A vereadora Camila Araújo (União Brasil), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Natal, destacou os principais desafios enfrentados pela rede pública de saúde da capital potiguar durante entrevista ao Jornal da Cidade. Entre os problemas, ela citou a falta de recursos humanos, a infraestrutura precária das unidades e a superlotação nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), agravada pelo atendimento a pacientes de outros municípios.
“O maior gargalo do município de Natal é o RH [Recursos Humanos], principalmente na área técnica, os técnicos de enfermagem”, afirmou Camila. Ela explicou que muitos profissionais foram contratados temporariamente durante a pandemia de Covid-19 e que o Ministério Público cobra a realização de um concurso público para regularizar a situação. “Precisamos de auxiliares de dentistas, odontólogos e auxiliares de farmácia. O corpo de RH é um dos maiores gargalos que o município tem e precisa solucionar”, disse.

A vereadora também criticou a infraestrutura das unidades de saúde. Durante fiscalização na UPA da Cidade da Esperança, a comissão identificou a necessidade urgente de reformas. “É um prédio todo formado em chapas de aço, e em uma cidade litorânea, é muito propenso a ferrugem. A UPA não comporta a demanda que está recebendo”, relatou.
Outro problema apontado por Camila é a superlotação das UPAs, que atendem não apenas moradores de Natal, mas também pacientes de outros municípios e até de outros estados. “Natal tem uma população de cerca de 751 mil habitantes, mas há mais de 1 milhão e 300 mil cartões de SUS emitidos”, destacou. Ela explicou que, embora as UPAs não possam negar atendimento, o custo desses serviços não é repassado aos municípios de origem dos pacientes. “Natal paga sozinha a conta da saúde do estado”, afirmou.
A vereadora também chamou atenção para a falta de profissionais especializados, como neuropediatras. “Temos apenas um médico neuropediatra pelo SUS para atender toda a população. Há uma demanda reprimida de cerca de duas mil crianças e adolescentes que precisam de diagnóstico e tratamento para transtornos como TEA [Transtorno do Espectro Autista] e TDAH [Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade]”, disse. Ela informou que o secretário municipal de Saúde, Geraldo Pinho, já está trabalhando em um chamamento público para contratar mais neuropediatras.
Camila Araújo elogiou a postura do atual secretário, que tem participado das reuniões da Comissão de Saúde e buscado soluções para os problemas identificados. “Ele reconhece a importância da Comissão de Saúde e do Poder Legislativo. Isso é positivo para dar fluidez às ações”, afirmou.
A vereadora também criticou o fechamento de unidades estaduais de saúde, como o hospital psiquiátrico João Machado, o que sobrecarrega as UPAs. “Pacientes em surto psicótico ficam contidos em cadeiras ou macas por até 15 dias, colocando em risco a própria vida, a dos profissionais e a dos outros pacientes”, denunciou.
A Comissão de Saúde tem encaminhado relatórios com as demandas identificadas para a Secretaria Municipal de Saúde e, em alguns casos, para o Ministério Público. “Precisamos fortalecer as unidades básicas de saúde para que a população volte a buscar atendimento nelas, e não diretamente nas UPAs”, concluiu Camila.