Um novo estudo da Avaliação da Qualidade da Educação Infantil, denominado “Retrato pós-Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”, mostra que a leitura está pouco presente na rotina das creches e pré-escolas de todas as regiões do Brasil, sendo adotada por apenas 45% delas, conforme matéria do jornal Valor Econômico desta terça-feira (23/04/24). Na opinião de 86% dos profissionais que atuam nas creches e pré-escolas, a leitura contribui para o processo de letramento das crianças e para a promoção do seu desenvolvimento humano, cultural e intelectual, contribuindo para sua inserção no mundo atual.
O estudo, que tem o apoio do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social da Universidade de São Paulo (USP), do Movimento Bem Maior da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e do Itaú Social, revela que outras práticas de leitura e escrita não constam em 39% das turmas. Diz ainda que em 61% das salas de aula que tiveram atividades, 23% não foram pensadas a partir de uma estratégia que garantisse o protagonismo das crianças, por meio de atividades lúdicas. Ou seja, a criança não é o foco do primeiro ambiente onde se inicia sua formação para a interação em sociedade e na vida.
A pesquisa mostra falta de planejamento e desorganização nas atividades que envolvem a literatura. Foram pesquisados 3.647 grupos de 1.683 creches e 1.784 pré-escolas públicas, onde apenas 31% aparecem com experiências com as linguagens plásticas, práticas sociais com espaços, tempos e objetos. Nas experiências com teatro, dança e música, foi identificado que em 38% das creches e pré-escolas essa atividades são conduzidas de forma repetitiva ou mecânica e pior, que em 27% elas não acontecem de nenhuma forma.
Em declaração ao jornal Valor Econômico, a coordenadora de Educação Infantil do Itaú Social, Juliana Yade, disse que “é indispensável que creches e pré-escolas adotem a mediação da literatura como uma aliada pedagógica, a fim de garantir não somente o acesso à cultura letrada, mas também a construção de um olhar crítico da realidade que as cerca”. Mas, e a quem compete conduzir esta abordagem no dia a dia?
A gestão municipal é a maior responsável pela educação de base, desde a creche e a pré-escola. Olhando para a realidade local, em Natal faltam creches para a demanda que a cidade tem? E como é no restante dos 166 municípios do Rio Grande do Norte? Esse é um tema que precisa estar na pauta de todos os candidatos a prefeitos e vereadores, e que já saiu do limbo.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE/RN) realizou neste mês de março de 2024 um levantamento sobre a oferta de vagas em creches nos municípios do RN, em que os municípios que não responderam sofrerão as sanções previstas na legislação. Isso ocorreu com o objetivo de coletar informações sobre a garantia do acesso universal à educação infantil, porque o poder público tem a obrigação de oferecer vagas em creches para crianças de até 3 anos e na pré-escola para quem tem 4 e 5 anos de idade.
Quando forem divulgados os dados levantados, a pauta estará aberta no Rio Grande do Norte e aqueles que querem assumir responsabilidades com os seus municípios, sejam prefeitos ou vereadores, têm o dever de olhar para o futuro das crianças, atuando como agentes políticos transformadores da sociedade, assegurando uma educação básica de qualidade nas creches e pré-escolas.
Afinal, que cidade, que estado e que país queremos construir se não investirmos numa educação de qualidade? Olhar pela educação infantil significa também olhar para os responsáveis pelas crianças nas creches e pré-escolas: qualificar esses profissionais e garantir uma boa remuneração para quem cuida e prepara nossas crianças para o futuro. Ensinar as nossas crianças a ler, compreender o que está escrito e abrir a mente para o mundo que se transforma em velocidade de segundos é uma grande tarefa para aqueles que desejam uma cidade, um estado e um Brasil melhor.