Conhecida pelas belezas naturais, artistas importantes para a cultura local, gastronomia típica e locais históricos, Natal, capital potiguar que completou 424 anos no último dia 25 de dezembro, já foi palco de diversos períodos cruciais da história do país devido a sua localidade estratégica e fundação, que coincide com a data de nascimento de Jesus Cristo.
Em entrevista ao AGORA RN, o professor e historiador Henrique Lucena explicou que durante o período em que a cidade foi fundada, em 1599, pelo rei da Espanha Felipe II, Portugal e Espanha viviam a união das coroas peninsulares ibéricas. Com isso, Portugal se encontrava sob domínio espanhol.
“A fundação da cidade foi estabelecida a partir de um rei espanhol tecnicamente falando, e não português. A fundação da cidade estava diretamente vinculada a um plano de expansão territorial na América do Sul”, relatou.
Dessa forma, o historiador aponta que a maior preocupação na época das coroas era em relação ao aumento da presença francesa, devido ao pensamento de exploração de recursos. “Os franceses estavam desde o início da colonização, preocupados com a exploração de pau-brasil, madeira tintorial voltada basicamente para a indústria têxtil francesa”, afirmou.
Em 1633, algum tempo depois da fundação, Natal foi invadida pelas tropas da companhia das índias ocidentais, segundo Henrique, uma empresa de capital misto (público-privada), como forma de controlar rotas e expandir para o interior. “A cidade foi invadida e dominada pelos holandeses, com intuito estratégico de controlar as rotas comerciais, e o expansionismo para o interior da colônia. No caso do Rio Grande, não houve mudanças significativas”.
Dessa maneira, o professor explica que ainda no século XVII, Natal não tinha importância nem econômica e nem política. O que se tinha eram apenas as residências que estavam relacionadas à Fortaleza dos Reis Magos. “Era mais um amontoado de casas em cima de dunas que davam apoio ao Forte dos Reis Magos. O Forte passou a ser chamado de Castelo Ceulen ou Keulen, e a cidade passou a ser conhecida como Nova Amsterdã”, disse.
Além das fortes influências holandesas, espanholas e portuguesas, a capital potiguar recebeu durante a Segunda Guerra Mundial o exército americano devido a sua localização geográfica muito próxima da África e da Europa, tradicionalmente um espaço estratégico. “Durante o período colonial, e durante a idade moderna , e até mesmo durante o povoamento do continente americano, o que nós chamamos de Rio Grande do Norte é consideravelmente importante”, frisou Henrique Lucena.
Com o período de permanência dos norte-americanos, Natal teve um grande desenvolvimento de infraestrutura e de costumes pois, segundo o professor, “os Estados Unidos necessitavam de acomodações, de linhas de suprimento, e até mesmo diversão para suas tropas” enquanto estavam na cidade.
Sendo assim, a vida dos natalenses foi intensamente impactada pela chegada de grandes marcas, como a Coca-Cola, e de outros costumes norte-americanos. “Tais transformações estão diretamente vinculadas às alterações ligadas ao ato de consumir bebida alcoólica, se vestir, alterações no vocabulário, e até mesmo o comportamento do tomar banho de mar”, citou o historiador.
Diferentes nomes
Henrique Lucena explica que a nomeação da cidade está diretamente relacionada aos discursos de poder e dominação dos espaços. “No período colonial, o ato de colonizar, também está associado ao de dominar. Cada nome que a cidade do Natal teve em toda sua história está associado a discursos criados pelas autoridades políticas estabelecendo-se sentidos, e funções”.
Ainda em relação às questões históricas, a capital potiguar recebeu o nome extra-oficial de “Cidade do Sol” ou “Noiva do Sol”. O historiador afirma que o nome foi estabelecido apenas durante o governo de Aluízio Alves com a consolidação do turismo como forma de desenvolvimento no estado.
“Nessa época, dos anos 1960, temos a cidade do Natal sendo vendida por uma rede hoteleira, como por exemplo a construção do hotel dos Reis Magos, parcerias com a Varig, e suas agências turísticas em nível nacional. Natal vai sendo construída como uma cidade turística, um balneário no oceano Atlântico, em que o sol permanentemente brilha”, explicou.