As portas estão abertas, mas o ambiente está vazio. A cada passo dentro do Mercado das Rocas, observa-se um cenário de dificuldade para os comerciantes. Não há público no empreendimento ‘modelo’ de Natal. São 83 boxes no prédio, e apenas sete estão em funcionamento devido ao fraco movimento de pessoas.
Antes popular, o mercado batizado de “Francisca Barros de Morais”, em homenagem a Chiquinha, da Peixada da Comadre, foi fechado no ano de 2008 para reforma geral. Foram oito anos de espera, até as obras serem concluídas em 2016.

Recém-reformado, o prédio continuou apresentando problemas na estrutura. Lojistas e clientes reclamavam de problemas com o calor em razão do teto feito de material plástico. Na época, a Prefeitura substituiu o material em uma nova reforma, que foi concluída somente em 2020, já próximo ao início da pandemia da Covid-19.
Com o cenário desolador, a maioria dos proprietários e permissionários sequer retornaram ao local para trabalhar, fruto da baixa expectativa dos comerciantes em relação às vendas no mercado. “Foi reinaugurado, mas aí veio a pandemia. Muita gente se afastou, abandonou”, disse o administrador local, José Samuel.

Na entrada principal, há apenas dois comerciantes que buscam vender seus produtos. Um deles é José Nilton, que atribui o fraco movimento à falta de publicidade e ao atraso no chamamento para novos permissionários.
“Aqui realmente está parado. Não sai na televisão, não tem publicidade. Não tem apoio de ninguém. Dizem que vai ter uma licitação. Mas essa licitação faz uns dois anos que está rolando e não liberam. Aqui está tudo parado, virando elefante branco”.
Segundo ele, muitos colegas estão na expectativa de uma licitação que permita novos lojistas no mercado público das Rocas. “Tem vários [colegas] que querem. Aqui mesmo em frente, tem uma feirinha. O povo quer vir para cá”, disse.

A menção de Nilton faz referência a uma feira popular ao lado do mercado. Ele menciona que, na época, muitos comerciantes não queriam ingressar no prédio devido ao pagamento de uma taxa, pecuniário que hoje não existe mais. “Tem 10 boxes funcionando. É uma vergonha. Se não jogar essa feirinha aqui para dentro, não melhora não”, disse.
No primeiro andar, o cenário piora. São apenas três boxes em funcionamento. Entre eles, o estabelecimento da cabeleireira Alzira da Silva, que lamenta o fraco movimento após a reforma. Ela cita o problema da subutilização do local. “Muita gente tem box e não ocupa. Essa é a verdade. A maioria desses boxes tem dono, só que as pessoas não vêm”.
Alzira afirma que muitos colegas ficam na expectativa de uma melhora do comércio para retornar ao trabalho no Mercado das Rocas. Momento esse que, até agora, não chegou. “As pessoas ficam esperando: ‘Ah, eu só vou quando tiver lotado’. Mas eu acho que as pessoas deveriam ocupar seu local, melhoraria bastante”.
Situação desanimadora que progride e prejudica o cenário atual: “É uma pena, um ambiente deste tamanho assim. Acho que esse mercado aqui é o melhor de Natal, e está assim, sem ninguém, fechado. Aqui de vez em quando sobe turista. Mas quando sobre, fica assustado, porque não vê nada. Não tem ninguém”.
De mesas postas e decoradas, e com mais de duas dezenas de cadeiras sem clientes. Esse é o ambiente do único restaurante aberto no primeiro piso. Para a dona do estabelecimento, o fraco movimento do mercado faz com que ela quase não tenha margem para lucro. Apesar do esforço, ela afirma que o investimento diário não está valendo a pena.
Licitação para novos permissionários no Mercado das Rocas

Segundo o Chefe do Setor de Mercado da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), Tarcísio Gonçalves, em entrevista ao AGORA RN, um dos principais motivos que levaram ao cenário atual é o desinteresse dos permissionários e proprietários. “Fizemos a licitação. Alguns entraram e outros desistiram. Fizemos três reuniões. Inclusive, um chamamento através do Diário Oficial. Mas poucas pessoas tiveram o interesse”.
Ele continua: “Tem muita gente querendo participar [da nova licitação]. Algumas pessoas que ganharam a licitação anterior reclamam do movimento, mas como pode ter movimento se eles não estão presentes? Tem que estar dentro do estabelecimento para melhorar”, disse.
Segundo Gonçalves, no momento, os permissionários pagam somente a conta de energia elétrica. Dos antigos proprietários, 22 tiveram direito assegurado de continuar de forma permanente no local. “A prefeitura não está cobrando nada deles. A prefeitura está querendo que eles entrem, mas eles não estão entrando”.

Para melhorar a situação, o servidor da Prefeitura garantiu que a nova licitação está próxima de ser concluída. Segundo ele, faltam apenas alguns trâmites burocráticos que serão resolvidos nos próximos meses. “O ‘problema’ do Mercado das Rocas está na Procuradoria Pública do Município, para fazer uma nova licitação. Então, estamos esperando a nova Lei de Espaço Público, para fazer a nova licitação. Daqui a um mês ou dois vai sair”, afirmou.