David César, aos 32 anos, será um dos integrantes da equipe Pocorrê no Rally dos Sertões, que começa nesta sexta-feira. Mineiro, ele nasceu sem as pernas e os braços e vai integrar o time na aventura como uma forma de estimular a inclusão – e não a superação, narrativa que ele classifica como capacitista. A trajetória motorizada começa nesta sexta-feira, na praia de Pipa, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte.
O Rally dos Sertões vai percorrer sete estados durante cerca de nove dias. O reforço de César para o time veio depois do convite do médico Ricardo Cabral, de 47 anos, diretor da empresa de saúde onde o mineiro trabalha e também líder da Pocorrê. Ao todo, a equipe terá dez integrantes. As informações são do portal Metrópoles.
A ideia de fazer parte de uma equipe no rally, para David César, é sinônimo de inclusão. Segundo ele, é importante mostrar que pessoas com deficiência também podem integrar os mesmos espaços que aqueles que não têm.
— Estou aqui para que as pessoas se acostumem com um ‘corpo estranho’ — contou, ao Metrópoles.
A deficiência do mineiro o acompanha desde o nascimento. A razão é a Síndrome de Hanhart, uma condição congênita rara que interfere no desenvolvimento físico do embrião, durante sua gestação, mas não causa efeitos na capacidade intelectual.
César destaca, no entanto, que não quer ser visto como um exemplo de superação. Ele explica que “isso é capacitismo”, ou seja, preconceito e discriminação por sua deficiência física. O mineiro reconhece as dificuldades que enfrentou, mas diz que elas talvez não sejam piores que as de outras pessoas.
— Consegui me virar bem, moro sozinho, tenho autonomia física e financeira — afirma.
Por isso, sua presença no Rally dos Sertões é importante, de acordo com ele. Para César, não é um feito excepcional, mas uma oportunidade que deveria ser dada também a outras pessoas com deficiência, que podem ocupar espaços e funções como qualquer um. O mineiro disse ao Metrópoles que sua participação é uma forma de causar impacto e defender a inclusão.
— Estar em outros espaços, permite que as pessoas me vejam. Isso é uma maneira de mostrar a diversidade existente e de defender a inclusão. No início, eu era um pouco medroso. Agora digo, pocorrê — brinca, em alusão ao nome de sua equipe, que faz referência a ‘pode correr’ no dialeto de Minas Gerais.