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Pandemia

Um novo desafio contra a Covid-19: vacinas com validade prestes a expirar

Canadá vai estender prazo de quase 50 mil doses da AstraZeneca; acúmulo em países ricos traz problemas logísticos para os mais pobres, sem tempo de preparar sistemas de saúde para uma chegada com regularidade incerta
O Globo
31/05/2021 | 11:28

O mundo ainda não resolveu o desafio de produzir vacinas contra a Covid-19 suficientes para toda a sua população, mas um grande novo desafio começa a surgir no horizonte: evitar que centenas de milhares de doses já fabricadas sejam destruídas porque suas validades expiram antes de serem administradas. Nesta situação existem países com situações econômicas muito opostas, como Canadá, Malauí e Sudão do Sul.

O governo federal do Canadá pediu a suas províncias nesta semana que evitem “o desperdício” de milhares de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca que expiram nos próximos dias, de acordo com a carta enviada quinta-feira pela ministra da Saúde, Patty Hajdu. Uma rejeição a essa vacina e o hiato de seu uso em março, após a detecção dos primeiros casos raros de trombose, estão por trás de um problema contra o qual Hajdu agora oferece meios “logísticos e de coordenação” para que frascos não utilizados em algumas províncias cheguem em outras antes que a validade expire.

Um novo desafio contra a covid-19: vacinas com validade prestes a expirar
Foto de arquivo mostra caixa contendo frascos da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19 Foto: ALAIN JOCARD / AFP

Neste sábado, as autoridades de saúde canadenses anunciaram que estenderão o prazo de validade de quase 50 mil doses do imunizante da AstraZeneca, que deveriam expirar em 31 de maio, por um mês. O Ministério da Saúde do país informou em um comunicado que a decisão é “baseada em dados científicos sólidos”.

Na África, com a cobertura vacinal mais baixa do planeta, Malauí teve que destruir 20 mil doses e o Sudão do Sul outras 59 mil. Elas atingiram a data de validade em 13 de abril sem que os fracos sistemas de saúde dos países pudessem administrá-las. Em ambos os casos, as doses — também da AstraZeneca, fabricadas pelo Instituto Serum, da Índia — haviam sido enviadas semanas antes da África do Sul, que por sua vez havia parado de usá-las por serem menos eficazes contra a variante que atinge o país.

Países diferentes com realidades muito diferentes, mas um mesmo problema que os especialistas atribuem a uma causa comum. Guillem López-Casasnovas, diretor do Centro de Pesquisa em Economia e Saúde da Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona, argumenta:

— Os países ricos aplicaram uma política de segurança com a compra massiva de doses, várias vezes acima de suas necessidades, e a ideia de reenviar mais tarde o que eles não precisavam. Mas é um sistema que tem mil problemas logísticos e grandes riscos — afirmou.

O Canadá é o país que mais adquiriu doses em relação à sua população: mais de 400 milhões para 37 milhões de cidadãos. E embora ainda não tenha chegado ao ponto de ter mais vacinas — a maior parte desses compromissos são no futuro — a expectativa dos cidadãos de receber as que são percebidas como mais seguras tem gerado suspeitas em relação à da AstraZeneca. Uma pesquisa revelou que apenas um em cada três canadenses se sentiria confortável tomando esse imunizante.

Hong Kong, que também adquiriu doses para imunizar várias vezes seus 7,5 milhões de habitantes, enfrenta o desafio de administrar “milhões de unidades da Pfizer/BioNTech nos próximos três meses, antes que expirem”, relata a imprensa local. O território deu início ao sorteio de um apartamento avaliado em mais de um milhão de euros a título de incentivo. Todos os vacinados poderão participar.

Na outra ponta da escala de renda global, especialistas lamentam que esse acúmulo tenha deixado os países mais pobres na fila, com muito poucas vacinas e sem espaço para planejar ou preparar seus enfraquecidos sistemas de saúde para a chegada de doses com uma regularidade incerta e uma data de expiração próxima.

