Um estudante do curso de ciências econômicas da Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto) é suspeito de desviar R$ 450 mil da conta bancária da república onde morava e exercia o cargo de tesoureiro. A Polícia Civil de Minas Gerais investiga o caso.
A defesa de Ygor Fernandes Araújo, 25, afirma que o universitário sofre de problemas psicológicos e está sob tratamento médico. Diz ainda que o estudante não agiu para se enriquecer ilicitamente e que colabora com as investigações.
A república em que Ygor morava é a Partenon. Os estudantes juntavam dinheiro de contribuição de atuais e antigos alunos e com a realização de festas para comprar uma casa própria, no valor de R$ 390 mil, e fugir do aluguel de R$ 6.000 pagos atualmente, com previsão de reajuste para R$ 8.000.
O presidente da Partenon, Lucas Vinícius Santos Costa, 21, afirmou que a república, além de perder os R$ 450 mil que estavam na conta, acabou ficando também com uma dívida de R$ 65 mil de despesas que foram feitas junto a fornecedores para realização de festa no Carnaval 2023.
É comum em Ouro Preto as repúblicas organizarem festas ao longo do ano para gerarem receita.
Lucas conta que Ygor assumiu o cargo de tesoureiro em 2021. Disse ainda que só tomou conhecimento da falta dos recursos quando advogados do colega entraram em contato, no início de março. “A gente não percebeu que havia desvio. Ele movimentava tudo”, declarou Lucas.
Como de praxe em empresas e associações, as autorizações para movimentação financeira tinham que ser assinadas ainda pelo presidente, que à época era o também morador da república Vinícius José Teixeira Silva, estudante de engenharia mecânica.
Conforme o atual presidente, seu antecessor confiava na atuação de Ygor como tesoureiro. Lucas disse ainda não ter ocorrido fraude, por exemplo, em assinaturas e que a saída do ex-presidente do cargo, há cerca de uma semana, não tem relação com a suspeita de desvio.
Em notícia-crime registrada na 5ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Ouro Preto, assinada por advogados da república, Vinícius relatou que confiou e confiava no então tesoureiro.
Ygor não está mais na república e os colegas não sabem se ele permanece em Ouro Preto.
DESTINO DO DINHEIRO
Análise dos extratos bancários feita pelos moradores da Partenon, depois do contato feito pelos advogados de Ygor, indicaram transferências de dinheiro para contas do tesoureiro e também para plataformas internacionais como Commercegate, Paybrokers, Xcloud, Stark Bank, Safe Pag e Pagsmile, conforme a notícia-crime.
O presidente da Partenon afirmou que Ygor nunca disse estar com problemas psicológicos, conforme alegado pela defesa do estudante. “Pelo contrário, ele sempre estava disponível para comunicação, e em todas as reuniões se mostrava bem para continuar exercendo o cargo”, acrescentou o presidente da Partenon.
Em nota, o escritório de advocacia que representa Ygor afirmou que vai aguarda intimação da polícia.
“Diante da grande repercussão do caso relacionado ao desfalque financeiro ocorrido na república estudantil Partenon, a defesa do estudante apontado como o responsável pelos fatos aguarda a sua intimação sobre os termos da notícia-crime oferecida para, então, apresentar os completos esclarecimentos”, disse o escritório, em nota.
“Para o momento cumpre-nos informar que o estudante se encontra em tratamento médico, em razão de graves problemas psicológicos que o acometem e que, através de seus familiares e advogados, está à disposição da república e da Justiça”, afirmaram os representantes do aluno, no texto.
“Importante destacar que o estudante não agiu deliberadamente para desviar recursos da república e, assim, enriquecer-se ilicitamente. A verdade é que ele, um dos responsáveis por administrar os recursos financeiros da associação, fora acometido por sérios problemas psicológicos, perdendo a aptidão necessária para gerir os valores de modo adequado”, disseram os advogados.
Segundo os representantes de Ygor, informações para esclarecimento do que ocorreu foram repassadas aos integrantes da república.
“Por fim, o estudante, primário e sem quaisquer antecedentes, também informa que, de boa-fé e por guardar interesse no total esclarecimento dos fatos, voluntariamente, repassou aos membros da associação todos os dados necessários para a correta apuração do caso”, escreveram os advogados.
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso, que é tratado sob sigilo. “Vítimas e testemunhas já estão sendo ouvidas e diligências estão sendo realizadas com o objetivo de apurar o caso”, afirma a corporação.
LEONARDO AUGUSTO – BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS)