06/08/2020 | 00:33
O cuidado com a saúde bucal tem relação íntima com a saúde geral e, por isso, não manter os dentes e gengivas limpos e saudáveis podem agravar, e até levar, à enfermidades, como doenças cardiovasculares e diabetes – patologias que integram o grupo de risco do novo coronavírus – segundo estudos científicos apontados por dentistas.
A necessidade de ficar em casa para evitar contaminação pelo vírus causador da Covid-19 fez com que muitos pacientes cancelassem as consultas agendadas previamente com os odontologistas, que viram suas receitas financeiras despencarem desde março, quando a pandemia atingiu o Rio Grande do Norte. No entanto, ao longo das últimas semanas, o cenário já é diferente. Alguns profissionais estão hoje com a agenda lotada de clientes.
A dentista potiguar Cecília Aguiar revela que a quantidade de atendimentos realizados por ela reduziu pela metade, caindo de quatro pacientes por turno para dois. A diminuição foi resultado do alinhamento das pessoas em quarentena com as recomendações das autoridades de saúde, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), que indicaram restrição dos atendimentos aos casos de urgência e emergência.
“Tenho atendido presencialmente no consultório pacientes que estão tendo algum problema que precisa de solução imediata, como uma prótese machucando, uma hemorragia ou alguma danificação no dente. Mas o tratamentos estéticos e as limpezas preventivas, por exemplo, foram suspensos temporariamente“, explica.
Cecília pontua que a decisão visa proteger o paciente de uma possível transmissão cruzada, dado que os procedimentos odontológicos tem contato direto com a saliva – um dos meios de contaminação da Covid-19.
Para reduzir o risco de contágio na clínica que atende em Candelária, Zona Sul de Natal, a profissional implantou um protocolo sanitário que inclui intervalo entre uma consulta e outra para que seja realizada a desinfecção do espaço, atendimento em horário previamente agendado a fim de evitar aglomeração na recepção, instalação de tapetes sanitizante e uso de álcool em gel e máscara por clientes e funcionários.
Apesar das dificuldades inerente do período vigente, a dentista teve crescimento de 1500% nos atendimentos domiciliares de pessoas que têm condições de ir ao consultório, mas optaram pela comodidade de ser atendida em casa, o que garante mais segurança em relação ao contágio do vírus. Cecília Aguiar conta que realizava apenas uma consulta residencial por mês de pacientes saudáveis, que não tinha doenças que os impedissem de se deslocarem até a clínica, mas que, por causa da pandemia, passou a atender de três a quatro pacientes com este perfil por semana.
“Antes da pandemia, o atendimento domiciliar tinha como foco pessoas com dificuldades de locomoção e que estavam em tratamentos, como contra o câncer, visto que é um atendimento mais caro. Consultava, em média, 50 pacientes por mês, que permaneceram mesmo com a pandemia. Agora, há uma procura por este serviço também de pacientes que não possuem limitações, mas que preferem a segurança do lar”, confidencia.
O receio dos pacientes de saírem de casa também foi sentido pela dentista natalense Cabita Torres, que comenta ter tido atendimentos cancelados por pacientes que estavam com receio de sair nas ruas. Atualmente, a demanda voltou a crescer.
Atendendo presencialmente em horário reduzido na clínica localizada em Petrópolis, Zona Leste da capital, a agenda da profissional só tem vaga para consulta a partir do dia 14 de agosto. Até pouco tempo atrás, a realidade era diferente. “Há um mês, mais ou menos, os atendimentos voltaram a crescer, tanto que estou com horário disponível para daqui a mais de uma semana. Logo no começo da pandemia, tinha uns dois dias na semana que eu não atendia ninguém em um dos turnos. Acredito que a melhoria no serviço de saúde, com o maior número de Unidades de Terapia Intensiva disponíveis, aumentou a confiança dos clientes”, reflete.
Pandemia afetou estudos
A crise sanitária que atingiu todo o mundo de forma inesperada também modificou o planejamento do estudante de Odontologia, Alex Xavier. Graduando em uma universidade privada em Natal, o jovem concluiu o 9º período do curso nesta semana, como consequência das aulas interrompidas no final de março serem retornadas apenas em 1º de julho. A expectativa é que o curso seja concluído ainda em dezembro de 2020.
Alex Xavier, que atende no Centro Integrado de Saúde da universidade que estuda, notou queda na procura pelos atendimentos odontológicos. Ele costumava consultar seis pessoas, em média, por semana. Atualmente, o quantitativo chega a quatro pessoas semanais.
“No início da pandemia os serviços odontológicos eletivos tiveram uma grande baixa na procura. Não foram iniciados novos tratamentos nesse período, pois os atendimentos foram destinados para tratamentos previamente iniciados e atendimentos de urgência e emergência. Agora em julho voltou a crescer”, destaca.
As consultas odontológicas na universidade foram interrompidas nos meses de abril, maio e junho, tendo retorno apenas em julho. Para o estudante, tal suspensão gerou um grande déficit no aprendizado e prática manual que são tão necessário para a rotina clínica. “Após o retorno foi criada toda uma nova estratégia de prevenção de contaminação na rotina acadêmica, que afetou, consequentemente, o tempo e a quantidade de atendimentos por dia”, expõe.
O protocolo desenvolvido contém um conjunto de ações de biossegurança voltadas para a prevenção e proteção dos profissionais, estudantes e pacientes, como a incrementação de jalecos descartáveis, pijamas cirúrgicos, máscaras de proteção adequadas, face-shields e a constante desinfecção das mãos. “A limpeza das mãos, por exemplo, é feita sempre de forma bem expostas para que o paciente tenha acesso visual ao protocolo realizado para que se aumente, assim, a confiança dele”, apresenta.
A adoção de protocolos fez com que o número de profissionais da Odontologia infectados esteja abaixo da média nacional da população, de acordo relatório nacional concedido pelo Ministério da Saúde, a pedido do Conselho Federal de Odontologia (CFO).
O documento destaca, ainda, que os Cirurgiões-Dentistas, Auxiliares e Técnicos em Saúde Bucal representam o menor índice de contaminados entre os profissionais da saúde que estão na linha de frente contra a Covid-19. No total de pessoas infectadas no Brasil até 8 de julho – quando a pesquisa foi divulgada – 0,17% são Cirurgiões-Dentistas, o que representa 2.737 de profissionais contaminados
O conselho acredita que a rápida atuação foi decisiva para esse cenário, em virtude da suspensão do atendimento eletivo na rede pública de saúde e do fortalecimento no rigor da biossegurança em procedimentos odontológicos. Segundo o Presidente do CFO, Juliano do Vale, as medidas adotadas refletem no baixo contágio à categoria e, consequentemente, aos pacientes nesse período.
“A estatística do Ministério da Saúde revela a capacidade e o preparo do Cirurgião-Dentista com a biossegurança. A Odontologia brasileira está dando exemplo de como continuar os atendimentos e proteger a população, ainda que em tempos de pandemia”, completa.