Em sua primeira aparição depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou troca no comando da Petrobras, o presidente da estatal petroleira, Roberto Castello Branco, apareceu em videoconferência com analistas do mercado financeiro nesta quinta-feira 25 vestindo uma camisa com os dizeres “Mind the gap”.
A expressão em inglês é usada em avisos sonoros do metrô de Londres para alertar os passageiros sobre o vão entre o trem e a plataforma, e pode ser traduzida também como “atenção à defasagem”. A expressão pode ser aplicada à defasagem entre os preços dos combustíveis no Brasil e no exterior, fato que foi um dos principais motivos para a demissão de Castello Branco.
O próprio executivo, que está em home office, fez a correlação. As informações são do jornal O Globo.
“Desde que assumi, em janeiro de 2019, comecei a implementar uma estratégia que foi seguida à risca. Nossa visão estratégica é baseada no lema ‘Mind the gap’, que está escrito na minha camisa. Pedimos emprestado ao undergound [metrô] de Londres o ‘Mind the gap’ porque, em vez de ter uma visão interna, ou seja, de nos compararmos com nós mesmos, queremos nos comparar com os melhores e ser o melhor ou pelo menos uma das melhores empresas petróleo do mundo”, disse Castello Branco.
Pressionado pelos caminhoneiros, o presidente Bolsonaro tem se queixado do aumento nos preços do diesel e da gasolina este ano. O último reajuste foi na última sexta-feira (19/2), mesmo dia em que foi anunciada a destituição de Castello Branco.
Apesar dos sete reajustes aplicados pela Petrobras neste ano — quatro no preço da gasolina e três no do diesel —, os combustíveis ainda acumulam defasagem de 6% e 7% em relação aos valores praticados no mercado internacional, respectivamente.
Com a alta do preço internacional do petróleo, o receio do mercado é de que essa defasagem se amplie no curto prazo, diante da troca de comando da Petrobras. A tendência, segundo os consultores, é de que o preço do barril aumente ao longo do ano.
Home office
Na segunda-feira 22, o chefe do Executivo reclamou que o atual presidente da estatal está de home office há 11 meses e classificou o episódio como “inadmissível”. Por ter idade avançada, Castello Branco faz parte do grupo de risco da Covid-19.
“O atual presidente da Petrobras está há 11 meses em casa, sem trabalhar, né? Trabalha, mas de forma remota. Agora, o chefe tem que estar na frente, bem como os seus diretores. Então, isso para mim é inadmissível. Descobri isso há poucas semanas”, disse Bolsonaro a apoiadores.