A seguir, o relato de altíssimos riscos que sofri, causados pelas infâmias propagadas com o objetivo de minha eliminação da política estadual. A partir desses fatos, como jornalista e advogado, conscientizei-me do sofrimento de quem é condenado inocente, embora a “armação” montada pela inveja aparentasse verdade. Deu-me a noção da malignidade do que significou o arbítrio criminoso do AI 5. Recordo a frase do saudoso professor Mario Moacir Porto: “não há fisionomia mais culpada, do que a do inocente”. A democracia, com todas as suas possíveis falhas, ainda é quem preserva a liberdade humana.
Candidato em campanha (1974), fui surpreendido com publicação na “imprensa marrom” de foto com minha assinatura, quando diretor da Cosern, autorizando o “pagamento antecipado” de um valor em dinheiro considerável, correspondente a compra de material elétrico. Tinha consciência que isto não acontecera, pelo cuidado que sempre tive. Com a ajuda de funcionário da empresa, consegui cópias da Nota Fiscal dessa compra e do cheque de pagamento respectivo, emitido 44 dias após a entrada efetiva do material no almoxarifado. A minha assinatura na autorização antecipada foi falsificada. Nunca me defendi e o recorte do jornal serviu de prova para o AI 5.

Já eleito deputado, recolhi carros que recebera por empréstimos para a campanha. Um deles estava em Luiz Gomes, RN. Era um jipe e o meu irmão Gileno foi apanhá-lo. No dia seguinte, ele chega da viagem e com olhos arregalados condena a loucura de ter usado uma viatura de propriedade da COSERN na campanha. Logo desmenti. Gileno leva-me até o jipe em cujo chassis estava soldada, para me incriminar, uma placa de ferro com a inscrição “patrimônio público da Cosern”. De imediato falei com Gastão Mariz, que dirigia o Detran. Ele aconselhou-me a remover a placa soldada. Logo, apareceu o número correto dos chassis. O jipe era de João Veríssimo da Nóbrega, que emprestara na campanha. Há personagem vivo na política local, que ajudou a montar essa ignominia. Nunca me defendi e a denúncia da imprensa marrom serviu para validar o AI 5.
Alvejado pelo AI 5, com a cassação abrupta do mandato de deputado federal– sem nunca ter exercido o direito de defesa –, voltei à Natal, com esposa e três filhos, ainda com débitos da campanha. Era professor e procurador jurídico federal, sendo aposentado com proventos de 1 salário-mínimo e meio (proporcional a idade). Voltei à advocacia. Busquei financiamento na época para comprar imóvel residencial. Fui informado que a revolução proibia operar em banco, quem respondia processo. Como nunca fora chamado a responder processo, busquei o órgão revolucionário – CGI – e solicitei explicações. Um militar, com revólver na cintura, aos gritos, disse que eu era um cassado e não tinha explicações a dar. Sai chorando.