Ao contrário do cenário de um ano atrás, a realidade do Rio Grande do Norte atualmente é de tranquilidade em relação à pandemia da Covid-19. Entre dezembro e janeiro, houve um surto de síndromes gripais e um ligeiro aumento de casos de coronavírus no estado. Passado esse período, os dados epidemiológicos são promissores e demonstram a queda de infectados pela doença.
Nesta segunda-feira 11, o RN completou 10 dias sem registrar nenhuma nova morte por Covid-19, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap). O estado também registra a menor taxa de ocupação de leitos, com 10% das UTIs com casos confirmados ou suspeitos de Covid-19. Atualmente a rede dispõe de 80 leitos de UTI e 99 leitos clínicos.
Com a baixa demanda, a gestão estadual agora mantém o processo de reversão de leitos Covid, do sistema público de saúde, para pacientes de outras doenças. Graças aos indicadores positivos, também foi desobrigado o uso de máscaras de proteção em ambientes públicos no dia 16 de março, e em ambientes fechados no último dia 6.
O contexto é animador – na medida do possível – para o médico Geraldo Ferreira, presidente do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed). “Depois de dois anos de muita luta e morte, a pandemia mostra um arrefecimento significativo. Se não podemos dizer que acabou, podemos deslumbrar o seu fim. As variantes que têm aparecido pelo Oriente não têm se mostrado consistentes para manter uma taxa de infecção considerável ao longo do tempo”, pontuou ele, em entrevista ao Agora RN.
“Abre-se uma esperança muito grande de que as coisas possam realmente estar se aproximando do fim. É claro que qualquer coisa na medicina tem que passar pelo teste da experiência, ou seja, é ver para crer, mas os sinais são extremamente favoráveis”, reconheceu o representante do sindicato.
O arrefecimento da pandemia tem em sua base o trabalho persistente dos médicos da Estratégia Saúde da Família (ESF) e de todos que atuaram na linha de frente. A luta sem descanso, que parecia desandar com constância, finalmente aponta para a luz no fim do túnel. “Eles se expuseram significativamente. Nós tivemos no Brasil mil médicos falecidos, e no Rio Grande do Norte 35 médicos morreram”, revelou Geraldo.
Para ele, toda a área de saúde foi heroica, “Os médicos foram colocados como soldados numa guerra e não tinham como ficar em casa aguardando a pandemia passar, pelo contrário, tiveram que lutar pela vida de outros. Sofreram, tiveram cansaço, adoeceram, se deprimiram, morreram. Então realmente ficou uma lição preciosa da importância do trabalho médico”, frisou.
O presidente do Sinmed acredita que os profissionais da saúde contribuíram massivamente nas políticas públicas para o controle da doença nos últimos dois anos, respaldando medidas a serem tomadas, ocupando desde a assistência primária, as UPAs, até as UTIs e os hospitais.
“Por exemplo, médicos idosos voltaram a trabalhar para prestarem assistência porque compreendiam que tinham um papel a executar. Já os médicos jovens tiveram a prerrogativa de receberem a titulação de médico antecipadamente, pois tinham cumprido a carga horária mínima e foram colocados para trabalhar. Todos eles tiveram muita coragem”, reconheceu.
Médicos da ESF foram homenageados pelo Sinmed-RN em evento. Foto: Divulgação
Presidente do Sinmed-RN tece críticas à gestão da pandemia
Geraldo Ferreira aponta algumas observações e críticas à gestão na saúde pública durante a pandemia. “Algumas coisas que nós imaginávamos que pudessem ficar mais consistentes, como a abertura de leitos, a abertura de UTIs e um maior cuidado com a saúde da população não parecem que terão continuidade”, indicou ele.
“Infelizmente, muitos leitos estão fechados e hospitais desativados. Nas vésperas da pandemia, o Estado fechou o Ruy Pereira, o Hospital de Canguaretama… recentemente em Natal, nós tivemos a Prefeitura fechando o Hospital Municipal”, afirmou o presidente do sindicato. Sobre o assunto, a Secretaria Municipal de Saúde argumenta que haverá uma reestruturação na unidade para ampliação de leitos.
Segundo Geraldo, houve a criação de 100 mil empregos na área de saúde durante a pandemia, mas quase todos já foram fechados. “Então, houve recursos, veio muito dinheiro, mas eles não foram aplicados em coisas permanentes. O legado que ficará, infelizmente, é a lição de que a área de saúde precisa ser prestigiada e que seus funcionários precisam ser zelados”.
Na visão do presidente do Sinmed, o poder público coloca a saúde em segundo plano e trata a área como gasto, e não investimento. Por fim, o médico deixa um alerta. “Estamos diante de uma pandemia que começa a dar sinais de que está próxima ao fim, mas nós já estamos vendo as arboviroses voltarem muita força, a dengue na linha de frente das doenças que estão afetando a população e nós mais uma vez estamos vendo que o serviço público não está aparelhado adequadamente para esses enfrentamentos”.