6% na comparação anual.
Em 2023, a companhia trouxe ao mercado uma nova vertical, a Mood, voltada para famílias com renda de até R$ 15 mil, com apartamentos de cerca de R$ 500 mil. Foi uma nova forma encontrada pela empresa, também, para voltar ao mercado de média renda, no qual vinha reduzindo a participação ano a ano desde 2020.