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Literatura
‘A Natureza da Mordida’, novo livro de Carla Madeira, é um mistério que se lê com prazer
Seu "Tudo É Rio", publicado originalmente em 2014 e reeditado pela Record, foi do boca a boca às listas de mais vendidos no país

27/01/2023 | 17:42

A escritora Carla Madeira virou um fenômeno editorial em 2021. Seu “Tudo É Rio”, publicado originalmente em 2014 e reeditado pela Record, foi do boca a boca às listas de mais vendidos no país, beirando os 150 mil exemplares. Foi a autora brasileira mais lida do ano.

“Véspera”, seu romance mais recente, deu continuidade ao caminho bem-sucedido. E agora a expectativa está sobre “A Natureza da Mordida”, seu livro do meio, que acaba de ser reeditado pela Record.

Alguns elementos do conteúdo talvez ajudem a entender a acolhida do leitorado. O interesse pela subjetividade das personagens, a curiosidade para explorar a condição humana, a ambiguidade e a autonomia das mulheres retratadas, o direito entregue a essas personagens de errarem e de serem más. Na forma, as construções fluidas, o trabalho cuidadoso com a palavra, a prosa poética com frases altamente tatuáveis também ajudam.

“A Natureza da Mordida” repete um formato já conhecido na obra da autora -os fragmentos. Capítulos curtos, alguns brevíssimos, alternam a voz das duas protagonistas.

Biá, uma mulher velha, psicanalista não mais em atividade, que toma notas sobre o que viu, viveu e lembrou, escreve porque tem dificuldade de dizer em voz alta e, ao escrever, parece organizar onde começa e onde termina sua história -se é que ela termina. Olívia, uma jornalista arrebatada pelo luto, passa a ansiar pelos encontros com sua interlocutora, que provoca nela uma afeição profunda.

Elas se encontram pela primeira vez em um sebo, espaço dos tesouros ficcionais, e daí nasce uma relação de troca, com confissões que só faríamos a uma estranha. Ao compartilharem suas histórias, descobrem pontos de contato entre o que viveram.

Estão as duas lidando com ausências dolorosas, ainda elaborando partidas bruscas, abocanhadas que a vida deu. Há um prazer na leitura do que vai se revelando aos poucos -a trajetória das protagonistas vai se fazendo inteira à medida que avançamos no livro. Sabemos que uma perdeu um amor, a outra perdeu uma amiga, mas não conhecemos o que veio antes. As consequências vêm antes da causa.

São personagens interessantes e fazem parte da perspicácia da autora para brincar com as palavras. Biá e Olívia, por seus ofícios, sabem fazer bom uso do discurso. São domadoras do verbo.

A psicanalista conhece o poder do silêncio, da mesma forma que entende a importância de controlar a narrativa. Quando não dá conta de falar de si, fala de outros, evoca passos de quem está ou esteve em sua vida e, sem querer -ou querendo- também vai dizendo da própria existência. Biá relembra figuras do passado enquanto tergiversa sobre as próprias rupturas.

Olívia, por outro lado, é boa na escuta, sabe cavar para abranger os tantos significados do que se diz e reconhece o valor da repetição, insistindo no que pode sair de novo, no detalhe inédito. Parece estar só ouvindo, mas aos poucos também se revela uma narradora de si.

A alternância de perspectivas instiga e oferece uma quebra na continuidade do universo ficcional de cada personagem. Questionamos o quanto essas narradoras estão realmente dispostas a contar e se estão nos enganando ao aparentarem tamanha sinceridade. Biá está se esquecendo ou está deliberadamente inventando? A confusão de nomes quando menciona outras figuras é real ou, amante que é da ficção, está empenhada em um exercício criativo para aliviar o peso da vida?

Não empolga a estratégia da escritora para revelar, ao fim, as peças faltantes na vida das personagens. O enredo acaba perdendo com a decisão de entregar de bandeja tudo de uma vez a partir de determinado momento do livro. Quase como se tivesse cansado de encaixar os fragmentos e quisesse resolver rápido a história.

Mas, mesmo quando escolhe trocar as saborosas pistas por uma solução narrativa abrupta, a autora segue cuidando de exercer o que marca sua literatura, a lapidação das palavras.

GABRIELA MAYER – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

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