Em disputas eleitorais, especialmente nos cenários de segundo turno, as campanhas frequentemente adotam uma tática controversa: o ataque direto ao adversário. Essa estratégia visa expor os aspectos negativos do oponente, como problemas em sua trajetória, posicionamentos assumidos no passado ou causas defendidas — ou ignoradas. O objetivo é claro: aumentar a rejeição do outro candidato, tornando-o uma opção menos atraente para o eleitorado indeciso. Porém, muitos se perguntam se essa estratégia não resulta em perdas para o próprio candidato que a adota. Afinal, a máxima política de que “quem bate, perde” permanece amplamente aceita.
Campanhas confrontativas são, de fato, uma das manobras mais arriscadas em uma eleição. Ao atacar diretamente o adversário, o candidato corre o risco de ser percebido como agressivo ou negativo, o que pode afastar eleitores. Idealmente, uma campanha deveria ser propositiva, apresentando soluções e propostas claras para o futuro da cidade. No entanto, em um cenário de segundo turno, a realidade é outra. Com apenas dois candidatos em disputa, boa parte do eleitorado que não votou em nenhum deles precisa decidir entre quem sobrou na corrida. E em geral essa escolha é feita pelo critério do “menos pior”, já que o que ele considerava melhor não está mais entre as opções.
Esse contexto faz com que a tática do ataque se torne quase inevitável. Quando o foco da campanha é elevar a rejeição do oponente, o candidato procura desconstruir sua imagem perante o eleitorado, trazendo à tona questões polêmicas como posturas religiosas, posições identitárias ou até comportamentos pessoais. É a estratégia do “veja o que ele fez no verão passado”, que busca minar a credibilidade e popularidade do adversário.
Em diversas capitais, o tom das campanhas no segundo turno mudou de propositivo para confrontativo. As propostas deram lugar ao embate verbal, com acusações mútuas e tentativas de desqualificar o oponente. Nesse cenário, o eleitor não é convidado a escolher o melhor candidato, mas sim o que possui menos defeitos. O resultado final é a eleição do menos rejeitado, e não necessariamente do mais virtuoso.
Essa prática levanta preocupações sobre o impacto que ela tem na democracia. Quando as eleições se tornam uma escolha do “não voto”, ou seja, a opção pelo menos rejeitado, a qualidade do debate público e das propostas de governo se perde. O que sobra é a sensação de que o eleitor não escolhe um futuro promissor, mas apenas tenta evitar o pior.