A engorda da Praia de Ponta Negra é essencial para o crescimento econômico da cidade do Natal. Os que vivem e sobrevivem do turismo aguardam ansiosos pela obra. E olhe que a cadeia do turismo é gigante: engloba barraqueiros, bugueiros, taxistas, comerciantes, artesãos… Isso sem falar nos empresários de hotéis e restaurantes e dos funcionários deles. O poderio do trade é enorme. É a nossa indústria sem chaminé.
Portanto, a discussão não é mais econômica, e sim técnica. O Idema, órgão do Governo do Estado, diz que a Prefeitura do Natal ainda não respondeu a um conjunto de condicionantes que ele impôs para emissão da licença ambiental. Já a prefeitura se apega ao relato de pessoas das empresas contratadas para a obra, que dizem nunca ter passado por situação igual, ou seja, nunca precisaram responder a este volume de questionamentos que faz o Idema.

No fim de semana, uma das empresas contratadas dispensou a draga que estava em Natal para realizar a obra da engorda. Já que não há licença para fazer a obra, não há razão para a draga ficar aqui. Afinal, a locação do equipamento tem um custo elevado. São poucas as dragas no mundo. Se esta draga for enviada para outro serviço, para voltar a Natal vai ser difícil. Resultado: a obra vai demorar e com certeza só vai iniciar depois de 2025.
O problema da licença é técnico, mas também político. E não adianta o Governo do Estado e o Idema dizerem, através de pessoas e até mesmo de parcela da imprensa, que não há política no meio. Claro que tem. E é política das duas bandas.
A Prefeitura está interessada em fazer a obra porque politicamente é bom para o prefeito Álvaro Dias (Republicanos). E o Governo, aparentemente, está retardando a licença porque politicamente é bom para a governadora Fátima Bezerra (PT) que não seja bom para o prefeito.
Aí tem um ponto a ser enfatizado. É preciso lembrar que a avaliação de Fátima Bezerra pela população de Natal é muito baixa. Esse episódio não é bom para ela. Fátima pode ficar conhecida não como a política que conseguiu a obra da engorda. Ela pode sair desse episódio como a política que retardou a engorda. Ou pior: que proibiu a realização da obra.
A empresa que ganhou a licitação já fez seis engordas em outros municípios brasileiros. E basta ir a Fortaleza (CE) ou Balneário Camboriú (SC) para ver os benefícios da obra. O mesmo foi feito, muito tempo atrás, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ). O alargamento da faixa de areia trouxe muitos avanços nessas regiões.
O Idema precisa sim considerar o lado técnico. Mas a governadora tem de saber que, a essa altura do campeonato, há uma responsabilidade política no meio. A governadora pode escolher o caminho de sentar à mesa, chamar o Idema e pedir agilidade, desde que preservados os aspectos técnicos. Ou então sair como a responsável pelo que está acontecendo hoje com o Morro do Careca e responsável pelo atraso na evolução da Praia de Ponta Negra e o turismo de Natal. É uma escolha que só cabe à governadora.