A Polícia Federal (PF) encontrou registros de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tentou produzir provas que relacionassem ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e deputados federais de oposição ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A informação consta em relatório enviado ao STF para pedir buscas em endereços ligados ao deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, e a outros servidores da agência na Operação Vigilância Aproximada, deflagrada nesta quinta.
“As ações apresentaram viés político de grave ordem representando mais um evento de instrumentalização da Agência Brasileira de Inteligência”, defende a PF.
O documento afirma ainda que houve uma tentativa de “criar fato desapegado da realidade” para associar parlamentares e os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, do STF, à organização criminosa. As notícias falsas circularam em grupos bolsonaristas.
Ramagem é investigado porque, segundo a PF, teria autorizado investigações paralelas, sem autorização judicial e sem indícios mínimos de materialidade que justificassem as apurações. Procurado pela reportagem, ele ainda não se manifestou.
A investigação foi aberta depois que a PF descobriu que a Abin usou o software First Mile para espionar adversários políticos de Bolsonaro. A lista inclui o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, governadores e parlamentares de oposição ao ex-presidente, como a ex-deputada Joice Hasselmann, e ministros do Supremo Tribunal Federal. Já o ministro da Educação, Camilo Santana, na época governador do Ceará, teria sido monitorado com drone.
O programa não permite o grampo de mensagens e ligações, mas dá acesso à geolocalização em tempo real e a dados pessoais registrados junto a operadoras de telefonia. A capacidade de monitoramentos simultâneos do programa ainda é investigada. O sistema espião teria sido usado mais de 60 mil vezes pela Abin entre fevereiro de 2019 e abril de 2021, segundo a PF.
Sob Ramagem, Abin agiu para ajudar Jair Renan e Flávio Bolsonaro, indica PF
A Polícia Federal aponta que a Abin foi usada, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), para beneficiar Jair Renan e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filhos do ex-presidente.
A PF afirma que a Abin tentou produzir uma prova a favor de Jair Renan e fez relatórios para a defesa de Flávio. As informações estão no relatório que embasou uma operação ontem contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi diretor da Abin no governo Bolsonaro. Buscas foram realizadas em endereços do deputado. Sete policiais cedidos à Abin foram afastados das funções.
A ajuda a Flávio está ligada ao chamado caso das rachadinhas. Segundo a investigação, um policial federal que estava cedido à Abin produziu pelo menos dois relatórios de inteligência para dar suporte à defesa do senador.
O caso de Jair Renan tem relação com um suposto caso de lobby. O filho do presidente era investigado por supostamente usar sua influência no governo federal em favor de uma empresa de mineração. A Abin teria agido para produzir provas que beneficiariam o filho do presidente.