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Confira a coluna de Bruno Araújo deste sábado 30
Bruno Araújo
30/03/2024 | 08:05

É curioso como podemos encontrar paralelos da vida em sociedade nos locais mais curiosos. Na natureza, um caso simples e pouco comum pode representar bem a lógica do crime organizado, das facções criminosas e milícias. As mais de 400 espécies de fungos do gênero Cordyceps, cuja capacidade de infectar formigas, lagartas e outros insetos para controlar seus corpos remetem a uma realidade assustadora se alcançasse, um dia, os seres humanos.

A possibilidade, inclusive, foi imaginada na distopia retratada nos jogos da franquia Last of Us e em série de TV homônima na qual a humanidade enfrenta a derrocada por seres que precisam apenas de uma mordida para transformar humanos em zumbis. De antemão e longe da ficção, os cientistas alertam: não há risco, ao menos por enquanto, de a humanidade ser destruída por uma pandemia pelo fungo em razão da necessidade de uma readequação genética de milhões de anos. A lógica se aplica às notícias dos indivíduos detidos sob a suspeita de serem mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Gênero do fungo Cordyceps / Foto: reprodução
Gênero do fungo Cordyceps / Foto: reprodução

A correlação se constitui pelo fato de os suspeitos integrarem o Poder Público estabelecido. Um deles, delegado de polícia responsável pela investigação de homicídios no Rio de Janeiro, outro conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e um terceiro, deputado federal eleito pelo mesmo estado. Em níveis distintos, é como se os fungos tivessem se multiplicado e fossem parte do mecanismo que controla os rumos de uma formiga robusta, sem vida e acéfala, representada por um estado brasileiro.

O Rio Grande do Norte não está alheio a esse fenômeno. Com a capilarização do crime organizado pelos recantos do país, os ventos sopram há algum tempo e sem destino certo a existência de infiltrados de facções em instituições públicas e da sociedade civil. Diferente de outro tempo, os grupos criminosos passaram a atuar de maneira ainda mais orgânica. Não basta à cooptação de indivíduos que pertençam à estrutura do estado. O trabalho agora é de base. Selecionam e preparam pessoas ao longo de anos para que possam integrar as fileiras e o front em defesa dos seus e com um acesso com verniz de legitimidade. A possibilidade de um cenário meramente parecido com o que apontam as investigações no Rio de Janeiro ter equivalentes estaduais ou nacionais deve levantar preocupação e atenção da sociedade e gerar uma reação em cadeia de autodefesa.

De forma local, uma vigilância reforçada para reconhecer e extirpar de imediato qualquer membro contaminado pelo crime na estrutura democrática e, de maneira, regional e nacional, esforços coordenados para frear o avanço de uma eventual infecção pelo país. Caso contrário, a força das estruturas legítimas de poder passará a outro dono, como a formiga infectada, e o corpo em seus movimentos erráticos finais na tentativa de sobreviver será apenas espectador da tomada do estado democrático brasileiro, de esporo em esporo.

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