Ontem, 25 de março de 2024. O meu filho falecido Ney Lopes Júnior completaria a idade mística de 50 anos de idade, quando os sonhos se renovam e a vida ganha mais forma e sentido. Disse bem o poeta parnasiano Olavo Bilac, que “não há alma que possa viver sem saudades. Lembrar é viver e reviver. A certeza do hoje nasce da lembrança do ontem: um homem sem recordações seria uma pedra inerte… “.
Em 25 de março de 1974, ele chegava para viver ao meu lado, de Abigail, da família, como um presente de Deus. Desde cedo, mostrava-se sociável e simpático. No final da vida, entre muitos males, severa depressão tirou-lhe essa alegria na convivência social.

Para exercer mandato de deputado federal, fomos morar em Brasília. Jovem há algumas histórias pitorescas com ele. No colégio ter familiares políticos era maldição. Certa vez, viajei em missão parlamentar e trouxe-lhes uns “chicletes americanos”. Ele presenteou a alguns colegas, que lhe indagaram como conseguira guloseima tão boa. Ney Jr logo explicou: “meu pai é piloto de avião”. Caso dissesse que era político, seria massacrado.
Sempre considerei viajar como aprendizado. Viajamos muito em família. Quando ele tinha dez anos, estivemos na Grécia. Ao visitarmos ruína histórica, Ney Jr reclamou: “não gosto de ver pedras e areia”. Em Viena, levei-os para concerto de valsa. Durante a apresentação, percebi Ney Jr olhando a programação com atenção. Perguntei-lhe se gostava. Ele respondeu: “estou vendo quando tempo falta para terminar”.
Cinquenta anos depois, choro a sua partida. Como disse Mario Quintana: “O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo…”. Sofri o pesadelo de todo pai, com a inversão da ordem natural das coisas, que é a perda de um filho. A morte é um ponto final. A dor da perda de alguém dói, mas a perda de um filho é chama escaldante, permanente e próxima do nosso corpo. Representa o rompimento de vínculo especial, que é difícil de descrever em palavras. Eu nunca pensei que a saudade pudesse doer tanto. Viverá comigo, até partir para perto dele.
Entendi o desígnio de Deus, mas não aceitei, ainda. Lembro o nome dele 24 horas por dia e rezo Ave Maria votiva. Teria futuro pela frente. Sinto que perdi parte de minha história e de mim mesmo. Sempre me lembrarei das suas histórias, do seu carinho e do som da sua risada. “A morte é um ponto de partida para o início de algo novo, a fronteira entre o passado e o presente” (Fernando Pessoa).
Ney Jr, ainda no ataúde, a caminho da cremação, com os lábios toquei-lhe a testa fria para a última e costumeira saudação, que lhe fazia, nas chegadas e despedidas. Dei-lhe “um cheiro na cabeça” Agora, “Descansa em Paz, Filho!”