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Repórter que sempre fui: prêmio Esso e João Goulart (IV); leia coluna de Ney Lopes

Leia coluna de Ney Lopes
Ney Lopes
21/02/2024 | 07:40

Por volta de 1962, chegou a Natal um jornalista português perseguido pelo salazarismo, que dominava Portugal. Era Manoel Carlos Chaparro. Grande profissional e figura humana inigualável. Ele e o conterrâneo Calazans Fernandes, com quem trabalhei na sucursal da Folha e Jornal do Commércio, em Recife, foram os meus professores.

Chaparro assumiu a chefia de redação de A Ordem e tinha como proposta estimular quem tivessem vocação de repórter. Recebi dele muitas missões e retribuí com “furos” e reconhecimento até nacional. É o caso do prêmio Esso Regional, um galardão para o jornalismo, com o qual fui honrado aos 17 anos de idade, quando escrevi a série de reportagens “A cidade de Natal por dentro”. Até hoje, o único jornalista do RN que publicou em jornal potiguar e ganhou o prêmio.

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Repórter que sempre fui: prêmio Esso e João Goulart (IV); leia coluna de Ney Lopes - Foto: Freepik

Durante mais de 10 semanas, andei até na madrugada, visitei alagadiços, favelas e comunidades. Colhi várias histórias de vida, denúncias, dramas humanos, sugestões, contrastes. Na edição de 21 de abril de 1962, duas fotos ilustraram o texto dessa série de reportagens. Uma de residência de luxo no Tirol; outra, de mocambos em Mãe Luiza. Na legenda escrevi: “Tanto nos prédios de luxo, quanto nos mocambos, moram pessoas humanas, com iguais direitos à felicidade e a uma vida digna. Vivem crianças com ilusões e sonhos. Contrastes duros que custa aceitar em pleno século XX”.

Na Assembleia Legislativa, um deputado denunciou-me como agitador. D. Eugênio, anos depois, com sorriso na face contou-me a denúncia que recebera e relegara totalmente. Quando chamado para dá explicações durante a Revolução de 1964, por ser à época militante do MDB, que combatia nas ruas o movimento revolucionário, constava nos arquivos militares que era “comunista”, por conta dessa série de reportagem.

Recebi o prêmio Esso do Sr. Mário Torres de Melo, gerente de relações públicas da Esso para o Brasil, além das presenças do jornalista Luiz Lobo, diretor da nossa Faculdade de Jornalismo; o velho amigo (já falecido) Everaldo Gomes, representando o governador do Estado, Aluízio Alves; monsenhor Alair Vilar; Dr. Otto de Brito Guerra e alunos da Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza.

Outro fato histórico foi a última visita do presidente João Goulart ao Nordeste em 1963, meses antes da sua deposição. Ele foi a Santa Cruz inaugurar a luz de Paulo Afonso, luta do então governador Aluízio Alves. Munido de gravador portátil, burlei a segurança da Aeronáutica na chegada presidencial e obtive declarações com exclusividade do presidente sobre o momento nacional. Quase fui preso pela segurança do governo.

Lembro (e a foto divulgada mostra isso) que chovia muito na pista de Parnamirim e, atrás do presidente João Goulart, vinha o então general Castelo Branco, chefe do Estado Maior da Presidência, segurando o guarda-chuva presidencial. Coisas do destino! Pouco tempo depois, Castelo Branco assumiria a presidência da República.

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