Dimitri Eynikel, membro do escritório europeu dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Bruxelas, defende:

— É possível completar com sucesso as campanhas de vacinação em massa na África. Fazemos isso há anos, mas é algo que exige planejamento. Não se trata de doar vacinas e pronto. O seu pessoal de saúde já está trabalhando nos hospitais e não pode ser trocado de um dia para o outro — afirmou.

Matthew Herder, diretor do Instituto de Direito Sanitário da Universiadade de Dalhousie, no Canadá, critica “a resposta estritamente nacionalista dada por governos ao redor do mundo sabendo que a pandemia, por definição, representa uma séria ameaça à saúde global”.

— Todas as iniciativas que poderiam ter melhorado o acesso e distribuição de vacinas em escala global não receberam o apoio dos países ricos — lamenta.

Irene Bernal, pesquisadora da organização independente Saúde por Direito, lembra que a Covax, aliança da qual participam quase 200 países e organizações como a OMS, deveria ser um mecanismo chave para “a compra de 2.000 milhões de doses e sua distribuição em 92 países, além de canalizar doações públicas e privadas para que isso seja possível”. Uma iniciativa que, lamentam todos os especialistas consultados, não consegue sequer vislumbrar o momento em que alcançará o seu primeiro objetivo, considerado modesto, de vacinar 20% da população dos países mais pobres.

O Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) está programado para discutir nos dias 8 e 9 de junho a iniciativa liderada pela Índia e África do Sul, patrocinada por mais de 60 países, para liberar patentes de vacinas e outros produtos para a saúde necessários para combater a pandemia. É uma tentativa de aumentar a produção mundial ainda insuficiente, mas que de qualquer forma crescerá de forma bastante notável nos próximos meses, segundo projeções e acordos da indústria farmacêutica.

Um cenário em que os especialistas temem que haja uma cascata descoordenada de doações de vacinas de países de renda mais alta para países de renda mais baixa. López-Casasnovas avisa: “Os riscos e custos são enormes”.

— Se algo desse errado com algum desses lotes e se espalhasse a ideia de que os países ricos prejudicam a saúde dos pobres, o golpe seria enorme. Mas, além disso, os custos logísticos são gigantescos. Se distribuir vacinas para cada município de um país rico já é muito caro, fica muito mais caro fazer o processo reverso para recuperá-las e enviá-las para um outro país — acrescenta.

Para Dimitri Eynikel, a boa notícia é que “ainda não chegou o momento em que os países ricos tenham milhões e milhões de vacinas sobrando”. O exemplo é o da União Européia, onde praticamente todas as doses que estão chegando são administradas porque a demanda continua sendo maior que a oferta. “Esse cenário não deve ocorrer daqui a alguns meses”, prevê.

Um tempo que, segundo todos os especialistas, é necessário aproveitar para fortalecer a Covax e os demais mecanismos multilaterais contra a pandemia. Um porta-voz da Comissão Europeia confirma que a UE “reservou um número significativo de doses também para países de baixa e média renda”.

“A Comissão e os Estados-Membros chegaram a acordo sobre os mecanismos necessários para permitir uma maior distribuição destas doses aos países que delas necessitam”, acrescentou.

Embora as estratégias de vacinação dependam, em última análise, dos estados, a meta da União é doar 100 milhões de doses a terceiros países, a maioria por meio da Covax. Esses números, no entanto, representam uma parte mínima das necessidades da aliança, razão pela qual cálculos da The Economist Intelligence Unit indicam que os 85 países mais pobres “não receberão as doses de que precisam até 2023.”

Por enquanto, os países da UE assinaram dois acordos relevantes para a transferência de vacinas para outros países. A França doou 100 mil doses para a Mauritânia no final de abril, e a Áustria canalizou a doação de outras 650 mil para vários países dos Bálcãs. A Espanha, por sua vez, prometeu doar 7,5 milhões de vacinas à América Latina até o final do ano.

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