A vereadora Thabatta Pimenta (Psol) chorou ao relatar as agressões transfóbicas sofridas durante sessão que concedeu o título de cidadão natalense ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante sessão da Câmara Municipal desta terça-feira 27. A parlamentar, primeira mulher trans eleita em Natal, afirmou que os ataques continuaram após o episódio, inclusive com mensagens que vinculavam a morte de sua mãe por Covid-19 à sua identidade de gênero. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
“Teve um comentário que me doeu mais do que tudo: ‘Se esse travesti não praticasse coisas abomináveis aos olhos de Deus, sua mãe estaria viva, mesmo sofrendo a decepção de ver seu filho nessa condição’. Minha mãe me amou do jeito que eu sou”, disse Thabatta, visivelmente emocionada. A vereadora perdeu a mãe para a Covid-19 em 2021.

Os ataques ocorreram durante a votação da homenagem a Bolsonaro, quando a vereadora manifestou oposição à proposta. Após seu discurso, ela foi alvo de insultos de apoiadores do ex-presidente que estavam presentes na galeria. “Naquele dia, precisei correr para cá e dizer o que estava acontecendo, mas não fui ouvida. Se normalizamos esses ataques, outros virão”, afirmou.
Siga o canal “Agora RN” no WhatsApp
A vereadora cobrou medidas da Câmara para proteger vereadores e o público durante as sessões. “Aqueles criminosos precisam ser responsabilizados, assim como quem os deixou entrar. Esta casa tem o dever de nos proteger”, disse, ao mencionar que a polícia investiga como os agressores acessaram o plenário.

Thabatta citou dados de violência contra pessoas trans. “Enquanto falamos aqui, uma travesti está morrendo em algum lugar. Não temos direito ao trabalho, ao afeto, mas temos direito à vida”. Ela recebeu apoio de colegas, mas reforçou que discursos de ódio precisam ser enfrentados além das palavras. “Não é sobre mim. É sobre todos os corpos que a sociedade quer invisibilizar”.
Thabatta registrou BO na Polícia Civil após ataques
A vereadora registrou um Boletim de Ocorrência (BO) contra os responsáveis pelas declarações após a sessão do último dia 20. E reforçou que os autores das ofensas devem ser responsabilizados. “Criminosos é o que eles são! Bolsonaristas não aceitam o meu não ao título de cidadão natalense concedido mais uma vez a Bolsonaro e me atacam com falas criminosas!”, declarou.
Ela lembrou que votou contra a homenagem a Bolsonaro, reafirmando sua oposição a quem considera responsável por “mais de 700 mil vítimas da COVID-19”. “Fui vítima de palavras criminosas, mas tenho orgulho do meu voto!”, disse.
Vereadores saem em defesa de Thabatta
O presidente da Câmara Municipal de Natal, vereador Eriko Jácome (PP), anunciou medidas para reforçar a segurança no legislativo após os ataques transfóbicos sofridos pela vereadora Thabatta Pimenta (PSOL). As agressões ocorreram durante sessão que concedeu título de cidadão natalense ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Siga o canal “Agora RN” no WhatsApp
“Vamos implementar segurança armada, consertar os detectores de metal e criar sistema de identificação para todos que entrarem na Câmara”, afirmou Jácome. O presidente, que estava em viagem durante o episódio, disse ter se solidarizado imediatamente com a colega. “Esta Casa defenderá sempre seus 29 parlamentares. Quem desrespeitar um vereador, desrespeita todo o Poder Legislativo”.
A vereadora Brisa Bracchi (PT) destacou o caráter específico da violência sofrida por Pimenta: “São ataques ligados à identidade de gênero. A Thabatta afronta o conservadorismo com sua ousadia e autenticidade, e por isso sofre mais”. A parlamentar do PT elogiou a postura da colega: “Ela tem orgulho de ser quem é, e nós temos orgulho de tê-la em nossa bancada”.
O vereador Irapoã Nóbrega (Republicanos) manifestou apoio à colega após ela sofrer ataques transfóbicos. “Infelizmente, presenciamos cenas no mínimo lamentáveis na casa que é do povo. Ser oposição não justifica poder cometer crime. O que fizeram com a amiga vereadora foi crime. Transfobia é crime”, afirmou.
Ele acrescentou que o ocorrido foi “desumano”, que “qualquer sociedade civilizada não pode aceitar” esse tipo de ação e alertou para o risco de normalizar a discriminação. “Se a gente normalizar isso, vai piorar. Pessoas LGBTQIA+ são discriminadas todos os dias em todos os locais. Qualquer tipo de discriminação é fora da sociedade civilizada”, afirmou, na ocasião.