Uma data marcada por inúmeras lutas femininas em busca de direitos –- tanto sociais quanto trabalhistas – iguais para todos os gêneros: neste domingo, 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher.
Oficializada pela ONU na década de 1970, a data marca uma reflexão sobre preconceitos e estereótipos que precisam ficar no passado. Antes, mulheres não votavam e eram privadas de conhecimento, emprego e independência financeira. Recentemente, a narrativa mudou e as mulheres se tornaram livres para traçar os próprios caminhos.

O Agora RN conversou com quatro potiguares que se esforçaram para conquistar um espaço na sociedade. Mesmo com histórias diferentes, elas se encontram em pontos de semelhanças incontestáveis. São mulheres que inspiram as pessoas próximas com atitudes concretas e que ainda são capazes de mover o mundo com ideias inovadoras.
Joyce Cavalcante é um exemplo de dedicação. Formada em engenharia de materiais pela UFRN, a jovem de 24 anos já visitou 21 países graças à educação. Ela participou de um programa que proporcionou uma bolsa de estudos na Hungria.
Em um ano e meio, Joyce desenvolveu pesquisas nas áreas de química e biotecnologia. “Trabalhei em laboratórios incríveis. Nos dias livres, coloquei uma mochila nas costas e fui conhecer outros países da Europa. Conheci a Romênia, França, Inglaterra… vivenciei culturas diferentes e assim consegui entender mais sobre a nossa realidade”.
Agora, a estudante está terminando o mestrado com um projeto que vai utilizar materiais sustentáveis para conter a poluição nos rios e oceanos. “O projeto chamou a atenção de pesquisadores de fora e por isso fui convidada para fazer doutorado na Kaust, universidade da Arábia Saudita. É mais uma prova de que a ciência é importante e ajuda a sociedade a evoluir. Estou feliz com a oportunidade”, celebrou.

Já a história de Monalisa de Oliveira é um pouco diferente. A jovem, também de 24 anos, precisou começar a trabalhar cedo, antes dos 18. Aos 21, passava a semana toda na casa de uma família, onde trabalhava como empregada doméstica. “Fui honesta e dedicada durante o período de faxinas. Mas não estava feliz porque sempre tive outro sonho”.
Focada, Monalisa guardou dinheiro e conseguiu realizar seu maior desejo. “Abri minha loja de roupas e já sou considerada empreendedora. Foi difícil, mas esse era meu maior objetivo”. Aberta há mais de um ano, a loja conquistou mais de 5 mil seguidores no Instagram, uma clientela fiel.
“Estou garantindo meu espaço no mercado. Não existe nada mais gratificante para mim do que ter peças exclusivas e ver os sorrisos sinceros das clientes vestindo as roupas que eu vendo. Exaltar a beleza de cada mulher que passa pela loja é o motivo principal da minha luta”, contou Monalisa.

Denise Figueiredo tem 44 anos, é casada e tem um filho. A maquiagem que sempre usa contrasta com o uniforme de bombeiro. Atualmente ela é a chefe do centro superior de formação e aperfeiçoamento do Corpo de Bombeiros Militar (CBMRN) e foi a primeira oficial mulher a assumir uma posição de comando na corporação estadual. Há 19 anos seguindo a carreira, a major Denise carrega diversas lições de responsabilidade.
Em um ambiente majoritariamente masculino, o maior desafio foi alcançar respeito. “Tudo que vem para mudar uma cultura estabelecida é natural que haja resistência. Mas vejo espaço para todos”, afirmou.
Denise almeja transmitir perseverança. “Mesmo frente a dificuldades reais, não podemos desistir dos nossos propósitos. Além disso, de forma ética e leal, é necessário transpor os obstáculos que aparecem nos nossos caminhos. Um a um”, disse.

Janaína de Lima coleciona alguns momentos de dor. O primeiro foi logo no início da vida: ela nasceu no corpo errado. Biologicamente, era do sexo masculino, mas se identificava com o gênero feminino. Entender que era uma mulher transexual foi um obstáculo para a jovem, que enfrentou preceitos e paradigmas para alcançar a liberdade de ser quem é. “Sempre enfrentamos barreiras e não estamos inseridas na sociedade com igualdade”, lamentou.
Hoje, aos 27 anos, Janaína pode se considerar uma vencedora. Ela foi a primeira mulher trans a se formar em jornalismo pela UFRN e está cursando mestrado em estudos da mídia, com um projeto que investiga a violação dos direitos humanos em veículos de comunicação.
“Mas quando comecei a trabalhar como jornalista, por exemplo, eu precisava reafirmar sempre que realmente era uma profissional. As pessoas não acreditavam que uma mulher trans ocupava um espaço de emprego formal”, contou Janaína.
A superação diária da jovem ganhou mais um capítulo no ano passado. Ela foi a primeira mulher trans a se tornar gestora pública no estado ao assumir o cargo de coordenadora de diversidade sexual e de gênero da Secretaria das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos do RN (SEMJIDH).
“Estamos avançando, quero transformar a nossa realidade. As violências que sofri como transexual viraram minhas bandeiras de luta”, afirmou. Como dizia Simone de Beauvoir, filósofa francesa, escritora e ícone feminista, uma das preferidas de Janaína: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”.