A praia de Ponta Negra está em processo de transformação após o projeto de engorda. Segundo o geólogo Venerando Amaro, as alterações geomorfológicas causadas pelo depósito de sedimentos na orla criaram um novo ambiente que ainda está longe de se estabilizar. “A praia que nós conhecíamos no passado já não existe mais”, afirmou.
Ele detalhou os impactos do aterro hidráulico, os desafios para os usuários e a necessidade urgente de vigilância e informação à população.
A engorda da praia introduziu uma grande quantidade de sedimentos, um processo que Venerando descreve como “um grande aterro hidráulico”. Ele explica que esse material foi depositado para ampliar a faixa de areia, mas trouxe consequências impactantes.
“Esses sedimentos alteraram a morfologia da praia, mudando completamente a forma como ela interage com as ondas, as correntes e as marés. O ambiente que tínhamos antes, com uma profundidade que aumentava suavemente em direção ao mar, deu lugar a uma nova estrutura”, disse.
O geólogo destacou que o impacto dessas mudanças não é imediato, mas progressivo. “O volume de sedimentos afeta diretamente a dinâmica costeira. Com o tempo, essa interação provoca ajustes no ambiente, que tendem a se modificar ao longo dos meses. Estamos lidando com o que eu chamo de ‘praia em construção’”.
Além das alterações físicas, Venerando ressaltou o impacto perceptivo sobre os frequentadores. “As pessoas estão lidando com uma praia completamente desconhecida, o que causa uma certa estranheza. Ondas e correntes mudaram, e a interação com o novo volume de sedimentos está longe de alcançar o equilíbrio”.
O especialista enfatizou que as condições atuais exigem paciência e cautela. “A praia precisa de tempo para que a dinâmica costeira encontre um novo equilíbrio. Até lá, é crucial que os usuários sejam alertados para que não corram riscos desnecessários”.
Nova configuração de Ponta Negra
Com a nova configuração, Ponta Negra apresenta riscos que não existiam antes. “Essa mudança pode causar acidentes graves, inclusive afogamentos, especialmente porque a interação entre correntes e marés está diferente. A gestão pública deveria reforçar a comunicação com a população e aumentar a presença de salva-vidas ou outros métodos de vigilância”, recomendou.
Ele também apontou a importância de campanhas educativas. “Os frequentadores precisam ser informados sobre o que mudou e sobre os cuidados necessários. Não se trata apenas de desfrutar a praia, mas de entender que estamos em um momento de transição. Essa conscientização é vital”.
Venerando rejeitou a ideia de atribuir culpa pelo cenário atual, ressaltando que as alterações fazem parte de um sistema integrado. “Quando você realiza um aterro hidráulico e deposita um volume imenso de sedimentos, é natural que o ambiente costeiro responda. A interação entre o aterro e a dinâmica natural, como ondas, marés e ventos, cria um novo equilíbrio”.
Ele enfatizou que as mudanças devem ser vistas como parte de um processo contínuo de adaptação. “A praia foi transformada, e agora precisamos entender como ela se ajustará a essas intervenções. Esse processo pode levar meses, mas é necessário para que se estabeleça uma nova morfologia estável”.
Por fim, Venerando fez um apelo para que a administração pública priorize a segurança e a informação. “É obrigação da gestão pública alertar as pessoas continuamente sobre essa nova realidade. Mais do que isso, é necessário garantir que o setor esteja equipado para evitar acidentes”.
A mensagem do geólogo é clara: “Estamos diante de uma nova Ponta Negra, e é preciso se habituar a ela. A conscientização e a vigilância são fundamentais para que todos possam desfrutar desse novo ambiente com segurança e tranquilidade”.