Fazendo as contas, proporcionalmente, foram até poucos os percalços que Luma de Oliveira viveu como rainha de bateria nas duas décadas em que desfilou na Marquês de Sapucaí. Desde aquele 1987, com os seios à mostra na Caprichosos de Pilares, com apenas 16 anos, até 2009, na Portela, com espartilho mais comportado, aos 44 anos, ela se lembra de poucos “sustos”. Luma chama de susto incidentes como o que ocorreu com a princesa da escola de samba Paraíso do Tuitiu, Mayara Lima, que viu seu tapa-sexo sambar longe do que deveria cobrir.
Como genitália desnuda é cânone proibido na Sapucaí desde 1990, carnaval seguinte ao que Enoli Lara passou por lá usando apenas uma pintura corporal como fantasia, na União da Ilha, a “queda” de protocolo de Mayara pode levar a escola a perder ponto. A princesa jura que a fantasia arrebentou por acidente e que sua genitália em nada foi desnudada. Pode acontecer? Pode. Tudo pode. A maioria das mulheres adota um band-aid cirúrgico por baixo do adereço de ferro. Sabe aquele emplastro sabiá de farmácia? É isso. Cor da pele, macio, ele protege e ao mesmo tempo fica imperceptível sob o tapa-sexo.
Imperceptível ou invisível. Em 2008, a modelo Viviane Castro desfilou na São Clemente com um tapa-sexo de 3,5 centímetros. Tão diminuto que os jurados tiraram meio ponto da escola como punição pelo nu frontal de Vivi, como era chamada. O trauma foi tão grande que ela só voltou à Sapucaí no ano seguinte. Depois disso, voltou para sua cidade natal, em Goiás, onde abriu um mercado tocado pela família.
Luma nunca usou tapa-sexo:
— Não me sinto segura.
A segurança a que ela se refere não passa pelo “balança mas não cai”. Ela acha que esteticamente nunca favoreceu seu corpo. Mas não julga quem usa, ao contrário dos jurados das escolas.
— Pode acontecer com qualquer uma na Avenida — avalia Luma, hoje com 57 anos, 13 deles já distante da posição à frente da bateria de uma escola do Grupo Especial, onde passou também por Mangueira e Viradouro.
O único grande susto que ela se lembra foi uma alça de sutiã que se desprendeu poucos minutos antes de entrar na Avenida, mas um amigo costurou a tempo.
— Sempre acompanhei de perto a confecção de cada fantasia. Desde a compra do material até os mínimos detalhes no final, com várias provas da roupa durante todo o processo. Para não correr riscos e ter mais conforto, os modelos que eu usava eram sempre leves e reforçados. Na lateral do biquíni, por exemplo, prendia cada gancho três vezes.
Outra vez, já no Desfile das Campeãs, chovia tanto que Luma preferiu tirar a sandália e cruzar a Avenida descalça:
— Se fosse no dia da apresentação oficial eu não faria, para não correr o risco de atrapalhar o andamento da escola. Isso é o que conta.