As fortes chuvas que atingem Natal desde a noite de terça-feira 18 voltaram a expor as fragilidades do sistema de drenagem urbana da capital potiguar. Em apenas 24 horas, foram registrados mais de 130 mm de chuva na maioria das regiões da cidade, com picos que superaram os 150 mm em Ponta Negra, segundo dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb). O volume provocou o transbordamento de lagoas de captação em vários pontos da cidade, afetando principalmente bairros da Zona Norte.
O caso mais crítico foi registrado nas imediações da lagoa do loteamento José Sarney, onde o transbordamento invadiu ruas e atingiu residências. A prefeitura reconheceu que a limpeza da lagoa, embora necessária, não é suficiente para evitar novos alagamentos.

“A lagoa passou por processo de limpeza, mas isso não é suficiente. Precisamos fazer uma obra de interligação das lagoas. O processo está em andamento, com empresa já contratada. Estamos na fase de mobilização para início da obra”, explicou a secretária de Infraestrutura de Natal, Shirley Cavalcanti, em coletiva de imprensa na última quarta-feira 18.
Ela destacou ainda que muitas lagoas funcionam com a cota máxima mesmo fora do período chuvoso devido ao volume de esgoto clandestino lançado nas estruturas. “Elas deveriam estar sempre vazias e encher no período chuvoso”, afirmou.
De acordo com a titular da pasta, há um esforço permanente de desobstrução da rede. “Temos um processo contínuo de limpeza e desobstrução das redes de drenagem. Já retiramos 12 mil toneladas de lixo”, pontuou.
A secretária municipal de Assistência Social e primeira-dama do município, Nina Souza, foi mais enfática e traçou um prazo para a solução do problema. “Na Zona Norte, só temos 3% de saneamento. Houve descaso em relação a isso. Em dois anos, queremos zerar o problema das lagoas. A gente pede paciência, mas estamos no início da gestão. Até o fim de 2026, a gente vai ter os problemas equacionados, porque essa é a ordem do prefeito Paulinho Freire”, afirmou Nina.
A declaração gerou reação da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern). O presidente da empresa, Roberto Linhares, afirmou que o problema principal é o excesso de chuva, não o esgoto. E disse que, se houver esgoto na rede de drenagem, esta ligação é clandestina e é o Município que precisa combatê-la.
“As lagoas de captação carream água de chuva. Natal precisa de obras de macrodrenagem e microdrenagem. A cidade não suporta uma chuva de 110 mm, como a que ocorreu. Pode haver contribuição de esgoto clandestino? Pode. Mas ela é mínima comparada com o volume de água da chuva. E a responsabilidade pelo tamponamento dessas ligações é do Município, que tem poder de polícia”, rebateu.
As discussões ocorrem enquanto moradores enfrentam perdas e prejuízos. Na região do José Sarney, casas foram invadidas pela água, móveis foram perdidos e muitas famílias precisaram buscar abrigo com parentes.
Natal possui 82 lagoas de captação, sendo 11 classificadas como críticas com base em relatórios da Defesa Civil e da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb).

Assistência
Enquanto o problema não é resolvido, mais de 200 famílias estão sendo atendidas no bairro José Sarney, segundo informou a secretária de Assistência Social, Nina Souza. O atendimento às famílias inclui a realização de cadastro e a entrega de mantimentos, roupas, material de higiene pessoal, colchões e produtos de limpeza.
O protocolo de assistência inicia com o acionamento pelo número 190. “Vocês vão entrar em contato com a Defesa Civil. Nesse momento, elas entram em contato com a nossa equipe de calamidades e ela se dirige ao local. Quando chega lá, ela faz a declaração do cadastro e aciona a Secretaria para que possa liberar todos os mantimentos”, explicou a secretária.
Nina também relatou a necessidade de organização para garantir que os atendimentos cheguem a quem realmente precisa: “Nós temos que dar assistência de fato, de imediato, a quem está com sua casa com problemas e tem que ser deslocado. Mas muitas vezes, quando a informação chega, pessoas que não estão nesse foco vão até o local e atrapalham um pouquinho essa nossa dinâmica.”
Além do bairro Sarney, a equipe também foi acionada para Cidade Nova. “Os dados estão chegando e nós estamos com calma ainda pelos locais”, informou. Os depósitos com insumos já estão abastecidos. “Nós já tivemos esse movimento de julgamento, esse próprio mês das chuvas. Então, não vai faltar absolutamente nada. E nossos depósitos já estão todos assistidos.”
Santarém
Uma área que já percebe o fim dos transtornos com alagamentos é o entorno da lagoa do Conjunto Santarém. Entraram na fase final as obras de requalificação e urbanização do entorno da lagoa. De acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra), os serviços devem ser finalizados ainda em junho.
Orçada em R$ 4,5 milhões, a obra prevê o aumento da capacidade da lagoa, de 10 mil para 55 mil metros cúbicos. Além disso, novas bombas foram instaladas no local. Taludes foram adequados e uma nova estação elevatória foi construída.
O objetivo, de acordo com a Seinfra, é que a lagoa suporte volumes mais intensos de chuva, evitando transbordamento de água para propriedades no entorno.
A lagoa também está ganhando, em seu entorno, uma arena de grama sintética, uma ciclovia, pista de caminhada, pista de skate, mobiliário urbano, paisagismo e iluminação pública em LED.
A obra incluiu, ainda, a implantação de um novo sistema de drenagem na Rua Tarauacá, que sempre alagava em dias de chuva. “Desde que a obra foi finalizada, não registramos mais nenhum ponto de alagamento na região, mesmo em dias de chuva forte”, afirma a secretária da Seinfra, Shirley Cavalcanti.