O ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo (PDT) e o ex-deputado federal Rafael Motta (PSB) poderão estar juntos no mesmo palanque nas eleições de 2024. Isso porque a Executiva Nacional do PSB, partido presidido por Rafael no RN, aprovou, na última quinta-feira 9, o início das negociações com o PDT para a formação de uma federação partidária, o que incluiria também o Solidariedade.
Pessebistas ouvidos pelo AGORA RN criticam a decisão e veem sérias dificuldades na concretização dessa aliança em âmbito potiguar.
Em 2022, Rafael e Carlos Eduardo se enfrentaram na disputa para o Senado. Na época, integrantes do PT, que apoiou Carlos Eduardo para o Senado, culpou Rafael Motta pela derrota do pedetista, uma vez que a divisão dos votos da esquerda teria favorecido o senador Rogério Marinho (PL), que acabou eleito na disputa majoritária.
Para o presidente do PSB em Natal, Frederico Rosado, a decisão aprovada pela Executiva Nacional da sigla é “complicada” a nível municipal e estadual, uma vez que há profundas divergências entre os socialistas e o PDT. Uma dessas divergências diz respeito ao próximo pleito eleitoral, quando há a perspectiva de os dois líderes partidários, Rafael e Carlos Eduardo, serem adversários na disputa pela Prefeitura de Natal em 2024.
“Eu confesso a você que para nós é muito difícil, até porque nós temos a perspectiva de Rafael Motta também ser candidato a prefeito de Natal contra Carlos Eduardo, que tem se posicionado como pretenso candidato. É complicado. Quem cederia? Eu defendo que não haja a federação”, disse Rosado em entrevista ao AGORA RN nesta sexta-feira 10.
“É horrível [a federação]. Com essa conjuntura eu não concordo. Nós temos uma linha de pensamento, o PSB é um partido socialista que defende as causas sociais, aí juntar com outros partidos que não têm a mesma linha eu não concordo e até mesmo para uma reeleição do nosso mandato, né? O PSB sozinho seria melhor, o partido sairia mais fortalecido”, defende Eribaldo.
Ele avalia que uma união entre Rafael Motta e Carlos Eduardo Alves só seria possível se houvesse uma determinação nacional da legenda. O vereador apoia, no entanto, que o partido permaneça sozinho e independente. “Quando nós somos independentes nós vamos ter voz ativa para decidir que rumo nós teremos. Por exemplo, nós podemos ter um candidato próprio para a Prefeitura de Natal”, reitera Eribaldo.
RAFAEL MOTTA. Procurado pela reportagem do AGORA RN, o presidente do PSB no RN, Rafael Motta, emitiu uma nota afirmando que o debate sobre a federação acontece neste momento entre as presidências nacionais dos partidos envolvidos, dando a entender que os reflexos dessa possível união ainda serão discutidos internamente com os integrantes da sigla no RN.
“Ontem, a Executiva Nacional do PSB sinalizou de forma positiva e consensual à formalização da federação. Agora, caberá ao PDT e ao Solidariedade avançarem dentro das suas instâncias deliberativas. A expectativa é que discussões sobre cenários locais ocorram posteriormente. Por ora, a pauta ainda não vem sendo discutida regionalmente”, diz a nota assinada por Rafael.
Carlos Eduardo não foi localizado pela reportagem.
Federação fortaleceria oposições a Fátima e Álvaro, analisa professor
Para o professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o cientista político Antônio Spineli, há grande possibilidade de a federação partidária ser efetivada, já que a ideia da formação é fortalecer cada um dos partidos individual e coletivamente.
Ele também acredita que, caso a união se concretize, isso poderá significar o fortalecimento de uma oposição à governadora Fátima Bezerra (PT) e ao prefeito Álvaro Dias (Republicanos), tidos como lideranças influentes e antagônicas no âmbito local. A nova aliança partidária chegaria na disputa de 2024 como uma espécie de terceira via.
O PT trabalha o nome da deputada federal Natália Bonavides. Já o prefeito Álvaro Dias, que não poderá ser candidato em 2024, ainda pensa em um nome a quem apoiar.
“A formação dessa federação poderia vir a constituir uma terceira força e tem nomes de peso, como Carlos Eduardo, que foi prefeito três vezes, foi candidato a governador, a senador e você tem Rafael Motta, uma liderança jovem que foi bem votado para o Senado, ou seja, tem nomes que podem se contrapor às duas forças hegemônicas”, analisa Spineli.
Apesar do fato de Rafael Motta e Carlos Eduardo terem subido em palanques contrários em 2022, Antônio Spinelli acredita na possibilidade de uma união entre os dois, o que fica implícito na aparente concordância de Rafael com a formação da federação, uma vez que ele esteve presente na reunião da executiva que decidiu consensualmente, em Brasília, pelo início do diálogo com os demais partidos.
LULA INIBIDO. Caso a federação se consolide, Antônio Spinelli prevê um problema adicional para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições municipais de Natal.
Para o especialista, uma possível candidatura a prefeito vinda da federação PSB-PDT-Solidariedade poderia inibir o presidente com relação à disputa na capital potiguar, uma vez que a federação também integra a base do governo petista a nível federal.
“Então, isso poderia ocasionar mais uma dificuldade para a governadora Fátima Bezerra de talvez não poder contar com o seu principal apoio no plano federal”, opina o professor.
FEDERAÇÃO. Na prática, a aprovação da Executiva Nacional do PSB autoriza o presidente nacional a estabelecer o diálogo com os partidos envolvidos. A reunião que aprovou oficialmente o início das discussões interpartidárias contou com a participação do vice-presidente da República Geraldo Alckmin, do ministro Márcio França (Portos e Aeroportos), dos governadores João Azevedo (PB) e Renato Casagrande (ES), dos líderes no Senado, Jorge Kajuru, e na Câmara, Felipe Carreras.
Pelo Twitter, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou que a formação da federação partidária foi aprovada por “ampla maioria” e “dá uma outra dimensão aos partidos federados”, além de criar o que ele chama de “uma nova força de centro-esquerda no país”.
Siqueira avalia que a realidade do sistema político exige o que ele chama de “racionalização do número de partidos no país”. Com a formação dessa federação, ele acredita que o PSB pode “ampliar a base de apoio ao campo progressista nas eleições de 2024 e 2026”.
No documento partidário, os socialistas ponderam que uma federação com partidos como o PDT e SD, que possuem tamanho mais equivalente ao PSB, permitiria um equilíbrio necessário à tomada de decisões e ao respeito à autonomia de cada legenda.
Criado pelo Congresso e regulamentado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o modelo da federação facilita que siglas pequenas escapem da cláusula de barreira, dispositivo que restringe a atuação de um partido que não alcançar determinado patamar de votos. A Regra condiciona, por exemplo, o acesso a recursos do fundo partidário e ao tempo de rádio e TV ao desempenho nas eleições.