Uma inovadora ferramenta baseada em inteligência artificial desenvolvida por pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais/UFRN) e do Centro de Zoonoses do município de Natal pode revolucionar a maneira como lidamos com a dengue.
Publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, o método tem a capacidade de prever surtos da doença com até seis semanas de antecedência e auxiliar no combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti.
Em entrevista ao AGORA RN, o diretor do Lais, Ricardo Valentim, explicou que a ferramenta foi desenvolvida para aprimorar a vigilância epidemiológica, permitindo antecipar surtos antes mesmo dos primeiros casos serem detectados. Segundo o pesquisador, essa abordagem não só melhora o monitoramento da dengue, mas também pode beneficiar o controle de outras arboviroses.
“A ferramenta surge principalmente para melhorar a qualidade da vigilância epidemiológica com relação à dengue no município de Natal. Mas é importante dizer que, quando você melhora a vigilância para a dengue, também está melhorando para a zika e para a chikungunya. Mas como acontece essa melhoria? Criando um modelo baseado em inteligência artificial preditivo, ou seja, capaz de prever surtos antes das pessoas começarem a adoecer”, afirmou Valentim.
A ferramenta se baseia na análise de várias fontes de dados, incluindo a observação de depósitos de ovos de mosquitos, que utiliza a técnica de armadilhas conhecidas como ‘ovitrampas’. Além disso, fazem parte da análise a contagem dos casos confirmados e internações hospitalares relacionadas à dengue.
O pesquisador afirmou que o modelo de vigilância baseado em inteligência artificial resulta em uma projeção dos depósitos de ovos e da proliferação de mosquitos em Natal. “É uma malha de armadilhas distribuída em toda a cidade, e a cada 300 metros você tem uma armadilha para capturar mosquitos e fazer o monitoramento do depósito de ovos”, disse.
Valentim destacou que a ferramenta está pronta para uso e pode ser uma valiosa aliada no enfrentamento da doença, não apenas em Natal, mas em todo o país.
“A ferramenta já está pronta, foi testada e já tem validação científica. O município de Natal precisando, ele pode utilizar essa ferramenta juntamente com os pesquisadores do Lais. É somente ter a demanda que nós estaremos prontos para ajudar não só o município de Natal, mas os municípios da região metropolitana, do Rio Grande do Norte e de todo o Brasil”, afirmou.
Apesar do avanço proporcionado pela inteligência artificial, Valentim enfatizou a importância das políticas tradicionais de controle da doença, destacando que a nova ferramenta complementa, mas não substitui, os métodos existentes de prevenção contra o mosquito.
“Fortalece a vigilância epidemiológica. Ela não substitui os métodos tradicionais, mas traz mais um recurso, mais uma ferramenta de análise. A gente pode lembrar que a inteligência artificial hoje é utilizada para prever câncer, para o desenvolvimento de novos medicamentos, vacinas, para estudos de políticas públicas de saúde. Então, é uma excelente ferramenta para as autoridades sanitárias”.
Brasil ultrapassa 740 mil casos de dengue em 2024; mortes chegam a 151
O Brasil registrou 151 mortes por dengue em 2024, segundo dado divulgado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira 22. Até agora, o País soma 740.942 casos prováveis da doença, com incidência de 364,9 casos por 100 mil habitantes.
Outras 501 mortes estão sob investigação para saber se existe relação com a doença.
De acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses, Minas Gerais é o estado com o maior número de casos prováveis, tendo 258.194 diagnósticos. Em segundo está São Paulo, com 124.597 casos, depois o Distrito Federal, com 83.284, Paraná, com 75.499 casos e o Rio de Janeiro, com 55.187 diagnósticos prováveis. Os estados de Goiás (45.682), Espírito Santo (24.785) e Santa Catarina (16.662) também apresentam números expressivos de casos.
Ao menos seis estados e o Distrito Federal já decretaram situação de emergência por conta da doença, são eles: Acre, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina, que publicou decreto nesta quinta-feira 22.