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Desabafo
Amiga íntima, Mônica Martelli diz que ‘Paulo Gustavo foi traído’, assim como quase 500 mil brasileiros
Um mês após a morte do humorista por Covid-19, atriz fala da saudade do amigo, do luto e faz desabafo indignado sobre a conduta do governo Bolsonaro na pandemia: 'A CPI está comprovando o que a gente já sabia'
O Globo
04/06/2021 | 11:55

A imagem de Mônica Martelli com os olhos marejados segurando cartaz em homenagem a Paulo Gustavo no ato contra o governo Bolsonaro, sábado passado 29, emocionou muita gente e se espalhou pelas redes. Em luto pela perda do amigo, que morreu de Covid-19 há um mês, a atriz conta que foi à Avenida Paulista movida pela revolta e que está acompanhando de perto a CPI da Pandemia .

Mônica Martelli no protesto contra o governo Bolsonaro, na Avenica Paulista: ‘Quando eu abri uma faixa, o povo aplaudiu e eu comai a chorar’ Foto: Reprodução Instagram de Mônica Martelli

Qual a importância de ter ido à manifestação?

Foi muito importante para mostrar que o país é nosso, que as ruas e a luta são nossas. Para mostrar nossa vontade de mudar. O que me motivou a ir para a rua foi a causa que envolve a morte de Paulo Gustavo, um jovem de 42 anos, sem comorbidade, que tinha muito medo de pegar Covid e respeitava todas as determinações sanitárias, cientificamente comprovadas, e o distanciamento.

Paulo Gustavo foi traído junto com quase 500 mil brasileiros com a omissão das políticas sanitárias do governo federal. Me senti cumprir uma missão, de levar o que representou a vida de Paulo Gustavo, o amor, para o povo. Senti que estava participando de uma marca da certa virada e acho que estava.

Na hora que eu abri uma faixa, o povo em volta começou a aplaudir, eu comecei a chorar. Pensei: “Meu Deus, estou aqui em nome do meu amigo que morreru de uma doença para a qual já existe vacina. Bastavam duas doses!”. O Brasil poderia ter sido o primeiro país a começar a vacinar, a gente tinha milhões de vacina no Butantan esperando …

Está acompanhando um CPI? Ela ganha outro sentido para você, que teve uma perda pessoal dessa magnitude? Pensa: ‘Se essas vacinas tivessem chegado mais cedo … “?

Não consigo parar de pensar, em certas vidas ter sido salvas. A CPI está comprovando o que a gente já sabia. Penso na minha dor, vem a indignação, mas junto com a esperança de que, através dessa constatação da CPI, pode haver, realmente, uma mudança. O Brasil está assistindo um mar de horrores.

Um mês depois da morte do Paulo Gustavo, como você está?

A caminhada não é linear e é de muitos sentimentos. Há momentos de boas lembranças e de tristeza profunda, de chorar pela perda, por não ter mais aquela genialidade ao meu lado. O Paulo Gustavo era que nem criança, brincava, se divertia o dia inteiro e sempre sendo genial. Ele nunca perdeu o prazer da descoberta, e isso era lindo.

O que eu sinto mais saudade é aquele amigo que dividia a vida comigo. Porque sei que a obra dele está aí e vai ficar para todo mundo. Mas o amigo me ligava o tempo eu não tenho mais. Ele interferia na minha vida de diversas formas. Toda quarta-feira, um pessoal criado Facetime para escolher a roupa do “Saia Justa”. Semana escoltahi uma toda roxa e já imaginei ele falando: “Amor, o que é isso, halloween?”.

Mônica Martelli veste jaqueta de Paulo Gustavo: ‘Um dia, ele me abraçou com ela e me espetou toda. Reclamei. Aí, ele deixou comigo para eu trocar os espetos por tachinhas. Mas não deu tempo … ‘Foto: Vitor Lisboa

Ele afetou tanto a minha vida que vai me conduzir para sempre. Tive o privilégio de ter essa relação íntima com ele, um encontro que vai me alimentar até o fim. A gente está falando de um homem com uma personalidade forte do Paulo Gustavo, que afetou todo o mundo que passou pela vida dele. E também a de todos os brasileiros, com a sua arte. É um vazio gigantesco.

