O professor Venerando Eustáquio, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), afirmou que a drenagem inadequada e a presença de esgoto estão comprometendo a engorda da Praia de Ponta Negra, em Natal. Durante uma live com a deputada estadual Divaneide Basílio (PT), ele destacou que a areia utilizada no projeto está sendo levada de volta ao mar devido à falta de planejamento no sistema de drenagem.
“Quando a água da chuva e o esgoto chegam na praia, a areia que foi colocada com alto custo é rapidamente carregada de volta para o mar pelas correntes”, explicou Venerando. Segundo ele, os problemas estruturais na drenagem da cidade contribuem para esse desgaste. “A cidade inteira sofre com escoamento ineficiente. Quando chove, os bueiros não suportam o volume de água e a praia se transforma em um canal de escoamento, levando consigo a areia da engorda”.
![Esgoto e águas pluviais estão destruindo a areia da engorda, alerta professor da UFRN PÁG 7 Cidades Engorda Ponta Negra (1)](https://agorarn.com.br/files/uploads/2025/02/PAG-7-Cidades-Engorda-Ponta-Negra-1-830x468.png)
O professor relatou que, em 2012, já havia alertado sobre a necessidade de melhorias na drenagem antes da obra. “Encontramos cerca de 33 pontos de lançamento de esgoto e águas pluviais diretamente na praia. Isso já indicava um problema sério que, se não fosse resolvido, comprometeria qualquer intervenção na orla”, afirmou.
A drenagem inadequada também agrava a erosão. “O impacto da água sobre a areia solta cria um processo de afundamento, facilitando a remoção do material pela força das ondas. O esgoto misturado à água da chuva piora a situação, porque os resíduos alteram a composição da areia e reduzem sua capacidade de fixação”.
Venerando destacou que os efeitos do avanço do mar já eram perceptíveis antes da engorda. “A Praia de Ponta Negra já não existia como praia na maré alta. Nos últimos anos, a força das ondas aumentou e atingiu até embarcações que antes ficavam protegidas pelo Morro do Careca”.
![PÁG 7 Cidades Engorda Ponta Negra (1)](https://agorarn.com.br/files/uploads/2025/02/PAG-7-Cidades-Engorda-Ponta-Negra-1-1024x678.jpg)
O professor também mencionou a ausência de estudos de impacto ambiental na jazida de onde a areia foi retirada. “Era fundamental que houvesse um monitoramento mais detalhado sobre o impacto da retirada desse material no ambiente marinho. Além disso, a compatibilidade da areia utilizada com as condições naturais da praia deveria ter sido mais bem analisada”.
SEGURANÇA E MONITORAMENTO
Sobre os efeitos da obra, Venerando Eustáquio ressaltou que a engorda trouxe alterações na dinâmica das ondas, o que exige um reforço na segurança dos banhistas. “O Corpo de Bombeiros precisaria aumentar a presença na área, pois o perfil da praia mudou e já foram registrados problemas com banhistas sendo arrastados por correntes inesperadas”.
![PÁG 7 Cidades Engorda Ponta Negra Prof UFRN](https://agorarn.com.br/files/uploads/2025/02/PAG-7-Cidades-Engorda-Ponta-Negra-Prof-UFRN.png)
Ele defendeu que o monitoramento da engorda seja contínuo e transparente. “Precisamos de um comitê que acompanhe as mudanças na praia e tome decisões baseadas em dados técnicos. Os erros já cometidos não podem ser repetidos, e a população precisa ter acesso a todas as informações”.
A deputada Divaneide Basílio reforçou a necessidade de ação imediata para conter os danos à engorda. “A drenagem inadequada e o esgoto são problemas estruturais que precisam ser resolvidos antes que toda a areia da engorda seja perdida. O debate sobre Ponta Negra deve envolver todos os setores, incluindo academia, gestão pública e sociedade civil”.
O professor concluiu alertando para o risco de que outros trechos da orla de Natal enfrentem problemas semelhantes. “Se não houver mudanças na forma como gerimos nossas praias, veremos situações semelhantes na Praia do Meio, na Praia dos Artistas e em outras áreas urbanas. Precisamos aprender com os erros e planejar melhor as intervenções futuras”.