O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed), Geraldo Ferreira, defende o uso da hidroxicloroquina (variação da cloroquina, remédio usado para malária) em pacientes com quadros leves da Covid-19, e afirmou que a valorização do tratamento tomou rumos políticos.
Na semana passada, o Sinmed recorreu à Justiça para contestar o pedido de “lockdown” feito pelo Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado (Sindsaúde) para a Região Metropolitana de Natal. Em nota divulgada no mesmo dia, a entidade afirma que é contra a ampliação das medidas de isolamento social e defende a prescrição da hidroxicloroquina, apesar de não haver estudos científicos que comprovem eficácia do medicamento contra a Covid-19.
Para Geraldo Ferreira, o tratamento sofre interferências por direcionamentos políticos. O sindicalista acredita que, apesar de apresentar resultados positivos em diversos países, o medicamento tem sofrido “desprezo” no Brasil, por conta de divergências voltadas para o cenário político.
“Há uma polarização muito grande, que tem desprezado experiências vitoriosas. Tem se colocado a questão da hidroxicloroquina com um grau de politização. Acho que aí é o mais sensível. Pessoas pertencentes a uma corrente política desprezam qualquer medida da hidroxicloroquina, quando, na verdade, a Costa Rica usou, a Itália e a Espanha também”.
“A Índia tem usado com sucesso. É uma droga absolutamente segura, com uso de anos no Brasil para tratamento de malária e lúpus. Ela tem sido desprezada. Estava na hora de os governos estadual e municipal começarem a explorar. Isso poderia diminuir a busca por leitos de hospital e de UTI”, explicou.
Segundo o presidente do Sinmed, os tratamentos experimentais de maior conhecimento foram efetuados de forma errada, o pode ser considerado um crime. Outro ponto alertado é o momento do uso do medicamento.
“Quem é contra? Foi feito um estudo em Manaus, em que as pessoas morreram. Aquilo foi criminoso. A dose é de 400 mg ao dia, lá foram usadas 6g. Está sendo investigado. Tentaram desacreditar de uma medicação de forma criminosa. O outro aspecto diz respeito aos erros de liberarem para pacientes em situações graves. A hidroxicloroquina apresenta melhor resultado nos sintomas iniciais. Os efeitos colaterais são desprezíveis. Já conversamos com especialistas que acompanham pacientes de doenças tratadas pelo medicamento, e nunca ninguém morreu. Quem está contra o tratamento está tomando um posicionamento absolutamente político. Não podemos deixar o povo sem medicação”, contou, em entrevista à Rádio Agora FM (97,9).
Um experimento realizado em abril com a hidroxicloroquina foi interrompido após 11 pessoas morrerem durante o tratamento. Cerca de 81 pessoas participaram dos procedimentos em Manaus, algumas antes mesmo de receberem a confirmação se estavam com coronavírus. Para os testes, eles receberam uma dose alta de cloroquina (600 mg duas vezes ao dia por 10 dias, uma dose total de 12g) ou uma dose baixa de 450mg por cinco dias (duas vezes somente no primeiro dia, uma dose total de 2,7g).
O trabalho de desenvolvimento no meio de uma pandemia é uma das dificuldades lembradas por Geraldo Ferreira, mas, para o médico, a hidroxicloroquina é um tratamento reconhecido por boa parte da classe médica. Além disto, Geraldo lembra que as pessoas não devem comprar desordenadamente.
“Se eu estivesse no governo, daria graças a Deus ter essa luz no fim do túnel. Há vários consensos dentro da categoria médica. A ciência debate por anos para ver resultados efetivos e estamos no meio de uma pandemia. O paciente tem a opção de aceitar ou não o tratamento. Um amigo meu, médico boliviano, que trabalha lá no seu país, me ligou e me perguntou se eu tinha a hidroxicloroquina em casa e me afirmou que era melhor ter, pois ele já tinha. Mas as pessoas não devem sair por aí correndo para comprar. Tem que ir ao médico antes”, relatou.
A compra desordenada do medicamento por parte da população, sem as devidas exigências e regulamentações, podem dificultar o tratamento de pacientes de outras doenças, como a malária e o lúpus.
As divergências políticas são as mais preocupantes para o presidente do Sinmed. Segundo Geraldo Ferreira, toda a polarização e divergências de opiniões políticas geram “incerteza” e “falta de consenso”.
“Reconheço a gravidade da doença. Não é simples, é algo novo. As verdades sobre a condução do seu tratamento estão sendo procuradas com seriedade. Mas no Brasil, particularmente, estamos enfrentando uma pandemia de conflitos. A coisa está politizada e polarizada e isto tem dificuldade. No Brasil, temos um alto grau de incerteza e de falta de consenso. Isso gera uma situação de caos”, concluiu.