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Coluna

Ney Lopes: Repórter que sempre fui: Carlos Lacerda e JK (V)

Leia coluna de Ney Lopes
Ney Lopes
22/02/2024 | 07:18

Os anos se passaram e continuei perseguindo o furo jornalístico. Recebia sempre o estímulo do amigo Chaparro. Calmo, percuciente em suas análises, com sentimento cristão arraigado, inspirava confiança na convivência. Nunca observei incorreções ou falsidade em suas ações. Ao chegar à direção de A Ordem, encontrou-me com uma coluna assinada (Política Nacional), o sonho de todo jornalista. Sem nada vetar, convenceu-me de que eu seria melhor repórter, do que articulista. Reagi, em princípio. Mas, aceitei. Foi melhor.

Exerci, além do jornalismo, a advocacia, o magistério, e por alguns períodos, a ação política, que qualifico como correlata às demais atividades mencionadas. Foi no jornalismo, onde colhi mais experiência e ensinamentos, para usá-los nos debates jurídicos, salas de aula e tribuna parlamentar.

Ney Lopes: Repórter que sempre fui: Carlos Lacerda e JK (V) - Foto: Reprodução
Ney Lopes: Repórter que sempre fui: Carlos Lacerda e JK (V) - Foto: Reprodução

Episódio típico de um repórter audacioso. Em março de 1964, o país fervia. João Goulart na Presidência da República tinha como principal e ferrenho adversário o governador Carlos Lacerda da Guanabara. Fui ao Rio de Janeiro participar de um Congresso Nacional da UNE, como militante da política estudantil, representando estudantes da Faculdade de Direito de Natal.

Cedinho li o jornal O Globo. Lá estava estampado que Carlos Lacerda daria entrevista no Palácio Guanabara com sérias denúncias contra João Goulart. O instinto do repórter excitou-me. Após o café, de bonde, fui para o Palácio Guanabara. Apresentei-me como repórter do jornal A Ordem, de Natal.

Deixaram-me entrar e avisaram que a entrevista seria ao meio dia. Após quatro horas de espera e a sala cheia dos jornalistas da Grande Imprensa nacional, surge na porta a figura carismática de Carlos Lacerda, com óculos graúdos e olhar sisudo.

Sentei-me na ponta da mesa, que imaginei fosse o local onde iria sentar-se o governador Lacerda. Deu certo. Acertei em cheio. Fiquei ao lado dele, sob olhares críticos dos presentes, munido também de um gravador portátil, cuja gravação seria para a Rádio Rural.

Após severas críticas ao governo federal, Lacerda colocou-se à disposição dos repórteres.

udaciosamente tomei a palavra. Apresentei-me como repórter de um jornal católico, dirigido pelo bispo D. Eugenio Sales, que desenvolvia no Nordeste um trabalho baseado na Doutrina Social da Igreja. E disparei a pergunta ao governador:“O que Sr. acha da ação da Igreja no plano social, sobretudo no Nordeste, inclusive fundando sindicato rurais”? Lacerda olhou-me fixamente e não hesitou em tentar nocautear-me pela ousadia. Disse ele: “Jovem: a missão da Igreja seria a de pescar almas. Porém, a Igreja está colocando “iscas sociais” na ponta do anzol e tem se preocupado mais com as “iscas”, do que com os peixes”.

Todos riram na mesa da entrevista, mas não me perturbei. Fiz outras perguntas ao governador. O “furo” da entrevista (com foto) saiu na primeira página de A Ordem e a gravação foi divulgada na Emissora de Educação Rural de Natal. Uma vitória!

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