Quem tem um mínimo de espírito público defende que não haja radicalismo nas eleições municipais deste ano. O desejo é que se discutam propostas de gestões inovadoras para as cidades. Há, entretanto, sinais passados e atuais de que a estratégia política da “radicalização” já está combinada entre Lula e Bolsonaro. Interessa aos dois manter o País polarizado até 2026.
Sabe-se que, na política, o radicalismo nasce das expressões usadas em condenação a adversários. O presidente Lula viajou recentemente ao Nordeste e, em tom de campanha, atacou Bolsonaro, sobre quem afirmou: “Elegemos um psicopata para presidente da República. Alguém que vive da mentira, que vive da maldade e de ofender os outros. Para ele, todo mundo é ladrão e comunista”.
Antes, Bolsonaro declarara: “Se vocês botarem um pinguço para dirigir o Brasil. Um cara sem qualquer responsabilidade, que tem um rastro de corrupção. Um rastro de deboche para com a família brasileira, de ataques a padres, a pastores, de ataque às Forças Armadas, de ataque aos policiais”. Na Câmara Municipal de SP, disse também Bolsonaro: “A quem interessa eu ou um entreguista na Presidência da República? Um analfabeto. Um jumento, por que não dizer assim”. Em alguns encontros políticos, o ex-presidente repete o que disse na sua campanha: “O que eu tenho a oferecer para vocês é justamente o contrário que o ladrão (Lula) fez ao longo de 14 anos”.
Pesquisas de opinião pública mostram que o eleitorado segue dividido entre lulistas e bolsonaristas. A estratégia do PT e aliados justifica a participação ativa de Lula na disputa eleitoral de 2024 para que novo pacto democrático ganhe legitimidade. Os objetivos são o combate ao bolsonarismo em cada cidade brasileira e a reconstrução da democracia. Torna-se implícito, que a tendência será violenta polarização com o ex-presidente Bolsonaro, apontado com o vilão da democracia.
De sua parte, Bolsonaro não deixa por menos. Na marcha contra o aborto, em Belo Horizonte, considerou Lula “aliado do terrorismo internacional”, pelas ligações públicas que mantém com o grupo terrorista Hamas, que atacou Israel. Um ponto destacado pelo bolsonarismo para incriminar o presidente Lula é a “rejeição” do petista ao agronegócio, considerado o pilar sólido da economia nacional. Dias antes de sair do governo, Bolsonaro participou de reunião com plateia de cerca de 3,5 mil produtores rurais, quando declarou ser intenção de Lula a regulação da produção agrícola e acrescentou: “Malandro como sempre, sem caráter, bêbado que quer dirigir o Brasil”.
Será difícil evitar a radicalização da campanha municipal entre os dois grupos políticos dominantes. Essa estratégia é resultado de um “combinemos” tácito entre Lula e Bolsonaro. Chega a hora de certos “cientistas políticos iluminados”, que negam a tendência de radicalização, dizerem como evitar tal desgaste à democracia brasileira. Pessoalmente, torço para que eles consigam.