“A cada minuto que passa eu sinto ele mais longe de mim, mas tenho certeza que ele está vivo”. As palavras que misturam angústia e esperança são da dona de casa Adriana Dantas. Ela é mãe de Arlley Diego Dantas, um motorista de aplicativos de 24 anos que virou notícia após desaparecer misteriosamente.
A última vez que Arlley foi visto foi na manhã do dia 18, quando saiu de casa, no bairro Guarapes, na Zona Oeste de Natal, para trabalhar. Apenas o carro que ele usava, um HB20 alugado, foi encontrado. Foi achado em chamas, na Praia da Redinha, do outro lado da cidade. E nada mais.
“Mas eu ainda tenho fé em Deus que meu filho vai aparecer, que alguém vai achar ele. Não existe motivo para ele desaparecer assim. Meu filho não fuma, não bebe, não vive de festas. A vida dele é só trabalhar. Até onde eu sei, Arlley não tinha dívidas, não tinha confusão com ninguém. Só posso acreditar que ele foi vítima de algum assalto, e que ele vai conseguir voltar pra casa”, disse Adriana, em entrevista ao Agora RN.
Para cobrar respostas da Polícia Civil, responsável pela investigação, familiares e amigos de Arlley realizaram um protesto na manhã deste domingo (26) na Ponte Newton Navarro, que liga as zonas Leste e Norte de Natal. O grupo levou cartazes com a pergunta: “Cadê Arlley Diego?”. Parte do acesso à ponte foi fechada durante a manifestação.
“Precisamos chamar a atenção, e cobrar que a polícia nos ajude a encontrar meu filho”, disse Adriana.
Arlley Diego é solteiro, não tem namorada e não tem filhos. Filho único, o rapaz mora apenas com Adriana, que é mãe solteira e não tem emprego no momento.
Desaparecimento
Arlley Diego, como é mais conhecido, saiu de casa pela manhã. A mãe guarda no celular a última imagem que tem do filho, capturada por uma câmera de vigilância. Depois disso, ela ainda falou com ele, pelo celular. “Liguei à tarde, para que ele se lembrasse de me pegar no Alecrim. Eu estava com amigas quando nos falamos. Ele disse que eu deveria ligar mais tarde, quando nós já estivéssemos prontas para ir”, recorda a mãe.
Ainda de acordo com Adriana, quando ela e a amiga já estavam prontas, ela mandou uma mensagem. “Ele sempre via as mensagens, mas essa ele não visualizou. Então comecei a mandar novas mensagens e voltei a ligar. Ele não visualizava as mensagens, e as ligações que eu fazia só chamavam, mas não eram atendidas. Naquele momento, eu senti que havia algo errado, que alguém tinha pegado meu filho”, acrescentou.
Depois disso, a mãe de Arlley disse que procurou o dono do carro que o filho dela usava para trabalhar. O veículo era alugado. “O dono trabalha com isso, com aluguel de carros, e tem rastreador. Então nós fomos em busca do carro. O rastreador mostrava que o HB20 estava na Praia da Redinha. Quando chegamos lá, de noite, o carro estava pegando fogo. Meu filho não estava nele. E desde então não temos nenhuma notícia do Arlley”, afirmou Adriana.
Polícia Civil cria núcleo de investigação para casos de desaparecimentos
A Polícia Civil do Rio Grande do Norte instituiu recentemente, mais precisamente dois dias antes do sumiço de Arlley Diego, um departamento exclusivo para casos de desaparecimento. Trata-se do Núcleo de Investigação Sobre Pessoas Desaparecidas (NIPD), ligado à Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Na última terça-feira (21), policiais do NIPD realizaram diligências em busca de pistas do jovem desaparecido, mas o resultado do trabalho não foi divulgado.
A atribuição do núcleo é realizar procedimentos policiais com o objetivo de investigar, na Grande Natal, o desaparecimento de pessoas, executar ou difundir pedidos de localização de pessoas desaparecidas.
O NIPD também é o responsável por acompanhar, orientar, integrar, monitorar, supervisionar, dar apoio e aperfeiçoar todas as investigações decorrentes de pessoas desaparecidas, respeitada a atuação da autoridade que preside a respectiva investigação.
São atribuições do núcleo a promoção – sob orientação prévia da Secretaria Executiva e de Comunicação Social da Polícia Civil (Secoms) – o fornecimento e a divulgação de informações concernentes à localização de pessoas desaparecidas.
Os inquéritos policiais já instaurados e conduzidos pela Delegacia Especializada de Capturas (Decap), que antes fazia as funções, foram todos encaminhados para o NIPD.
Segundo a delegada-geral, Ana Cláudia Saraiva, o NIPD vem para reforçar os princípios fundamentais assegurados na Constituição Federal, em especial a dignidade da pessoa humana, no que se refere ao direito da localização de pessoas desaparecidas.
“Após estudos, chegamos à conclusão que as atividades investigativas para localização dos desaparecidos são mais atinentes às atribuições das unidades policiais vinculadas à DHPP. Por isso, são grandes as expectativas que, diante desta mudança, seja possível uma melhor estrutura e condições de trabalho para todos os nossos policiais civis e um retorno ainda mais satisfatório à sociedade”, destacou.