A pesca artesanal é um patrimônio – e uma luta. No documentário “Julião, Filhos da Praia”, a diretora Mônica Mac Dowell retrata os saberes e tradições dos pescadores da Comunidade do Reduto. A obra estreia na próxima terça, 5 de novembro, no 17º Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF) e é uma das indicadas ao prêmio de Melhor Curta Metragem.
Nas palavras da diretora, “documentar uma comunidade exige uma profunda empatia e capacidade de escuta para entender as nuances das histórias que se deseja contar”. Não à toa, o filme apresenta com delicadeza o cotidiano e as histórias dos pescadores da praia de Tourinhos em São Miguel do Gostoso, abordando seu empenho pela preservação cultural em meio às pressões da modernidade e urbanização.
Resgatando histórias da família Julião, com Seu Luiz e Seu Dadá, os pioneiros das barracas da praia de Tourinhos, além de dona Lourdes, Francisco, Luquinha e outras figuras importantes da prática de pesca artesanal na praia, como Seu Duda e Seu Manoel, as imagens se apresentam de forma perscrutante, íntima e suave. Elas cochicham e sussurram histórias, como uma espécie de metáfora da voz do mar, e estabelecem um diálogo contínuo entre personagens, diretora, praia e o mar de Tourinhos. Assim como os outros dois filmes da Trilogia do Reduto, Julião teve sua captação feita com celular e levou aproximadamente dois anos para ser concluído. “Dessa forma, tive a oportunidade de vivenciar com intimidade o dia a dia dos personagens num ambiente de tranquilidade e confiança”, comenta a documentarista.
Situada em São Miguel do Gostoso, um dos principais polos turísticos do Rio Grande do Norte, a obra reflete sobre os impactos da modernidade e da urbanização nas tradições locais, trazendo à tona a riqueza da cultura dos pescadores artesanais e suas famílias, que enfrentam as incertezas de um futuro em transformação.
Assista ao trailer de “Julião, Filhos da Praia” AQUI.
Trilogia do Reduto
“Julião, Filhos da Praia” (2024), é a conclusão da Trilogia Poética sobre a Comunidade do Reduto, em que Mônica Mac Dowell registra sua ampla admiração e seu profundo respeito pela resiliência, dignidade e fé dos moradores da região. O projeto discorre sobre a preservação de patrimônios materiais e imateriais da comunidade e a trajetória de personagens que fazem parte da história local. A diretora afirma que “a convivência com todos os personagens retratados foi muito especial e enriquecedora. A resiliência, dignidade e determinação deles sempre me emocionava”.
O primeiro filme, “Rosa de Aroeira”, destaca a força feminina da comunidade e foi exibido em mais de 40 festivais nacionais e internacionais, incluindo o LABRFF (Los Angeles Brazilian Film Festival) em 2020. Já o segundo filme, “A Deus Querer”, que aborda a história de Seu Dadá, enfatizando com sensibilidade sua relação com o trabalho e a chuva, estreou no Festival Internacional de Cine Documental Del Uruguay – AtlantiDoc em 2022, circulando por diversos festivais ao redor do mundo.
Com estreia no 17º Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF), “Julião, Filhos da Praia” se posiciona em uma importante plataforma de visibilidade para cineastas brasileiros, que promove a exibição de filmes com foco em retratar a diversidade cultural, social e artística do Brasil. Assim, a obra se aprofunda ainda mais em seu objetivo principal de enfatizar a importância da preservação dos diversos patrimônios culturais da comunidade potiguar e seus guardiões: o bordado de labirinto, o fazer da farinha e da goma de mandioca, a pesca artesanal, o canto de aboio, temas abordados nos três filmes da Trilogia do Reduto.
Sobre a diretora
Mônica Mac Dowell é produtora cultural e documentarista. Através da Green Point Produções, da qual é fundadora, tem impulsionado e valorizado os talentos locais do Rio Grande do Norte. Domiciliada em Natal desde 1990, há 7 anos frequenta a comunidade do Reduto. Assim, com o estabelecimento de relações de confiança com os membros da comunidade local, deu início à produção de suas obras focadas na preservação da cultura e do patrimônio imaterial do litoral do Rio Grande do Norte.
“O meu processo documental é bastante peculiar”, explica Mac Dowell. Aplicando o ideal de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, Mônica se aproximou da realidade das trabalhadoras da Casa de Farinha, das labirinteiras e das mulheres de um modo geral, registrando seus cotidianos e dando início ao primeiro filme da Trilogia do Reduto: o curta-metragem “Rosa de Aroeira” (2020), premiado no LABRFF. “Com essa trilogia tive uma jornada intensa e rica em aprendizados, o que reafirmou a importância de me conectar com os personagens e suas realidades antes de retratá-los”, finaliza.