As Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Natal, que possuem o objetivo de oferecer serviços de atenção básica e hospitalar aos pacientes que buscam atendimento, têm gerado debate entre a população sobre a qualidade dos serviços.
Pacientes reclamam de superlotação, tempo de espera longo para atendimentos e resultados de exames, e até de descaso e irresponsabilidade da equipe médica das UPAs. Já em outros locais, as pessoas que procuram ser atendidas argumentam que, mesmo com muita demora, conseguem ter um suporte de qualidade.
A equipe do AGORA RN foi até as UPAs dos bairros de Cidade Satélite e Cidade da Esperança para ouvir os relatos da população que frequenta as unidades. Em Cidade Satélite, a unidade que oferece serviços de saúde na Zona Sul da capital divide opiniões sobre qualidade de atendimento e, principalmente, sobre longas esperas.
Já na UPA da Cidade da Esperança, que recebeu uma ala pediátrica há menos de um ano, pacientes reclamam de descaso, atendimento precário e demora na execução dos serviços propostos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). (*Sob supervisão de Nathallya Macedo).
UPA CIDADE SATÉLITE
Ingrid Furtado, 28 anos, coordenadora administrativa, moradora de Planalto
“Tem dias que a gente encontra uns enfermeiros e médicos bem atenciosos, mas tem dias que parece que todo mundo veio com raiva também. Quarta-feira passada eu estive aqui com meu irmão, a gente chegou aqui era cinco e vinte da tarde e ele foi ser atendido ia dar onze horas da noite. A dificuldade é a quantidade de pessoas trabalhando, realmente, porque é pouca gente [na equipe] e quando acontece essa época que dá muito surto de gripe, aí parece que tem menos gente mesmo para atender. Era bom fazer um concurso para admitir mais pessoas, mais médicos, mais enfermeiros. Os médicos também devem fazer os plantões de forma correta, né? Porque eu sei que tem muitos que não cumprem horário e que não chegam no horário, aí também dificulta para a população que depende do SUS. Mas, em compensação, tem horas que a gente chega aqui e é bem melhor atendido que se fosse por um hospital particular”
Vanelli Fernandes, 41 anos, recepcionista, moradora de Nova Parnamirim
“Pelo menos para a minha filha está normal. Agora, para adulto não dá não. Para criança é rápido. A dificuldade é os poucos médicos, geralmente quando eu venho só tem dois pediatras, hoje foi até rápido porque não tinha muitos pacientes, mas para adulto tem pouco médico também e não tem agilidade para saírem os resultados dos exames”
Mara Cavalcante, 31 anos, auxiliar de cozinha, moradora de Lagoa Nova
“Em geral, eu amo essa UPA, porque a da Cidade da Esperança nem se fala, mas a única coisa que eu não gosto é em relação aos médicos, na pediatra, porque eu vejo que tem muitos médicos que, para eles, é só um emprego aqui na UPA e pronto, só olham para a cara do seu filho. Minha filha adoeceu ontem, o médico olhou para a cara dela, deu um antialérgico e eu tive que trazer minha filha de novo. Eu queria que reforçasse, eu não sei se é um uma pós-graduação melhor antes de virem para uma unidade ou passar por uma assistente social, porque é como se eles não tivessem amor pela medicina pediátrica, entendeu? Mas até agora quando eu venho tem tudo, só o que eu não gosto mesmo é em relação aos médicos, pois tem uns que, às vezes, só dá um remédio e pronto; ficam jogando a pessoa de um lado para o outro e é isso. A demora também, eu já deixei de ir duas vezes porque demorou muito e sempre está aglomerado. Hoje está calmo, mas da outra vez que eu vim estava horrível isso aqui”
Djailson Garcia, 43 anos, auxiliar de serviços gerais, morador do Planalto
“Quando acontece alguma coisa eu venho para cá. A da Cidade da Esperança o atendimento é muito demorado lá, mas na questão da qualidade eles atendem direitinho, mas a maior dificuldade é a espera. Fui atendido aqui e esperei uma hora e dez minutos, então demora muito e dependendo do motivo pelo qual a pessoa vem pode até acontecer algo pior”
Anny Beatriz, 19 anos, jovem aprendiz, moradora de Ponta Negra
“O atendimento é péssimo, estou doente e sem conseguir falar, tendo febre. O médico me passou um remédio e disse que não podia nem me dar um atestado. No caso, eu perdi um dia de trabalho já que vim do meu trabalho para cá. Demorou muito e, além de demorar, não atendeu o que devia. Aqui falta médico e falta a educação dos médicos; podiam trocar os médicos porque eles são muito mal educados”
UPA CIDADE DA ESPERANÇA
Williane de Medeiros, 32 anos, diarista, moradora da Cidade da Esperança
“O tempo de espera é muito, na maioria das vezes. Eu creio que tem poucos funcionários e tem muitas crianças doentes e adultos também. Nos exames, eles fazem o exame e a gente passa de duas a três horas para receber, mas pelo menos eles não deixam de colher. E a demora para receber é grande”
Gustavo César, 28 anos, vistoriador, morador de Cidade Nova
“Geralmente, quem vem com minha filha é a minha esposa. Hoje eu fui super bem atendido, mas quando minha esposa vem ela sempre reclama que tem poucos médicos e muita gente. O tempo de demora foi tranquilo na pediatria, assim que cheguei fui atendido. Já os exames demoram umas duas horas. E a Prefeitura deveria dar mais atenção a equipe médica, se fosse assim eles iam atender melhor a população. Eu acho que não tem tantos médicos por causa da Prefeitura”
Gisele Acioly, 22 anos, dona de casa, moradora da Cidade da Esperança
“Aqui eu acho péssimo e acho muito desinteresse dos médicos. Não sou bem atendida, a gente tem que insistir muito para eles poderem passar o básico. Venho mais pela minha filha, mas acho que podia ter mais aparelhos para fazer exames porque aqui, por exemplo, se uma criança bateu a cabeça na escola não vai ter um aparelho para fazer a radiografia. Tem essa falta de equipamento e o tempo de atendimento e de exame é sempre demorado”
Joilson Bonfim, 40 anos, pedreiro, morador de Guarapes
“Vim aqui com minha sogra que está nesse estado aí já tem muito tempo e quando a gente entrou lá [na recepção] o porteiro passou duas pessoas na frente para depois mandar atender ela. E ela está debilitada, com o osso da espinha fora do lugar, o osso da bacia está colado, com as pernas inchadas então ela não tem firmeza nas pernas para andar e foi maltratada. É sempre assim essa UPA, não muda nada. Os médicos atendem uma pessoa, sai e se passa meia hora e chama o próximo, assim vai indo. A pessoa chega aqui de manhã e vai sair daqui só de três horas da tarde. E ainda faltam médicos na sala”
Lauroana Pereira, 22 anos, dona de casa, moradora do Planalto
“Estou de acompanhante, mas se depender de mim eu não venho, porque o atendimento daqui sempre foi ruim. Até hoje, que eu saiba, quando a gente vem com alguém preferencial tem vez na frente, mas hoje falaram que não tinha, disseram que só com urgência que entrava na frente. Sempre espero muito [para ser atendida] e o maior problema é essa falta de responsabilidade dos médicos. Não consigo nem explicar a situação dessa UPA aqui”