Celebrar a diversidade e riqueza dos países que têm a língua portuguesa como idioma nativo é o principal objetivo do Festival da Lusofonia. Com a 27º edição realizada na cidade de Macau, na China,
o evento, que ocorreu no último fim de semana de outubro e primeiro de novembro, contou com
atrações gastronômicas, jogos, dança e música. Convidado para ser um dos representantes do
Brasil, o cantor potiguar Filipe Toca surpreendeu o público ao final do show ao mostrar a bandeira
do Rio Grande do Norte, estado que nasceu, cresceu e desenvolveu suas habilidades musicais.
Filipe conta que a escolha da bandeira do RN, ao invés da do Brasil, foi uma escolha pessoal para que o momento fosse registrado e o fizesse sempre lembrar dos lugares que a música poderia levá-lo. “Eu sou um cara nascido e criado em Natal, no Rio Grande do Norte, que é uma cidade relativamente pequena comparado ao restante do Brasil, o estado do Rio Grande do Norte também, e muitas vezes subestimado culturalmente”, diz ele, ao AGORA RN.
O artista acrescenta que o momento foi importante para refletir que, assim como cidades
maiores do país, como Recife e Salvador – berços de grandes representatividades musicais mundialmente conhecidas – o estado potiguar também é um polo rico em musicalidade. “Eu quis levar essa bandeira como um reforço dessa mensagem de que eu saí de um lugar pequeno, mas que tem coisas grandiosas”.
Durante o show que contou com músicas clássicas da MPB, forró, reggae e ijexá, a recepção do público conseguiu surpreender quem estava no palco, afirma Filipe. Além disso, ele relata que as músicas tradicionais do Brasil, que são comumente chamadas de “músicas de velho” não passam de uma construção social vinda de um nicho muito específico de pessoas.
“Lá eu vi pessoas curtindo esse tipo de som simplesmente pelo que ouviu. Dava para ver que elas não sabiam que música era, não sabiam que artista era, mas estavam lá ouvindo aquilo. Então não tinha essa história de música para isso, música para aquilo, é simplesmente música, e isso foi maravilhoso. O público chinês se mostrou muito receptivo, e eu fiquei feliz demais com o carinho deles comigo e com a minha banda toda”.
Sendo a primeira experiência de Filipe Toca indo ao exterior a trabalho, ele comenta que recebeu o convite de surpresa e passou a acreditar apenas faltando um mês para embarcar. Acompanhando ele, toda a banda – um total de oito pessoas – foi para o festival. “Montamos esse show aí com um repertório super brasileiro e, no final das contas, quando a gente terminou o show, que tava todo mundo feliz pra caramba, foi muito bom abraçar meus colegas de trabalho, meus amigos e poder comemorar isso com eles”, expressa.
A música brasileira pelo mundo
Para Filipe Toca, a música brasileira possui uma força única e é muito valorizada fora do Brasil. Ele reconhece que, apesar do consumo interno da música nacional ser grande, ainda há uma tendência de artistas brasileiros quererem se adaptar aos padrões internacionais, muitas vezes em busca de uma maior aceitação no mercado global.
“A valorização da música brasileira é absurda mundo afora, eu diria até que mais do que aqui dentro do próprio Brasil. O Brasil é sim um país que consome muito a sua própria cultura, mas ainda hoje existe uma tendência muito forte das coisas gringas chegarem aqui e tomarem conta de tudo”, relata.
Segundo Toca, enquanto o Brasil consome sua própria cultura em nichos como sertanejo, funk, pagode, entre outros, existe uma forte influência das culturas internacionais, especialmente a americana, que acaba moldando a produção musical de muitos artistas brasileiros. No entanto, ao se apresentar no festival, o cantor sentiu a valorização do público com os ritmos brasileiros. “Quando você sai para qualquer outro lugar e começa a tocar músicas que são tradicionalmente brasileiras, seja a bossa nova, samba, axé ou forró, as pessoas valorizam demais. É como se fosse um tesouro”