Já dá para ir ficando amiga da saudade ou o sentimento de revolta pela perda ainda é maior?

O sentimento de dor e indignação é o que me comanda hoje. Ainda não consigo lembrar dele sem dor. Faz um mês e ainda me dói porque todos os dias a gente se depara com perplexidades. Acordo e digo: “Não é possível!”.

Não estou me cobrando sair do lugar da tristeza. Acho cruel a sociedade importante o tempo inteiro para a gente esse positivismo. A gente não é alegre nem otimista o tempo todo, tem que dar espaço para viver o luto. O melhor dos mundos vai ser lembrar dele sem dor, aí você estar no caminho da cura do luto, da aceitação. Mas estou longe disso ainda.

Qual é a importância do riso em meio ao processo do luto Está conseguindo riri?

O riso faz parte do luto em alguns momentos. Vem quando um amigo lembra algo engraçado. Quiano o riso vem, é acolhido e valorizado. Ele te eleva, te põe em outro patamar, te cura. Mas não estou buscando “ah, tenho que rir para sair do luto”.

Foram poucos os momentos em que ri desde o que aconteceu com o Paulo ( Mônica tem dificuldade em dizer que o amigo morreu ). Acho que não dá para forçar o riso, esse lugar da alegria. Quando ele vem, é acolhido e valorizado, mas não estou buscando ‘ah, tenho que rir para sair do luto’.

Os amigos estão preparando alguma homenagem?

O que ainda não podemos fazer por causa da aglomeração. É uma grande homenagem no teatro, onde ele se fez, onde colocou a arte dele para fora e apresentadores para várias famílias conservadoras que família é amor e aceita. Ele fez isso com a Dona Herminia e com o casamento com o Thales. Mudou muitas famílias através do riso e da arte.

As pessoas permanecem vivas através da memória dos que conhecidos. Pode contar uma história boa com o Paulo?

A gente chegou a escrever metade de uma peça para estrear no fim da pandemia. Seria a nossa primeira vez no palco juntos. Tem uma cena em que ele treinava como seria a conversa quando fose conhecer Beyoncé, que era o foco da vida dele. Eu dizia: “Paulo tem que ser em três etapas. Na primeira, você joga uma conversa aleatória, tipo” como está o tempo “; na segunda, uma coisa mais legal ; e, na terceira, aprofunda com algo mais inteligente para ela sentir interesse e se agarrar em você para sempre. E ele: “Amor, como faço isso em inglês, se tenho dificuldade até em português?”. Paulo começou a fazer inglês só para conhecer Beyoncé.

Outro dia, ele me ligou do celular de Thales ( marido de Paulo Gustavo ) dizendo: “Amor, me salva! Acabei de entrar numa live e sabe que as pessoas têm? Eu!”. Era o filho de uma amiga dele .. Queria que eu entrasse na live para ele sair …

Ele também adorava me imitar e eu amava ser imitada por aquele gênio. Ele pegava umas particularidades …

Tem encontrado o Thales e as crianças?

Viramos uma família. Eles passaram o meu aniversário comigo ( sem últimoimdo dia 17 ). Vieram ficar comigo em São Paulo e foi muito importante. A única forma de atravessar esse aniversário, não seria possível se não fosse na companhia deles. Estamos dividindo a mesma dor, a gente chora quando está com vontade, ri, se fala todos os dias, vai se apoiando, segurando a onda um do outro. Foi muito forte estar com Romeu e Gael, era como se o Paulo Gustavo estivesse comigo. Ele era muito apaixonado por esses filhos. Antes de ser intubado, no hospital ele disse: “Tento nem pensar nas crianças de tanta saudade que estou deles”.

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